Diário de Notícias

A hora da verdade para Pedro Sánchez

- BEGOÑA ÍÑIGUEZ CORRESPOND­ENTE RÁDIO CADENA COPE E JORNAL LA VOZ DE GALICIA

Em apenas dez dias, Espanha passou a viver um autêntico e inesperado furacão político. Ninguém o previa mas trouxe consigo um novo primeiro-ministro, Pedro Sánchez, a queda do governo conservado­r de Mariano Rajoy e a sua saída de líder do PP, após a moção de censura apresentad­a e ganha no Parlamento de Madrid pelo PSOE ter colhido o apoio de todos os outros partidos – do Podemos aos independen­tistas da Catalunha e País Basco, e aos nacionalis­tas bascos. Foi um passo histórico na democracia espanhola, por vários motivos. Nunca antes um governo tinha caído numa moção de censura, nunca antes um partido tinha chegado ao poder sem ter ganho as eleições e nunca antes o conseguira com tão poucos deputados na Câmara Baixa, 84 de 350.

Abre-se agora uma difícil mas interessan­te etapa na governação espanhola, cheia de interrogaç­ões e novos capítulos por escrever, com Pedro Sánchez como protagonis­ta, a tentar aproveitar ao máximo a sua última oportunida­de de demonstrar aos espanhóis e ao mundo o seu valor com um governo europeísta, feminista – são 11 mulheres com excelentes currículos para seis homens –, que defende a unidade de Espanha com diálogo e aposta numa reforma constituci­onal.

O caminho está cheio de obstáculos para o novo chefe do governo de Madrid, pelo pouquíssim­o apoio parlamenta­r na Câmara Baixa, a maioria absoluta do PP no Senado (Câmara Alta), as muitas exigências de Podemos, os independen­tistas catalães e osnacional­istas bascos, que o ajudaram a conseguir derrubar Rajoy, e a férrea oposição parlamenta­r que preparam tanto o PP como Ciudadanos de Albert Rivera, força política mais prejudicad­a com a moção de censura de Pedro Sánchez – as sondagens já lhe apontavam vitória nas legislativ­as.

Ainda que a debilidade do executivo do Sánchez possa converter-se numa vitória nas urnas nas legislativ­as de finais de 2019 ou início de 2020, se souber aproveitar bem o momento e a qualidade do seu governo – inovador, bem preparado, europeísta e experiente nos temas mais problemáti­cas e decisivos para Espanha. Disso são exemplo o catalão Josep Borrell como ministro dos Negócios Estrangeir­os – ex-presidente do Parlamento Europeu e defensor da unidade de Espanha –; o juiz Grande-Marlaska, profission­al muito bem visto na opinião pública espanhola, como ministro do Interior; a galega Nadia Calviño, que até há dias era, em Bruxelas, responsáve­l pelo Orçamento Comunitári­o, na Economia; e outra catalã de primeira linha, Meritxell Batet – para quem é fundamenta­l “retomar o diálogo com a Catalunha e reformar a Constituiç­ão”, como declarou na sua tomada de posse – a liderar a Política Territoria­l e Administra­ção Pública. A travessia do deserto do PP Estes não são bons tempos para o PP nem para Mariano Rajoy, que até 1 de junho governou Espanha. Durante seis anos e meio lidando e ultrapassa­ndo com sucesso a maior crise económica e bancária que o país enfrentou, mas que não conseguiu resistir ao duro acórdão judicial do caso Gürtel, que levou à condenação do ex-tesoureiro do partido, Luis Bárcenas, e várias pessoas que lhe são próximas, por corrupção e financiame­nto ilícito – e deixando uma sombra sobre a cabeça do exprimeiro-ministro, a do seu conhecimen­to ou não acerca do financiame­nto irregular do PP.

O triste final de Rajoy, batizado por muitos como o resistente, ao fim de 40 anos de política ativa, primeiro na Galiza e depois em Madrid, chegou como consequênc­ia da moção de censura de Sánchez no Parlamento, dias depois de ser tornado pública a sentença do caso Gürtel.

Agora, o PP terá de sobreviver a uma batalha interna para encontrar um novo líder antes do congresso extraordin­ário de julho. O mais bem posicionad­o para lá chegar é o presidente da Galiza, Alberto Núñez Feijóo, mas há outros candidatos de primeira linha, como a ex-vice-presidente do governo espanhol, Soraia Sáenz de Santamaría, e a secretária-geral do PP, Maria Dolores de Cospedal. Quem conseguir a eleição, terá em seguida a difícil tarefa de unir um partido muito fragmentao após a queda de Rajoy e de recuperar o eleitorado que passou para o lado do Ciudadanos.

O primeiro-ministro espanhol sabe que esta é a sua vez, ainda que governe só com 84 deputados, algo que acontece pela primeira vez no país

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