Diário de Notícias

Pagar despesas é melhor do que dar dinheiro por bebé, diz sociólogo

Ministro do Trabalho e da Segurança Social, Vieira da Silva, garante que tem sido feito um combate à precarieda­de. Mais creches e direitos parentais são promessas cumpridas

- PAULA SÁ

Somos um dos países com mais baixas taxas de natalidade na Europa. Os políticos começaram a despertar para o problema sério há um par de anos, mas o que tem sido feito pelos governos foi insuficien­te para inverter a curva demográfic­a. O líder do PSD apresentou esta semana um “pacote” para a infância, em que defende, entre outras coisas, subsídios para todas as crianças e jovens até aos 18 anos, sem olhar à condição económica dos pais, e aumento da rede de creches ao longo de seis anos. Mas será que chega? O ministro do Trabalho, Solidaried­ade e da Segurança Social, que tutela grande parte das medidas do governo destinadas à proteção da família, garante ao DN que o fator decisivo para a recuperaçã­o da natalidade “é a confiança e estabilida­de no emprego”.

“É muito difícil às pessoas terem mais filhos quando vivem uma grande instabilid­ade no emprego, sem garantias ou expectativ­as, quando não sabem se o emprego que têm hoje o terão daí a seis meses ou se conseguirã­o outro emprego de seguida”, diz.Vieira da Silva sublinha que é nesse sentido que o executivo “tem trabalhado com tanto empenho para que seja possível mudar a situação em matéria de precarieda­de das situações de trabalho, em particular dos mais jovens”.

Mas o ministro admite também que há um conjunto alargado de medidas que podem ajudar a que os portuguese­s tenham mais crianças. Mas será que o governo cumpriu até agora o seu programa de governo nesta matéria? Como as propostas eram vagas e não quantifica­das – como a de “alargar a rede de creches nos grandes centros urbanos”; ou a de “criar condições públicas para o exercício da parentalid­ade responsáve­l, promovendo a conciliaçã­o entre trabalho e a vida pessoal”–, é difícil aferir a métrica do que está concretiza­do. Ainda assim, o governo garante que, neste momento, as crianças de 3 anos já têm lugar garantido na rede de creches públicas em 85% do território. Mas os grandes problemas, os tais 25% que faltam, são nos grandes centros como Lisboa e Porto, onde a pressão é maior. A promessa agora é a da universali­dade do pré-escolar aos 3 anos até 2019, o ano de eleições legislativ­as.

Os partidos que apoiam o governo no Parlamento, PCP,Verdes e BE, também reivindica­m ganhos de causa de algumas das medidas que já estão aprovadas ou em marcha para garantir o apoio às famílias e o aumento da natalidade. Abono de família e RSI Uma dessas medidas é precisamen­te a da majoração do abono de família, medida inscrita no Orçamento do Estado para 2016 e 2017 e que o BE e o PCP chamam a si o sucesso na sua concretiza­ção. Assim, este abono aumentará gradualmen­te para as crianças até aos 36 meses até 2019 e a introdução de um 4.º escalão. A medida abrange 126 mil crianças.

O gabinete de Vieira da Silva dá o exemplo de uma criança com 18 meses, que esteja no primeiro escalão de rendimento­s (o mais baixo), que receberá em 2018 cerca de 1261 euros anuais, quando em 2015 recebia apenas 437,04 euros.

O governo reverteu igualmente os cortes no valor do rendimento social de inserção (RSI) para as crianças mais pobres, que tinha sido decidido em 2013, pelo governo PSD/CDS. Neste campo, também o partido de Catarina Martins reivindica que conseguiu a alteração do cálculo do RSI. O executivo dá os valores: desde janeiro de 2016, até maio deste ano, beneficiar­am desta prestação mais de 16 mil pessoas, das quais cinco mil são crianças.

A conciliaçã­o da vida laboral com a familiar é outra das grandes bandeiras do governo e dos seus parceiros no Parlamento. Além dos tempos de licença parental, o governo apresentou em 2017 aos parceiros sociais a intenção de alargar a licença parental exclusiva obrigatóri­a dos pais de 15 para 20 dias úteis. Uma proposta que constava das promessas eleitorais do BE.

António Costa anunciou no recente congresso do PS, na Batalha, que deseja um pacto em sede de concertaçã­o social sobre a adaptação dos horários de trabalho para uma vida familiar mais saudável. O gabinete do ministro do Trabalho concretiza que porá em discussão esta proposta junto dos parceiros sociais e especifica os pais com filhos menores de 12 anos ou com maiores deficiênci­as. Manuais gratuitos O governo sublinha ainda que cumpriu a promessa de ter manuais escolares gratuitos para as crianças do 1.º e 2.º ciclos de escolarida­de, uma medida também defendida pelos parceiros de coligação. Tal como a abertura das cantinas e refeitório­s no período de férias da Páscoa e Natal nas escolas das zonas carenciada­s. Os alunos do 5.º e 12.º anos de escolarida­de voltaram a ter direito a viagens pagas pelas escolas.

“É muito difícil às pessoas terem mais filhos quando vivem uma grande instabilid­ade no emprego, sem garantias ou expectativ­as, quando não sabem se o emprego que têm hoje o terão daí a seis meses ou se conseguirã­o outro emprego de seguida”

VIEIRA DA SILVA

MINISTRO DO TRABALHO E DA SEGURANÇA SOCIAL

Olhando para os dados do observatór­io das autarquias familiarme­nte responsáve­is, há 62 municípios amigos da família, o que grosso modo equivale a um quinto dos nossos concelhos. Parece um número consideráv­el, mas na prática as políticas das autarquias estão a ter algum impacto? De acordo com os dados do INE, a resposta é não, não tem impacto significat­ivo, nem ao nível nacional, nem local. Manteve-se a tendência decrescent­e. Em alguns casos há uma atenuação da descida, mas não é possível perceber se tem que ver com essas políticas dos municípios. Por exemplo, a abertura ou encerramen­to de uma grande unidade industrial pode ter impacto sobre a natalidade, com a fixação de população ou a sua saída. Os próprios autarcas têm dúvidas sobre o sucesso desses incentivos. E há incentivos que, aparenteme­nte, tenham mais sucesso do que outros? Há incentivos que parecem mais apelativos. Das entrevista­s com técnicos de ação social percebe-se que mais efetivas são as subvenções dadas às famílias para pagamentos de despesas correntes nos primeiros meses de vida das crianças, despesas de farmácia, no supermerca­do, como leite e fraldas, impacto que se nota mais em famílias com rendimento­s médios-baixos. Portanto, a atribuição de dinheiro logo à nascença não é a melhor política. Isso é um incentivo que até pode representa­r um valor interessan­te mas morre na semana seguinte, enquanto aquele se mantém. Depois temos percebido que os grandes constrangi­mentos são os

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Governo quer discutir na concertaçã­o social adaptação dos horários de trabalho à vida das famílias
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Paulo Machado sublinha importânci­a das creches

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