MARCELO PREFERE A “PACIÊNCIA DOS ACORDOS” À “VOLÚPIA DAS RUTURAS”
Nos Açores, o Presidente elogiou a autonomia regional. E deixou um recado político que serve a nível interno e externo
Nos Açores, em Ponta Delgada, onde quis assinalar o Dia de Portugal, Marcelo fez um discurso muito curto, menos de cinco minutos, em que falou sobretudo daquilo que define os portugueses enquanto povo. E como estava ali, na ilha de São Miguel, sublinhou a diversidade nacional através do elogio à autonomia regional, que lembrou que está consignada na Constituição. Mas também deixou um recado político, que serve a nível interno e externo. O de que Portugal prefere “a paciência dos acordos” à “volúpia das ruturas”.
Com as mais altas individualidades do Estado presentes – entre as quais o presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, o primeiro-ministro, António Costa, e o presidente do governo regional dos Açores,Vasco Cordeiro –, o Chefe do Estado frisou que a autonomia se expressa ao nível da política, das leis e das gestão das coisas públicas.
“Como não sublinhar a pátria que somos, a autonomia que evocamos e o universalismo fraternal. A pátria numa só, feita de muitas vivências”, disse Marcelo, com aquele fundo azul em que o mar se confunde com o céu, como assinalou.
Aos portugueses açorianos quis associar-se ao sentimento que os une. A autonomia “destas terras pelo modo muito próprio de afirmar a açorianidade em que se somam as saudades da distância, a proximidade dos afetos, a densidade da reflexão”.
Palavras ditas pouco antes de partir para os Estados Unidos, rumo a Boston e Providence, onde vive uma vastíssima comunidade de portugueses, a maioria da qual de origem açoriana.
Na única frase que poderá ser lida como uma espécie de recado político, Marcelo Rebelo de Sousa sublinhou que Portugal prefere a “paciência dos acordos, mesmo se difíceis”, do que a “volúpia das ruturas, mesmo se tentadoras”.
Sobretudo um recado extensível às relações com a administração de Donald Trump, já que também Portugal prefere o “multilateralismo realista ao unilateralismo revivalista”.
O Presidente da República tem feito críticas ao presidente norte-americano, sobretudo pela sua visão sobre os imigrantes, que têm sido fortemente discriminados.
“Não toleraremos que (os vários ‘Portugais’) sejam discriminados naquilo que de essencial assinala o estatuto da nossa cidadania cívica, económica, social e cultural”, afirmou. “O universalismo português explica também o abraço que damos a quem chega, migrantes ou refugiados, a procura que fazemos de pontes, de diálogos, de entendimentos, e porque preferimos a paciência dos acordos, mesmo se difíceis, à volúpia das ruturas, mesmo se tentadoras.” Afirmou-se ainda partidário do “multilateralismo realista em desfavor do unilateralismo revivalista”.
Mas a verdade é que num momento de crispação entre o governo e os partidos que o apoiam no Parlamento, PCP, Verdes e Bloco de Esquerda, por causa do Orçamento do Estado para 2019, os “acordos” e “ruturas” também poderão servir como um recado interno que Marcelo dá sobre a estabilidade política (ver texto ao lado).
No ano passado, o Presidente tinha dedicado o seu discurso do 10 de Junho às questões relacionadas com a pobreza.