Diário de Notícias

MARCELO PREFERE A “PACIÊNCIA DOS ACORDOS” À “VOLÚPIA DAS RUTURAS”

Nos Açores, o Presidente elogiou a autonomia regional. E deixou um recado político que serve a nível interno e externo

- PAULA SÁ

Nos Açores, em Ponta Delgada, onde quis assinalar o Dia de Portugal, Marcelo fez um discurso muito curto, menos de cinco minutos, em que falou sobretudo daquilo que define os portuguese­s enquanto povo. E como estava ali, na ilha de São Miguel, sublinhou a diversidad­e nacional através do elogio à autonomia regional, que lembrou que está consignada na Constituiç­ão. Mas também deixou um recado político, que serve a nível interno e externo. O de que Portugal prefere “a paciência dos acordos” à “volúpia das ruturas”.

Com as mais altas individual­idades do Estado presentes – entre as quais o presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, o primeiro-ministro, António Costa, e o presidente do governo regional dos Açores,Vasco Cordeiro –, o Chefe do Estado frisou que a autonomia se expressa ao nível da política, das leis e das gestão das coisas públicas.

“Como não sublinhar a pátria que somos, a autonomia que evocamos e o universali­smo fraternal. A pátria numa só, feita de muitas vivências”, disse Marcelo, com aquele fundo azul em que o mar se confunde com o céu, como assinalou.

Aos portuguese­s açorianos quis associar-se ao sentimento que os une. A autonomia “destas terras pelo modo muito próprio de afirmar a açorianida­de em que se somam as saudades da distância, a proximidad­e dos afetos, a densidade da reflexão”.

Palavras ditas pouco antes de partir para os Estados Unidos, rumo a Boston e Providence, onde vive uma vastíssima comunidade de portuguese­s, a maioria da qual de origem açoriana.

Na única frase que poderá ser lida como uma espécie de recado político, Marcelo Rebelo de Sousa sublinhou que Portugal prefere a “paciência dos acordos, mesmo se difíceis”, do que a “volúpia das ruturas, mesmo se tentadoras”.

Sobretudo um recado extensível às relações com a administra­ção de Donald Trump, já que também Portugal prefere o “multilater­alismo realista ao unilateral­ismo revivalist­a”.

O Presidente da República tem feito críticas ao presidente norte-americano, sobretudo pela sua visão sobre os imigrantes, que têm sido fortemente discrimina­dos.

“Não toleraremo­s que (os vários ‘Portugais’) sejam discrimina­dos naquilo que de essencial assinala o estatuto da nossa cidadania cívica, económica, social e cultural”, afirmou. “O universali­smo português explica também o abraço que damos a quem chega, migrantes ou refugiados, a procura que fazemos de pontes, de diálogos, de entendimen­tos, e porque preferimos a paciência dos acordos, mesmo se difíceis, à volúpia das ruturas, mesmo se tentadoras.” Afirmou-se ainda partidário do “multilater­alismo realista em desfavor do unilateral­ismo revivalist­a”.

Mas a verdade é que num momento de crispação entre o governo e os partidos que o apoiam no Parlamento, PCP, Verdes e Bloco de Esquerda, por causa do Orçamento do Estado para 2019, os “acordos” e “ruturas” também poderão servir como um recado interno que Marcelo dá sobre a estabilida­de política (ver texto ao lado).

No ano passado, o Presidente tinha dedicado o seu discurso do 10 de Junho às questões relacionad­as com a pobreza.

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Discurso de Marcelo sublinhou, nos Açores, a diversidad­e nacional

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