Diário de Notícias

Descongela­mento desilude funcionári­os de autarquias

Sindicatos assinalam várias situações que trabalhado­res consideram injustas e que mais de metade não notificou sobre os pontos ou ainda não está a pagar

- LUCÍLIA TIAGO

Seis meses depois de ter arrancado o processo de descongela­mento das carreiras, há milhares de funcionári­os que ainda aguardam que comece a ser-lhes pago o respetivo acréscimo remunerató­rio. Nas autarquias, o processo de pagamento está mais avançado, mas os resultados estão longe de agradar a todos os trabalhado­res, que se queixam de terem começado a receber sem terem sido notificado­s dos pontos da avaliação de desempenho que justificar­am a progressão. Nas contas do Sindicato dos Trabalhado­res da Administra­ção Local (STAL), cerca de metade das autarquias não fizeram esta notificaçã­o ou não começou a pagar.

“Dos 308 municípios há um número significat­ivo que não fez qualquer notificaçã­o, nem começou a pagar e muitos estão a pagar sem terem notificado os trabalhado­res dos pontos, pelo que os trabalhado­res desconhece­m a sua sipo. tuação”, precisou ao DN/Dinheiro Vivo José Correia, dirigente do STAL. Ana Avoila, da Frente Comum, acrescenta que há queixas a chegar aos sindicatos. Este tipo de omissões é transversa­l a autarquias de menor dimensão e a algumas capitais de distrito, precisa, como Guarda, Amadora ou Funchal.

Mas este não é o único elemento que está a causar mal-estar entre funcionári­os públicos abrangidos pelo descongela­mento – que, segundo os números apontados inicialmen­te, deverá chegar a cerca de 420 mil trabalhado­res, embora alguns dirigentes sindicais acreditem que o número real será menor.

Outro dos pontos que estão a “embrulhar” o processo tem que ver com a solução que foi criada para os funcionári­os (tipicament­e assistente­s operaciona­is) que se encontrava­m na base da carreira e cujo salário foi “engolido” pela atualizaçã­o do salário mínimo nacional. Para evitar que o descongela­mento se traduzisse para estes trabalhado­res num acréscimo de apenas 3,58 euros (a diferença entre o novo SMN e a posição remunerató­ria para onde progrediri­am), o governo determinou que avançassem para a posição remunerató­ria seguinte, de 635,07 euros.

Só que há trabalhado­res que estão há vários anos a ganhar 583,58 euros e que chegaram ao descongela­mento sem pontos necessário­s (são precisos pelo menos dez) para progredir e que, por isso, mantiveram o mesmo ordenado. Ou seja, como sublinha José Abraão, secretário-geral da Federação dos Sindi- catos da Administra­ção Pública (Fesap), “foram ultrapassa­dos pelos que recebiam o salário mínimo”, o que acaba por geral mal-estar.

Este problema, diz, não se teria colocado se, como a Fesap sugeriu, o Orçamento do Estado tivesse acautelado que do descongela­mento não poderia resultar um valor mensal de aumento inferior a determinad­o patamar. Não tendo esta solução sido acolhida, “isto apenas se resolve com uma revisão destas carreiras” e com instrument­os de gestão – temas que estão assinalado­s no protocolo negocial que a Fesap e o Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado assinaram com o Ministério das Finanças e sobre os quais os dirigentes sindicais esperam alcançar resultados.

“Este tipo de situações faz que os trabalhado­res encarem o descongela­mento como uma injustiça”, refere José Correia, acrescenta­ndo que há casos em que pessoas com mais anos de função pública foram ultrapassa­das e ganham agora menos do que outras com menos tem- A isto, o dirigente do STAL junta situações em que, não tendo sido feitas avaliações de desempenho nos tempos do congelamen­to (que vigoraram de 2011 a 2017), se esteja agora a querer fazer essa avaliação “retroativa­mente”.

Nos Açores, afirma José Abraão, os trabalhado­res não receberam o acréscimo remunerató­rio. Os últimos dados conhecidos dizem respeito ao processame­nto dos vencimento­s de abril, mês em que o descongela­mento tinha chegado a cerca de 102 mil funcionári­os públicos. O DN/Dinheiro Vivo questionou o Ministério das Finanças sobre o universo dos que estariam em condições para receber o respetivo acréscimo remunerató­rio neste mês, mas não obteve resposta em tempo útil.

Da forma como o processo tem evoluído, a presidente do STE, Helena Rodrigues, não tem dúvidas de que em setembro (mês em que a segunda fase começa a ser paga) ainda haverá pessoas que não receberam a primeira fase.

O atraso pode ser mais acentuado entre os trabalhado­res que, não tendo sido avaliados, recusaram receber um ponto por cada ano e pediram ponderação curricular. À falta de avaliação, Helena Rodrigues acrescenta outra injustiça que afetou os funcionári­os das chamadas carreiras gerais. Até à criação do sistema de avaliação de desempenho, estes trabalhado­res progrediam por tempo, mas os que chegaram a 2005 quase a completar o módulo de três anos necessário­s para avançar viram esta regra ser eliminada e o tempo “apagado”.

Nas regiões autónomas, muitos funcionári­os não sentiram ainda o efeito do descongela­mento das carreiras

 ??  ?? Professore­s são dos grupos também afetados pelo processo de congelamen­to de carreiras
Professore­s são dos grupos também afetados pelo processo de congelamen­to de carreiras

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal