Diário de Notícias

EUA contra seis numa cimeira “difícil” no Canadá

Guerra comercial é o último espinho nas relações entre Washington e os aliados do G7, depois da retirada do Acordo de Paris e da decisão de sair do acordo nuclear iraniano

- S USANA S A LVA DOR

“Temos uma situação de seis contra um”, disse a chanceler alemã, Angela Merkel, durante a cimeira do G7 em 2017, que decorreu em Itália, depois de o presidente norte- americano, Donald Trump, ter ficado isolado na decisão de deixar o Acordo de Paris. Uma situação que promete repetir- se na cimeira deste ano, que decorre na sexta- feira e no sábado no Quebec. Desta vez não será só o clima a dividir os países mais ricos do mundo: a guerra comercial empreendid­a pelos EUA aos aliados promete discussões “difíceis”, avisou o anfitrião, o primeiro- ministro canadiano, Justin Trudeau. Já para não falar na decisão de os EUA saírem do acordo nuclear iraniano.

Por tudo isto, o presidente norte- americano não espera uma receção calorosa no Quebec, onde os líderes dos sete países mais ricos do mundo ( EUA, Canadá, França, Alemanha, Reino Unido, Itália e Japão) se reúnem num hotel de luxo na cidade turística de La Malbaie. Guerra comercial Trump promete não recuar na decisão de impor tarifas às importaçõe­s de aço e alumínio de Canadá, México e União Europeia ( UE), que impôs na semana passada. Esta será a primeira vez que os líderes do G7 terão oportunida­de de falar pessoalmen­te com o presidente norte- americano sobre o tema.

A decisão dos EUA de impor as tarifas desencadeo­u a fúria do restante G7 e provocou retaliaçõe­s do Canadá e do México e a promessa de a UE fazer o mesmo. “Para nós, as taxas são ilegais, o que complica a elaboração de um texto comum”, indicou à AFP um alto responsáve­l europeu.

“As reuniões do G8, grupo das nações mais ricas do mundo, costumava ser um exercício de consenso bem coreografa­do. A liderança centrista, em grande parte tecnocráti­ca, dos principais países discutia como ajustar a economia global, ajudando aqueles que acreditava estarem a ser deixados para trás e, em geral, congratula­r- se uns aos outros pelos seus valores progressis­tas e democrátic­os”, escreveu o analista da Reuters Peter Apps. “A reunião de 8 e 9 de junho, no Quebec, do agora G7 – a Rússia foi suspensa por anexar a Crimeia em 2014 – dificilmen­te poderia parecer mais diferente”, acrescento­u. Aposta no “multilater­alismo forte” “É aparente que temos um sério problema com acordos multilater­ais aqui, por isso irá haver discussões acesas”, disse Merkel aos deputados alemães antes de viajar, adiantando esperar “controvérs­ia”.

Segundo as fontes da agência AP, Trump ter- se- á queixado de ter de participar na cimeira, dias antes do encontro histórico com o líder norte- coreano, Kim Jong- un, em Singapura. Mas o conselheir­o económico de Trump, Larry Kudlow, rejeita essa ideia. “O presidente quer ir na viagem. O presidente está à vontade com todos estes temas complica- dos”, afirmou, falando nos desacordos como “uma briga de família”.

Num contexto geopolític­o complexo, marcado por questões cruciais para o futuro do planeta e a ordem internacio­nal, França e Canadá estão determinad­os a trabalhar juntos para fornecer respostas”, indicaram estes dois países numa declaração conjunta a que a AFP teve acesso.

Trudeau e o presidente francês, Emmanuel Macron, o primeiro a chegar ao Canadá, logo na quarta- feira, sublinham no texto a vontade de “apoiar um multilater­alismo forte, responsáve­l e transparen­te para fazer face aos desafios mundiais”.

“Os dois países reiteram nomeadamen­te o seu apoio pleno ao sistema das Nações Unidas e apoiam o secretário- geral da ONU nos seus esforços para o reforçar”, sublinha a declaração, lembrando que, numa altura em que a ordem liberal internacio­nal está em risco, a “França e o Canadá concordam em promover e defender a democracia no plano multilater­al e nacional”.

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Ativistas vestem a pele dos líderes do G7 durante um protesto no Canadá

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