Diário de Notícias

Amigos e paroquiano­s esperam que a Polícia Judiciária deslinde o caso

- PAU L A S OFI A LU Z

Entre a aldeia de Lavegadas, onde nasceu, na freguesia de Monte Redondo, e a paróquia de Maceira, no mesmo concelho de Leiria, paira o mistério em torno da morte do padre Marco Brites, que hoje vai a sepultar.

Desde que um pescador encontrou o corpo, na quase inacessíve­l praia das Valeiras ( perto de São Pedro de Moel), na manhã de quarta- feira, que sobram dúvidas aos amigos e familiares. E à polícia também.

“O cadáver não apresentav­a qualquer lesão, tão- pouco a roupa se encontrava rasgada”, disse ao DN fonte da Polícia Marítima, que o recolheu. Nessa altura ainda não se sabia que o corpo caído no areal era de Marco Paulo da Silva Brites, 38 anos feitos a 15 de abril, ordenado padre em 2007 e desde 2016 responsáve­l pela paróquia de Maceira. Foi lá, entre a casa paroquial e a igreja matriz, que terá sido visto pela última vez, na noite desta terça- feira, 5 de junho, “a conversar com outra pessoa”, como garantem testemunha­s. E desde essa altura que mais ninguém o viu, embora ainda se consiga seguir- lhe alguns passos. Nessa mesma noite, faltou ao primeiro dos compromiss­os que tinha agendados e não apareceu numa reunião com o agrupament­o de escuteiros 762, da localidade, de que era assistente. Enviou um sms a avisar que não poderia estar, por se encontrar “a resolver um assunto delicado”.

“Como qualquer um pode ter um imprevisto, ninguém estranhou”, conta um dos membros do grupo. O mesmo não aconteceu na manhã seguinte, quando a sacristã Maria deu conta do irregular atraso do padre, para a bênção dos doentes no lugar do Arnal.

“Quando a encontrei, estava farta de lhe ligar para o telemóvel e ele não atendia. A porta estava fechada e o carro estacionad­o na garagem”, contou ao DN Maria Idalina Marcelino, ontem à tarde, enquanto aguardava saber a hora do funeral, entretanto marcado para as 11.30 desta sexta- feira.

À medida que se adensavam os sinais de desapareci­mento, um alvoroço de polícia e bombeiros tomou conta do adro da igreja e da casa paroquial. As autoridade­s concluíram então que o padre Marco deixara para trás a carteira, o telemóvel e as chaves de casa. O desgosto de amor Ontem à tarde, no café da Barroquinh­a – onde o sacerdote era presença habitual, no jeito descontraí­do com que todos o lembram –, uma dúzia de populares lamentava a tragédia. “Eu não o via desde domingo, desde a missa dos doentes, que ele celebrou. Mas achei- o sempre bem, sempre com uma palavra amiga para toda a gente. Quando o meu filho chegou a casa e me disse ‘ mataram o padre Marco’, nem quis acreditar”, desabafa Maria Idalina, certa de que a hipótese de homicídio é a mais plausível. “Diga- me lá como é que ele ia a pé mais de 15 km, de noite, para a tal praia? Alguém o levou daqui.”

O padre Jorge Guarda, vigário- geral da diocese de Leiria- Fátima, recusa a hipótese de suicídio. “Ele andava bem- disposto, e isso foi presenciad­o até pelas pessoas que estiveram com ele. Por isso não acredito.”

O DN sabe que, quando era seminarist­a, Marco tentou o suicídio, à conta de um suposto desgosto de amor. Mas antes deixou uma carta aos colegas, que chegaram a tempo de impedir o pior, encaminhan­do- o para o hospital, onde uma lavagem ao estômago resolveu o assunto. À época, o caso foi abafado. E agora? Matou- se ou mataram- no? A Polícia Judiciária está a investigar.

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