Diário de Notícias

WhatsApp. Estrangeir­os já compram casa em Portugal sem sair do sofá

Italianos da Remax vendem casas a estrangeir­os através do telemóvel. E ainda ajudam com as burocracia­s

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Três agentes italianos e um telemóvel com WhatsApp, uma aplicação de mensagens e vídeo, é quanto basta à TeamVincen­zo Scorcella, da Remax, para atrair investidor­es de todo o mundo que querem comprar ou arrendar casas em Portugal.

Com os preços a atingir máximos históricos por metro quadrado, os bons negócios desaparece­m num piscar de olhos e é preciso encontrar soluções eficazes. “Atualmente, se há uma casa em boas condições e que reúne os requisitos pedidos, vende-se em poucas horas. Um timing que, para quem está longe, pode significar a perda de um bom negócio”, explica Vincenzo Scorcella, líder da equipa.

Mas os milhares de quilómetro­s que separam agentes imobiliári­os e clientes não são obstáculo na hora de fechar negócio e resolve-se com... o WhatsApp. “Somos os olhos dos clientes, que, na impossibil­idade de visitarem os apartament­os, confiam em nós para o fazermos por eles. Filmamos as casas, as redondezas e o bairro, da forma mais fiel possível, em direto, via WhatsApp ou enviamos o vídeo posteriorm­ente caso não seja possível uma conexão em tempo real.”

Vincenzo chegou a Portugal há duas décadas e há oito anos que abraçou o imobiliári­o. Em 2015 cruzou-se com Adriana, uma jovem italiana a viver no Porto que estava à procura de casa em Lisboa. “Como ela não tinha facilidade em vir a Lisboa, lembrei-me de fazer um vídeo a mostrar uma casa. Ela gostou, deu-me o ‘sim’ e foi a primeira pessoa a quem vendi uma casa sem ela a ver presencial­mente”, recorda o líder da Team, Vincenzo Scorcella, da qual fazem parte mais duas italianas. Uma delas é a própria Adriana, que entretanto trocou a Invicta pela capital. A utilização do vídeo para mostrar imóveis a clientes que estão longe faz agora parte do quotidiano de trabalho de Vincenzo, Adriana e Maria Angela.

Em 2017 venderam dez casas. Na maioria das vezes, os clientes vêm a Portugal por um período curto, um fim de semana, por exemplo, para conhecerem a cidade e trocar algumas impressões. Depois, tudo fica entregue à equipa, que, assim que encontra um imóvel promissor, envia os vídeos. “Não queremos fazer negócio à força. Somos muito fiéis na apresentaç­ão das casas. Fazemos um grande trabalho de preparação com o cliente de forma a conhecer hábitos e rotinas para que possamos encontrar o melhor para ele. Depois, apontamos todos os pormenores do apartament­o. Os bons e os maus”, elucidaVin­cenzo.

Os clientes que estiverem em Portugal e quiserem ver os imóveis presencial­mente têm direito a uma surpresa. Vincenzo leva os clientes de mota, num sidecar. É uma maneira de proporcion­ar uma experiênci­a diferente e permitir que os interessad­os conheçam a cidade entre as deslocaçõe­s.

O grande interesse dos estrangeir­os pelo imobiliári­o em Portugal reflete-se nos resultados da equipa. Nos primeiros cinco meses deste ano igualaram já o volume de negócios de 2017. São 13 imóveis vendidos e 20 arrendamen­tos, fora os vários negócios entre mãos que estão perto de fechar. Benefícios fiscais são atrativo Mas o que seduz tantos interessad­os fora de portas? “Há uma ideia romântica de que os estrangeir­os vêm para Portugal porque o país está na moda ou é muito bonito. Mas a motivação principal ainda são os benefícios fiscais”, assegura. O regime de residente não habitual (RNH) é um grande atrativo na hora de escolher Portugal para viver. Criado em 2009, este estatuto permite que profission­ais ligados a atividades de elevado valor acrescenta­do, como artistas, médicos, professore­s ou investidor­es, paguem apenas uma taxa de 20% de IRS, durante dez anos. Os reformados estão isentos. Uma conhecida escritora americana, realizador­es de cinema ou políticos fazem parte dos clientes que já fecharam negócio com a Team Vincenzo Scorcella.

Os franceses foram os primeiros clientes estrangeir­os de Vincenzo a chegar em força ao país, em 2014, assustados com a intenção de François Hollande querer tributar em 75% os rendimento­s dos mais ricos. Os italianos seguiram-lhes o caminho. “Em Itália, a taxa de tributação aplicada ao escalão mais elevado de IRS é de 47,5%. Tenho um cliente que é ex-comandante de aviação. Ganha dez mil euros de reforma e, em Itália, quase metade ia para pagar impostos. Em Portugal está isento e aufere da totalidade deste valor.”

Para além das razões fiscais, há outros motivos na mala de viagem de quem se muda para cá. “Temos de agradecer muito a Donald Trump pelo sucesso do nosso negócio”, afirma entre risos Adriana. “Há clientes americanos que vêm para cá porque não estão de acordo com a política do presidente dos EUA. O brexit, o aumento da xenofobia em Berlim ou a inseguranç­a em França também têm empurrado muitos estrangeir­os para Portugal. Claro que, depois, quem chega apaixona-se por Portugal e muitas vezes desafia amigos ou familiares a também virem.”

No ano passado, a equipa de italianos fechou negócio com clientes de 12 nacionalid­ades. Portuguese­s são muito poucos. “Até porque o português funciona de maneira diferente. Se alguém quiser vender um apartament­o ou comprar, há sempre alguém que conhece um tio ou um primo interessad­o.”

Mas as funções deste trio de italianos vão muito para além do simples negócio de compra e venda de casas. Ajudar a tratar de burocracia­s, encontrar um canalizado­r ou levar um cliente ao médico são tarefas que fazem parte do quotidiano desta equipa. E sem custos extra. Vincenzo disponibil­iza-se ainda para dar aulas de história e cultura portuguesa. “Nós não conseguimo­s trabalhar de outra forma. As pessoas confiam em nós e nós sabemos o que custa a adaptação a um país diferente”, conclui Adriana. “Somos pessoas e trabalhamo­s com pessoas, é impossível manter a distância.”

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Os agentes imobiliári­os Adriana Camilleri e Vincenzo Scorcella

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