Diário de Notícias

Consumo de cocaína está a subir em Portugal

Análises a águas residuais de Lisboa confirmam tendência de aumento do acesso a esta substância. Observatór­io alerta para aumento da produção de drogas na Europa

- C A R LO S F E R RO

O consumo de cocaína em Portugal está a aumentar, principalm­ente em Lisboa e no Porto, comportame­nto que acompanha a tendência europeia denunciada pelo Observatór­io Europeu da Droga e Toxicodepe­ndência ( OEDT) no seu relatório anual. Neste documento, é ainda referido que a substância atingiu o seu maior grau de pureza na década em 2016. Um outro dado destacado é o facto de mais de 90 milhões de pessoas já terem experiment­ado uma droga ilícita e de 1,3 milhões terem recebido tratamento por consumo.

Do relatório divulgado ontem sobressaem ainda os alertas para o aumento da produção de drogas no espaço europeu – no caso desta análise são incluídos os 28 países da União Europeia, a Turquia e a Noruega – devido ao facto de as redes de tráfico estarem a aproveitar a livre circulação no continente, tal como o acesso mais fácil à substância­s químicas necessária­s para o processo de transforma­ção de cocaína, a produção de ecstasy ou de metanfetam­inas.

“A análise às águas residuais nas cidades portuguesa­s [ Lisboa, Porto e Almada, documento divulgado em março] mostra um aumento de consumo de cocaína”, adiantou ao DN João Goulão, diretor- geral do Serviço de Intervençã­o nos Comportame­ntos Aditivos e nas Dependênci­as ( SICAD).

Este responsáve­l confirma a existência de uma maior pressão de venda deste produto devido à subida do cultivo de coca e produção de cocaí- na na América Latina. Em Lisboa, as amostras foram recolhidas na Estação de Tratamento de Águas Residuais de Alcântara, que serve a maior zona de lazer da cidade: o Bairro Alto. Por isso, considera que a subida dos valores ( 271 miligramas diárias por mil habitantes em 2017, quando no ano anterior tinha sido de 258 mg) mostra que há “uma maior disponibil­ização de cocaína” no mercado. Ainda referindo- se à realidade nacional ( dados de 2016), frisa que tem crescido o número de consumidor­es, principalm­ente de heroína e canábis, em tratamento – 3200, num total de 27 mil. Um kit para combater overdoses Num cenário em que a cocaína é o estimulant­e ilícito mais utilizado na Europa ( 2,3 milhões de jovens com idades entre os 15 e os 34 anos consumiram no último ano), há outra questão que preocupa os responsáve­is europeus: as overdoses, especialme­nte com opiáceos, que ultrapassa­ram as nove mil. No caso português, em 2016 morreram 27 pessoas, uma descida comparando com as 40 mortes em 2015 e as 33 no ano anterior. Numa tentativa de evitar mais mortes, o SICAD aguarda a autorizaçã­o do Infarmed – Autoridade Nacional do Medicament­o e Produtos de Saúde para a disponibil­ização às equipas de rua de um spray nasal com naloxona, substância que deve ser ministrada em caso de suspeita de sobredosag­em. “É mais fácil de usar, não precisa de ser por pessoal técnico. No futuro até se pode prescrever às próprias famílias dos consumidor­es para poderem atuar”, sublinhou João Goulão. Canábis é a mais consumida O documento do OEDT refere que a canábis continua a ser a droga ilícita mais consumida e que a instituiçã­o está atenta às alterações legislativ­as em discussão relativame­nte ao consumo deste produto na Europa – João Goulão diz ver com satisfação a discussão na Assembleia da República da utilização da canábis com fins medicinais, propostas do Bloco de Esquerda e do PAN, separando da parte recreativa. “Temos tudo a ganhar com a separação”, conclui.

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João Goulão, diretor do SICAD, confirma o aumento do consumo de cocaína

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