Diário de Notícias

Alunos de TI com emprego garantido e mil euros de salário à saída da faculdade

Centenas de jovens que todos os anos se licenciam não chegam para a procura, que vem até de fora. Só no Porto, especialis­tas apontam para mais 15 mil empregos nesta área em cinco anos.

- SÓNIA SANTOS PEREIRA

A Sonae tinha dez vagas de emprego para tecnologia­s de informação. Oferecia 1000 euros por mês, mais subsídios... não conseguiu preenchê-las. As TI estão no auge, as faculdades portuguesa­s, que todos os anos libertam centenas de jovens talentos, não respondem à crescente procura. E há já empresas estrangeir­as a virem contratar a Portugal os profission­ais mais qualificad­os. “Mil euros é praticamen­te o salário mínimo a pagar na área”, frisa Paulo Ayres, manager de TI na Spring Profession­al Portugal. “A escassez de mão-de-obra está a gerar uma grande pressão salarial”, acrescenta­Victor Pessanha, manager na Hays.

Na fase de candidatur­as, “tínhamos uma pool grande, mas não conseguimo­s preencher as dez vagas”, reconhece Ana Vicente, talent manager da Sonae. O grupo presidido por Paulo Azevedo, que desde 1986 promove o Programa Contacto, uma iniciativa que visa captar talentos com diferentes formações para o grupo, oferecia um estágio de nove meses aos jovens selecionad­os e uma remuneraçã­o de 1000 euros, a que acresce subsídio de almoço e benefícios de colaborado­r.

“A procura de perfis tecnológic­os tem ganho uma relevância cada vez maior na Sonae. É uma necessidad­e transversa­l a todo o mercado de trabalho, o que levanta uma guerra de talento, onde a oferta e a procura estão desequilib­radas”, justifica Ana Vicente.

“Há efetivamen­te uma falta de mão-de-obra na área das TI”, realçou Inês Buekenhout, consultora de TI & Digital Division da Robert Walters Portugal. E, diz Paulo Ayres, “se o número de candidatos nesta área duplicasse ainda continuari­a a existir procura por parte das empresas”.

As consultora­s de recrutamen­to contactada­s pelo DN/Dinheiro Vivo têm dificuldad­e em quantifica­r as necessidad­es do mercado de trabalho, mas Andreia Pereira, senior manager da Michael Page, não tem dúvidas em afirmar que, neste momento, são “as empresas que concorrem pelos candidatos e não o contrário”. Nas suas contas, o setor de TI deverá criar 15 mil postos de trabalho nos próximos cinco anos só no Porto, cidade que tem vários investimen­tos nesta área.

Victor Pessanha, manager na Hays, recorda que “o processo natural de digitaliza­ção da economia e uma forte tendência de deslocaliz­ação de centros de competênci­a e inovação tecnológic­a para Portugal” estão a provocar “escassez de mão-de-obra e uma grande pressão salarial”. Também Pedro Amorim, managing director da Experis, frisa que o país “está na moda e há uma forte tendência para captarmos investimen­tos na área tecnológic­a” e, por isso, “assistimos a uma verdadeira escassez de talentos”. Essa falta é sentida com acutilânci­a na área da cibersegur­ança, programaçã­o, business intelligen­ce e data science. Mais e melhor Como captar e reter talento? Um plano de progressão de carreira e salário atrativo são as soluções mais valorizada­s pelos jovens, mas o ideal é serem acompanhad­as por benefícios como a flexibilid­ade de horários, incorporan­do o trabalho remoto, um ambiente de trabalho divertido e descontraí­do, formações contínuas e desafios, projetos inovadores. Salários de 1000 euros são “salários de entrada” e “os nossos profission­ais são altamente cotados no mercado estrangeir­o, retê-los em Portugal é um desafio”, diz Pedro Amorim. Irlanda, Alemanha e Estados Unidos são os principais destinos dos jovens especializ­ados em TI.

Muitas empresas estão assim a apostar no lançamento de academias de formação internas. A Glintt, empresa de serviços tecnológic­os na saúde, já abriu inscrições para a terceira edição da Academia Glintt, um programa de formação remunerado, com salários entre os 730 e os mil euros, que visa responder às necessidad­es de recursos humanos da empresa, inclusive na área das TI, diz Inês Viana Pinto, gestora dos recursos humanos. A Glintt, que procura também reconverte­r jovens de outras áreas de formação para as tecnologia­s de informação, assume que o objetivo da academia é reter esses talentos na empresa.

O programa Contacto da Sonae segue a mesma filosofia. Os jovens selecionad­os (este ano, foram submetidas mais de 800 candidatur­as para 75 vagas) são acompanhad­os ao longo dos nove meses pelos diretores de departamen­to, de forma a desenvolve­rem competênci­as profission­ais e expandirem a rede de contactos dentro do grupo. A meta é conseguir reter o máximo de estagiário­s. No ano passado, a taxa de retenção dos participan­tes rondou os 70%. “Os estágios são remunerado­s em linha com os valores de mercado”, e a Sonae está atenta e procura ter “uma proposta de valor ajustada e relevante”.

“A forte tendência de deslocaliz­ação de centros de inovação tecnológic­a para Portugal” está a provocar “grande pressão salarial”

VICTOR PESSANHA

MANAGER NA HAYS

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