BONS INDICADORES NA VITÓRIA ( 3- 0) FRENTE À ARGÉLIA COM UM BIS DE GONÇALO GUEDES
Os sinos foram postos a rebate. Não numa das muitas recônditas aldeias dispersas por vales ou serranias nem por razão de festividade ou aviso de desastre natural. Fazem- se ouvir noutras paragens, mais distantes e desligadas da vida real mas que ambicionam moldar a vida dos outros à forma dos poderosos interesses que representam. O alarme soou, sim, bem no centro do directório de potências que lidera a União Europeia, a escassas semanas de mais um Conselho Europeu a que se chegará com uma miríade de cenários que concretize essa peça maior, entre a farsa e a tragédia, da “reforma da zona euro”.
Aí estão desenhando argumentos, esboçando a traço grosso a nova arquitectura que endireitará a coisa, sinalizando interesses próprios na disputa de contradições interimperialistas em presença. Viajando entre Bruxelas, Paris e Bona, multiplicando encontros e cimeiras, selando entre sorrisos e apertos de mão os desacordos que em surdina expressam. De quando em vez, dedicando parte do seu precioso tempo, em deslocações à “periferia” para, encenando vir convencer quem está convencido, apelar a que em nome desse desígnio maior – o tal Euro sobre o qual “se edificaria a Europa” que Guterres pressagiou não imaginando, por confiança cega nos arquitectos, as deficiências originárias do projecto e as fissuras sobrevenientes nas empenas do edifício – se cedam ainda mais parcelas de soberania que têm sido expropriadas. Pelo meio, porque a turbulência ameaça a tranquilidade do voo, algumas confirmações de rota nesse percurso de ingerência externa como as que a Comissão Europeia expressou sobre a evolução da situação em Espanha, assegurando que a política está decidida seja quem for o executante, ou em Itália agindo para dificultar a posse de um governo ( independentemente do juízo político que dele se faça) que ousa afirmar distâncias com os seus projectos.
Não surpreende assim que George Soros, perplexo com o que designa de “uma UE mergulhada numa crise existencial” e inconsolado pela ausência daquele “pequeno grupo de visionários” que escavaram as fundações da obra que agora se patenteia, tenha publicado em texto a sua visão sobre “Como salvar a Europa”. Nem surpresa será, também, o apelo de um naipe de ferverosos adeptos da integração capitalista europeia para que, setenta anos após o congresso de Haia, se realize novo e análogo evento, agora um congresso das “consciências europeias”.
Reconheça- se a ousadia do objectivo. O empreendimento a que se propõem é de monta. Tão maior quanto a tarefa a que deitam mãos conhece inúmeros escolhos. Desde logo quanto ao propósito directo enunciado: se há dificuldade com que se deparem ela é, em primeiro lugar, encontrar no que a UE politicamente representa essa almejada “consciência”; depois porque os limites geográficos do empreendimento a que se propõem se afigura hoje repleto de complexidades. Só quem imbuído de uma férrea consciência europeia, e um não menor domínio do “atlas terrestre”, não perderá o norte sobre o alcance “europeu” do ambicionado congresso. Depois de se ter visto a Austrália e Israel no Festival da Eurovisão ou a Volta à Itália em bicicleta ter tido o seu início em Israel, só a solidez de conhecimentos permitirá a muitos “europeus”, se questionados sobre geografia, não dar por certo pinguins no Sara e marsupiais na Antárctica. Partamos do princípio que se não perderão na viagem e passemos a um outro plano: o dos promotores. Aquilatando os proponentes do apelo – partidários indefectíveis do neoliberalismo, como Alain Jupé, Felipe González e Maria João Rodrigues ou reconvertidos “europeístas” como Daniel Cohn- Bendit ( esse teórico e fogoso “revolucionário” do Maio de 68) – se perceberá que apesar da grandiloquência do objectivo os resultados não vencerão a fronteira de requentadas proclamações.
Confesse- se que, mal- grado a desconfiança, se não resistiu a ler na íntegra o texto. A decepção só não ganhou dimensão de agigantamento porque não se esperaria nada de diferente. A verdade é que depois de sonoras frases sobre “modernização do modelo social”, do temor de que a “forte vontade de Europa manifestadas pelos nossos concidadãos ameaça vacilar”, dos hinos ao que designam como “a participação contínua de todos na vida política da UE”, da crença “na necessidade dos concidadãos se constituírem numa força cívica transnacional” a coisa desemboca, não no ques- tionamento sério das razões de uma UE desigual e divergente ou da usurpação da soberania dos Estados em benefício do directório de potências que a comanda, mas na extremidade oposta do mesmo cano que a suporta: no apelo ao Conselho Europeu de Junho para se despachar com a “reforma da zona euro”.
28 de Junho é já ali. Compreende- se a pressa e a inquietude. Porque a seca é muita, o pasto escasso e a safra mingua, é ver os feitores do capital transnacional neste corrupio para dar novos passos contra os interesses dos trabalhadores e dos povos e contra o direito soberano de cada país a decidir do seu futuro.
Depois de se ter visto a Austrália e Israel no Festival da Eurovisão ou a Volta à Itália em bicicleta ter tido o seu início em Israel, só a solidez de conhecimentos permitirá a muitos “europeus”, se questionados sobre geografia, não dar por certo pinguins no Sara e marsupiais na Antárctica