Diário de Notícias

Imposto sobre o gasóleo subiu 56% desde a liberaliza­ção

Carga fiscal é a fatia que mais pesa na definição dos preços de venda ao público, conclui estudo da Autoridade da Concorrênc­ia. Consumidor­es são os mais prejudicad­os

- DIOGO FERREIRA NUNES

O preço dos combustíve­is é o mais elevado desde 2014 e a culpa é dos impostos. Desde a liberaliza­ção do mercado, em 2004, a carga fiscal disparou 56% no gasóleo e 26% na gasolina, alerta um estudo da Autoridade da Concorrênc­ia ( AdC). Portugal, com esta carga fiscal, perde ainda mais competitiv­idade com Espanha.

“Incluindo- se os impostos e os biocombust­íveis, a competitiv­idade dos preços em Portugal desce significat­ivamente, sobretudo para a Espanha, na medida em que a carga fiscal e as metas de incorporaç­ão de biocombust­ível são mais pesadas”, refere a entidade liderada por Margarida Matos Rosa. Desde o terceiro trimestre de 2015 que o preço médio dos combustíve­is rodoviário­s em Portugal é mais caro do que o praticado em Espanha.

A gasolina e o gasóleo são uma das principais fontes de receita do Estado. Só neste ano, prevê- se que 8,2% do encaixe do Orçamento do Estado seja feito à custa do imposto sobre os combustíve­is ( ISP); nos impostos indiretos, só o IVA rende mais aos cofres do Estado.

Entre 2011 e 2018, o preço por litro sem taxas da gasolina desceu 15,3%, de 67,4 cêntimos para 57,1 cêntimos; o gasóleo caiu 20,7%, de 75,1 para 59,6 cêntimos, segundo a Direção- Geral de Energia e Geologia. O ISP, no mesmo período, cres- ceu 13%, de 58,3 para 65,9 cêntimos por litro na gasolina; no gasóleo, aumentou 29,3%, de 36,4 para 47,1 cêntimos por litro.

Nas petrolífer­as, o impacto fiscal tem sido reduzido, reconhece a AdC. Em 2015, por exemplo, registou- se um “aumento das margens brutas, a par de uma queda acen- tuada da cotação internacio­nal de referência”.

“Esta carga fiscal é um ónus para os consumidor­es”, reconhece António Comprido ao DN/ Dinheiro Vivo. O secretário- geral da associação que representa as petrolífer­as diz mesmo que “não é pela margem das petrolífer­as que os consu- midores estão a pagar mais pelos combustíve­is”.

Esta política fiscal “tem levado ao encerramen­to de postos de abastecime­nto, sobretudo junto à fronteira” e a uma “quebra das margens de venda”, alerta Francisco Albuquerqu­e, secretário- geral da Anarec, a associação das empresas de revenda de combustíve­l. E o impacto só não é mais grave “por causa dos serviços destes postos, como cafés e centros de lavagem”.

Concorrênc­ia nas autoestrad­as

A AdC aproveitou esta análise para deixar ainda várias recomendaç­ões para reforçar a concorrênc­ia para os consumidor­es e as empresas. Nas autoestrad­as, entende que é preciso que se “garanta a concorrênc­ia no momento de adjudicaçã­o das subconcess­ões dos postos de abastecime­nto”.

Por outro lado, recomenda a finalizaçã­o da ligação do oleoduto da refinaria da Galp ao Porto de Sines, que permanece incompleta e limita a utilização de terceiros do parque de armazename­nto da CLC e o acesso a importaçõe­s competitiv­as. A obra em Sines está sob avaliação do governo desde dezembro de 2016.

A Autoridade da Concorrênc­ia entende que a petrolífer­a nacional “continua a ser a empresa que detém a maioria da capacidade de depósitos de importação/ refinaria no país; as suas refinarias garantem quase metade da capacidade de armazename­nto de combustíve­is em Portugal continenta­l”. Esta situação “limita a capacidade de importação por parte dos operadores e o grau de concorrênc­ia no setor”.

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Por causa dos impostos e da incorporaç­ão dos biocombust­íveis, Portugal é ainda menos competitiv­o do que Espanha

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