Secretário- geral do Podemos não disfarça mal- estar pelo facto de o novo primeiro- ministro ter optado por um governo minoritário só com ministros socialistas
Não há apoios grátis. Foi isso que ontem fez questão de lembrar ao novo primeiro- ministro de Espanha, Pedro Sánchez, o secretário- geral do Podemos.
“Formou um governo com gente que agrada ao Ciudadanos e ao Partido Popular e sem ninguém que seja próximo de nós. É uma declaração de princípios. Sánchez sorriu a Mariano Rajoy e a Albert Rivera e levou apenas 24 horas a esquecer- se de quem o ajudou a tornar- se chefe do governo”, declarou Pablo Iglesias na TVE. “Quem o tornou primeiro- ministro não foi nem Rivera nem Rajoy, mas sim nós.”
O líder do Podemos referia- se ao facto de a moção de censura do PSOE de Sánchez contra Rajoy ter sido aprovada, há uma semana, com a ajuda do Unidos Podemos ( Podemos e Esquerda Unida, PNV, EH Bildu, ERC, PDeCAT, Compromís e do Nova Canárias). Isto porque os socialistas só têm 84 deputados no Parlamento, num total de 350 eleitos ( e para aprovar a moção precisavam de pelo menos 176, tendo conseguido 180).
“Passar pela Moncloa com o governo mais débil da história de Espanha vai ser provavelmente um calvário para Sánchez”, prosseguiu, insistindo na ameaça que já anteriormente fizera: “Se não estivermos no governo, então estaremos na oposição.”
Criticando a composição do executivo espanhol, minoritário, feminista, europeísta, Iglesias deu o exemplo do novo ministro do Interior Fernando Grande- Marlaska. “Um ministro que parece do PP”, afirmou em entrevista à TVE. Conhecido pela sua luta contra o Batasuna e contra a ETA ( tal como o ex- juiz Baltasar Garzón), Fernando Grande- Marlaska é o primeiro ministro da democracia espanhola assumidamente homossexual.
As declarações de Iglesias contra o novo primeiro- ministro, cujo governo tomou ontem posse na presença do rei Felipe VI de Espanha, só vêm mostrar que um dos principais desafios do líder socialista é a estabilidade política e parlamentar.
Outro grande desafio, admitiu ontem o novo ministro dos Negócios Estrangeiros, Josep Borrell, é a
Pablo Iglesias a abraçar Pedro Sánchez depois de aprovada moção de censura contra Mariano Rajoy deriva independentista a que se tem assistido na Catalunha. “São tempos difíceis. A Espanha enfrenta, talvez, o maior problema que pode ter um país: o da sua integridade territorial”, disse Borrell, que é catalão, na cerimónia oficial de transferência da pasta dos Negócios Estrangeiros do seu antecessor Alfonso Dastis. Ex- presidente do Parlamento Europeu ( PE), Borrell também defendeu que “a UE enfrenta uma crise”.
A sua nomeação já foi criticada pelos partidos independentistas catalães que há uma semana apoiaram a moção de censura de Sánchez contra Rajoy. “Começamos mal. Não é uma má notícia. É uma péssima notícia para nós”, declarou o atual presidente da Generalitat Quim Torra. Também Carles Puigdemont, ex- presidente catalão, atualmente exilado em Berlim, criticou Borrell.
Do lado dos bascos e navarros, o porta- voz da EH Bildu no Parlamento de Navarra, Adolfo Araiz, afirmou que a sua coligação dará cem dias ao governo de Sánchez antes de o julgar, mas não deixou de criticar igualmente as nomeações de Marlaska e Borrell. “[ O ministro dos Negócios Estrangeiros] “desclassificou toda a atuação do processo catalão e por isso não é a pessoa adequada.”
O responsável da EH Bildu referia- se ao facto de Borrell ter afirmado, em dezembro de 2017, durante a campanha para as eleições autonómicas catalãs antecipadas que “era preciso desinfetar a Catalunha antes de coser feridas”. Foi num comício dos socialistas catalães, em que fez declarações irónicas sobre o líder da ERC Oriol Junqueras: “A mim faz- me lembrar um padre lá da minha terra, têm a mesma arquitetura física e mental.”
Apesar de os primeiros sinais internos apontarem para a instabilidade, mais tarde ou mais cedo, a Comissão Europeia indicou ontem que está preparada para trabalhar com o novo governo espanhol. “Estamos prontos para trabalhar com o novo governo”, disse na conferência de imprensa diária um porta- voz do executivo comunitário. Alexander Winterstein lembrou ainda que o presidente da Comissão Europeia, Jean- Claude Juncker, já falou com Sánchez, tendo- o convidado a visitar Bruxelas. Idêntico convite fez o presidente do PE, Antonio Tajani.