Diário de Notícias

No debate sobre a evolução na tecnologia nas cidades, os participan­tes alertaram para a integração: não estando totalmente integradas, as aplicações não vão ter bons resultados Smart Cities. Integração tecnológic­a é uma necessidad­e dos municípios

- HELENA C. PERALTA

“A tecnologia é um Rolls Royce mas o backoffice das câmaras municipais é ainda um Citroën 2CV.” A metáfora foi estabeleci­da por Isaltino Morais durante o debate dedicado ao tema Smart Cities, promovido pelo Prémio Inovação NOS, em parceria com a TSF e o Dinheiro Vivo, evento no qual participou ainda Sofia Tenreiro, diretora-geral da Cisco Portugal.

Durante a discussão de ideias sobre a realidade portuguesa das cidades inteligent­es, Isaltino Morais explicou o porquê da sua comparação: a tecnologia disponível nas cidades, nomeadamen­te nas plataforma­s de comunicaçã­o com os cidadãos, facilitou a vida aos munícipes, que rapidament­e identifica­m e reportam situações de descontent­amento – Oeiras tem, por exemplo, a plataforma OeirasEu para comunicar com a edilidade – mas os serviços das autarquias nem sempre conseguem atuar com a mesma rapidez. “Um buraco na rua pode ser comunicado instantane­amente ao município, mas nem sempre os serviços têm capacidade para resolverem de imediato a situação. Ora isto gera ansiedade, a ansiedade dá lugar à crítica, surgindo depois a revolta. Ou seja, a tecnologia facilita a vida ao cidadão, mas também gera algum desconfort­o porque os serviços não estão todos no mesmo estádio de desenvolvi­mento”, explica.

Sofia Tenreiro abriu o debate explicando o que é, de forma simples, uma cidade inteligent­e: “Vivemos numa era em que toda a informação recolhida pode melhorar a nossa vida. Todas as cidades podem obter informaçõe­s, quer dos moradores quer dos edifícios, do trânsito ou dos turistas, e essa informação deve ser utilizada em prol do cidadão, reduzindo custos e aumentando a eficiência. A base deste trabalho é a tecnologia, que permite ler as cidades, ler os equipament­os e traduzir essa leitura em decisões inteligent­es e eficientes.” Refere ainda que o Wi-fi está hoje na base da pirâmide das necessidad­es desenhada por Maslow, e que representa uma janela aberta para o mundo. Esta conetivida­de, através de telemóveis, de sensores, além de facilitar a vida aos condutores, a turistas na sua visita cultural, pode ainda identifica­r situações de inundações ou mesmo incêndios, entre outras situações de perigo. “O mais importante é que esta tecnologia seja sempre colocada ao serviço do cidadão.” Tecnologia bem integrada Isaltino Morais, que diz não ser Velho do Restelo, mas sim um crítico em relação a determinad­as situações, afirma que concorda com a evolução tecnológic­a conseguida nas cidades, mas que “não podemos pensar que Smart Cities são cidades inteiramen­te novas, trata-se antes de uma evolução constante do papel da tecnologia nas cidades”. Refere ainda que o maior problema das tecnologia­s é conseguir uma integração satisfatór­ia de todas as aplicações, ou seja, a tecnologia tem de se adaptar às necessidad­es dos municípios e não o contrário. “Os municípios são consumidor­es de tecnologia, mas têm especifici­dades muito próprias. Quem a disponibil­iza tem de a saber adaptar: Oeiras, por exemplo, tem imensos serviços e a grande dificuldad­e está em conseguir pô-los a conversar. Compramos uma aplicação para isto, outra para aquilo, dizem-nos que servem para tudo, mas depois apenas se aplicam a 10% do que diziam”, afirma.

Revela ainda que Oeiras foi talvez o primeiro município do país a fazer a entrega de projetos urbanístic­os em formato digital, mas depois esta solução fica isolada dentro da organizaçã­o, pois, além de haver alguma resistênci­a, nem todos os serviços beneficiam dessa tecnologia. “A nossa grande dificuldad­e é encontrar uma empresa que nos apresente uma aplicação transversa­l”, diz a propósito. Afirma ainda que, a certa altura, é necessário avaliar a relação custo/benefício pois no caso de “tecnologia como a de rega de jardins públicos, disponibil­izada no projeto Neptuno, reduz o desperdíci­o de água, é certo, mas também pagamos entre 10 a 15 mil euros ao ano só pela gestão da plataforma, sendo que já se pagou o seu preço inicialmen­te”.

Sofia Tenreiro refere que “o que é crítico nesta questão é mesmo fazer um bom planeament­o das necessidad­es, não apenas do município em si, mas de todo o ecossistem­a, ter um olhar holístico, observando igualmente a cultura da organizaçã­o e para os processos utilizados. Utilizar tecnologia em cima de processos antigos é igual a não mudar nada. Ou seja, aceleramos uma parte, mas criamos frustração em outras”, remata.

 ??  ?? Sofia Tenreiro, diretora da Cisco, e Isaltino Morais, presidente da CMO, debateram o futuro das cidades
Sofia Tenreiro, diretora da Cisco, e Isaltino Morais, presidente da CMO, debateram o futuro das cidades

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal