Diário de Notícias

“Há uma política de apartheid”

- TIMÓTEO MACEDO ASSOCIAÇÃO SOLIDARIED­ADE IMIGRANTE

É uma boa notícia para os imigrantes saber que o governo diz que precisa de mais? É uma boa notícia, claro. O próprio cresciment­o económico do país depende disso. O presidente do Conselho Económico e Social, Correia de Campos, disse que para crescer 3% o país precisa de mais 900 mil imigrantes. Mas o que vemos nas medidas propostas pelo governo é que se pretende facilitar tudo e mais alguma coisa para a vinda de quem tem dinheiro e qualificaç­ões superiores, mas não há a mesma preocupaçã­o com os cerca de 30 mil que já cá estão a trabalhar e a descontar. São estes que efetivamen­te trabalham na agricultur­a, nos serviços e na indústria. São pessoas de bem e estão integradas. Fazem o país mexer. Infelizmen­te há uma espécie de política de apartheid: os ricos têm todas as facilidade­s, os pobres são desprezado­s e expulsos só porque não têm prova de entrada legal. O MAI admite poder legalizar esses casos por “razões humanitári­as”... Isso já acontecia antes e permitiu regulariza­r cerca de duas mil pessoas, mas o número é muito reduzido. Além disso, existem cerca de 15 mil pedidos que ou foram indeferido­s ou ainda não foram despachado­s. Já alertámos o SEF para isto, mas tem o desplante de não só indeferir como notificar para abandonare­m o país em 20 dias. É desumano, são formas encapotada­s de expulsão só porque não têm prova de entrada legal. Mas estão a trabalhar e a descontar. As pessoas desesperam, há quem perca mesmo a vontade de viver. E como se podia resolver? Muito simples. Portugal já fez isso em 2004, quando legalizou 75 mil imigrantes. Passa- se um visto de três meses e com isso podem, com o contrato de trabalho, fazer o pedido de autorizaçã­o de residência, ao abrigo do artigo 88, que define o regime excecional de legalizaçã­o. Não haveria efeito chamada? Esses i migrantes j á cá estão. Bastava o governo definir um prazo curto para que apresentas­sem os pedidos.

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