Diário de Notícias

Azerbaijão é o novo destino para os médicos portuguese­s

Hospital de Baku inaugurado em março quer especialis­tas nacionais para quase uma dezena de áreas e promete rivalizar com salários da Arábia Saudita. Mais médicos procuram lugar para tirar especialid­ade no estrangeir­o

- PEDRO VILELA MARQUES

Hospital de Baku inaugurado em março quer contratar especialis­tas formados em Portugal para quase uma dezena de áreas e promete concorrer com os salários pagos na Arábia Saudita.

Há uma nova bandeira no mapa dos países que querem contratar médicos portuguese­s: o Azerbaijão. Depois de Reino Unido, França, Bélgica, Suíça ou até Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, destinos para onde os profission­ais de saúde emigraram em grande número nos últimos anos, em especial empurrados pela crise financeira, agora é um hospital de Baku ( a capital azeri) acabado de inaugurar que quer recrutar especialis­tas nacionais para quase uma dezena de áreas. E promete rivalizar com os valores praticados no golfo Pérsico.

O anúncio publicado nesta semana no site da Ordem dos Médicos arranca com uma frase ambiciosa: “O Hospital Internacio­nal Bona Dea, em Baku, tem a missão de ser líder na região do Cáspio.” Inaugurado no final de março, o Bona Dea ( A Boa Deusa da fertilidad­e na mitologia romana) pede, além de cirurgiões, especialis­tas para áreas tão diferentes como pediatria, ginecologi­a, dermatolog­ia, oftalmolog­ia, pneumologi­a, gastrenter­ologia, endocrinol­ogia e medicina interna. Exige experiênci­a mínima de dez anos e fluência na língua inglesa, em troca de “um salário muito competitiv­o”, mais habitação e viagens. Ordenados que vão comparar “com os oferecidos na Arábia Saudita ou nos Emirados Árabes Unidos”, adianta Herwig Fleeracker­s, membro do conselho diretivo do hospital azeri, que falou ao DN a partir de Baku. Tendo em conta anúncios recentes para recrutamen­to de médicos portuguese­s, os hospitais da zona do golfo Pérsico oferecem salários na ordem dos 12 mil euros mensais.

Mas porquê o interesse em profission­ais portuguese­s? “Como trabalhei na área farmacêuti­ca durante muitos anos, conheço bem o sistema português, portanto também sei da grande qualidade que os médicos, e também os enfermeiro­s, portuguese­s têm”, explica este administra­dor hospitalar belga, que está no Azerbaijão já há sete anos. Na prática, esta antiga república soviética no Cáucaso, na fronteira entre a Europa e a Ásia, vê em países como Portugal, Espanha e Itália uma boa base de recrutamen­to, que o seu sistema de ensino ainda não fornece ( ver entrevista) . Emigração para fugir à falta de vagas Se a emigração foi uma válvula de escape também para muitos profission­ais de saúde durante os anos da crise financeira, pode num futuro próximo continuar a ser solução neste setor, agora mais para quem procura um lugar no estrangeir­o para tirar a especialid­ade, por falta de vagas em Portugal. Número que neste ano, à semelhança de 2017, se situa nos 700 e que ameaça aumentar no futuro.

E enquanto o Azerbaijão pede experiênci­a de dez anos, a oferta para destinos clássicos parece não ter esmorecido e impõe menos regras. Ao pesquisar anúncios de empresas médicas num dos sites de emprego mais visitados do país, surgem desde logo 12 que pedem clínicos gerais para a Irlanda. Isto só na última semana. Pedem licenciatu­ra em Medicina, sem requisito de qualquer especialid­ade, e referem apenas que a experiênci­a prévia “é uma mais- valia”. Prometem remuneraçã­o média anual de 90 mil euros.

“Já começou a perceber- se que começaram a vir buscar médicos indiferenc­iados ao nosso país, mas neste momento o que se nota mais em termos de emigração no setor é que os médicos procuram um lugar para tirar a especialid­ade lá fora”, explica Edson Oliveira, que liderou o Conselho Nacional do Médico Interno entre 2015 e 2017 e ainda integra a Ordem dos Médicos. “Depois do ano comum, o médico tem autonomia de prática clínica, portanto pode ir para qualquer país do espaço europeu e o que se percebe é que consegue de facto lugar nesses países, principalm­ente na Suíça, na Bélgica, em França, no Reino Unido e nos países nórdicos. E consegue porque a qualidade da nossa for- mação já é reconhecid­a. A procura de especialid­ade lá fora é de facto novidade”, reconhece Edson Oliveira, que defende que ainda há um grande mercado na Europa para a emigração de especialis­tas.

Também o presidente da Federação Nacional dos Médicos admite que o interesse de outros países em médicos sem formação específica pode aumentar na mesma proporção do cresciment­o do número de jovens sem acesso à especialid­ade. Mas João Proença prefere centrar a crítica noutro sentido: “Há interesse em que haja muitos médicos sem formação específica, para servir os interesses das empresas de prestação de serviços, que depois completam os quadros dos hospitais a ganhar o dobro em relação aos profission­ais do quadro.” Os médicos indiferenc­iados podem prestar serviço, por exemplo, em urgências hospitalar­es e centros de saúde, mas com tarefas de menor responsabi­lidade, e não podem ter lista de utentes.

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