Fernando Pimenta “A prioridade é voltar a ganhar uma medalha nos Jogos Olímpicos”
O melhor canoísta português de todos os tempos acabou de conquistar três medalhas (ouro, prata e bronze) nos Campeonatos da Europa que se disputaram na Sérvia. Mas não se cansa de ganhar e já aponta a Tóquio 2020
Fernando Pimenta esteve em grande destaque nos Europeus de canoagem da Sérvia, ao conquistar três medalhas: foi ouro em K1 1000, prata em K1 5000 e bronze em K1 500. Aos 28 anos, já trouxe para Portugal 13 medalhas em Europeus (cinco de ouro, quatro de prata e quatro de bronze) e cinco em Mundiais (uma de ouro, três de prata e uma de bronze), isto sem esquecer a prata em K2 nos Jogos Olímpicos de Londres 2012, em dupla com Emanuel Silva. Em entrevista ao DN, o melhor canoísta português de sempre garante que ainda tem sede de muito mais conquistas e já aponta aos Jogos Olímpicos de 2020. Conquistou três medalhas dos Europeus da Sérvia. Era impossível pedir-lhe mais… Sim, felizmente correu tudo da melhor forma. Para além de ter sido campeão europeu em K1 1000, consegui lutar pelo ouro até ao fim em K1 500 e K1 5000. E quero também destacar a prestação dos outros portugueses presentes nos Europeus, nomeadamente a Joana Vasconcelos e a Teresa Portela, que foram campeãs da Europa em K2 200. O K4 feminino conseguiu o décimo lugar e o K4 masculino ficou em nono lugar, que também foram bons resultados. Estamos todos de parabéns. No entanto, depois de mais estes feitos, não vai ter muito tempo para descansar... Sim, não paro! Chego a Portugal na segunda-feira à noite e no dia seguinte de manhã [hoje] já partirei para outro estágio, pois daqui a 15 dias temos os Jogos do Mediterrâneo. E depois segue-se o Campeonato do Mundo, em Portugal, entre 22 e 26 de agosto. Qual foi o mais especial de todos os seus resultados internacionais? Evidentemente que a medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Londres foi superespecial, pois é a maior competição e só se realiza de quatro em quatro anos. Mas nunca esquecerei a primeira medalha de campeão da Europa em K4 1000, que obtive nesta mesma pista em Belgrado e quando fui campeão da Europa de K1 1000, em Moscovo. O que lhe falta ainda conquistar? Ainda há resultados que quero atingir e sem dúvida que a minha prioridade é voltar a ganhar uma medalha nos Jogos Olímpicos, que constituem o auge para qualquer atleta de alta competição. E, claro, quero continuar a obter bons resultados nos Mundiais e nos Europeus. Sente que neste momento a canoagem é a modalidade que consegue melhores resultados em provas internacionais para Portugal e, obviamente, com altíssimo contributo seu? Sem dúvida que neste momento a canoagem é a modalidade que melhor representa o nosso país lá fora. E basta ver estes dois títulos de campeões da Europa que conseguimos na Sérvia. E mesmo quando não trazemos medalhas conseguimos estar sempre na luta com os melhores. Sente que os seus feitos são devidamente reconhecidos em Portugal ou ainda há um longo caminho a percorrer? Ainda há um longo caminho a percorrer até que as outras modalidades que não o futebol tenham o reconhecimento devido. Reconheço que nos últimos tempos a canoagem tem ganho maior visibilidade na comunicação social, algo essencial para que consiga maiores apoios, mas volto a dizer que ainda há um longo caminho a percorrer, inclusivamente em contraponto com outras modalidades, pois às vezes vemos na televisão notícias sobre campeonatos de outros desportos e da canoagem... nada! Há 15 dias a canoagem portuguesa conseguiu medalhas numa Taça do Mundo mas nada saiu na comunicação social e a grande maioria dos portugueses nem deve saber que essa competição se disputou. Assinou pelo Benfica em março deste ano. Que balanço faz até ao momento? A ida para o Benfica foi um passo muito importante na minha carreira. Estou muito contente com o trabalho que temos vindo a desenvolver e com o apoio e o carinho da estrutura do Benfica. Falou com Luís Filipe Vieira depois de ter sido campeão da Europa em Belgrado? O presidente do Benfica ligou-me a dar os parabéns pela vitória e a agradecer o que tenho feito pelo clube. A partir de que momento é que percebeu que iria dedicar a sua vida quase a 100% à canoagem? Tem sido especialmente difícil abdicar de algo ao longo deste percurso? Não houve um momento em específico em que tenha percebido que esta iria ser a minha vida, terá sido quando comecei a ter resultados internacionais de relevo. E não posso negar que todos os sacrifícios custam sempre, por mais pequenos que sejam. Sem dúvida alguma que abdicar da família e dos amigos é o que mais me custa. E também me custa não ter uma vida social mais ativa, pois preciso de treinar e de descansar. O seu irmão João é um grande entusiasta seu. Ele por vezes assiste às provas no estrangeiro? Não, é complicado, pois tem apenas 14 anos, mas assiste sempre em live streaming. O João gostaria de seguir as suas pisadas na canoagem? Isso está completamente fora de hipótese, pois a modalidade de que ele gosta mesmo é o futebol. Sou suspeito para falar, mas ele tem mesmo muito jeito para o futebol e quem sabe se não conseguirá singrar na modalidade, embora eu tenha a noção de que a concorrência é muito maior do que na canoagem. Concluiu o ensino secundário e entrou na Universidade, mas teve de abandonar os estudos. Foi algo que lhe custou? Primeiro estive em Fisioterapia na Universidade em Coimbra e depois, para tentar conciliar a canoagem com os estudos, fui para Ponte de Lima tirar Reabilitação Psicomotora. Sem dúvida que deixar de estudar aos 21 anos foi a decisão certa e inclusivamente tive o apoio de alguns professores, que me deram força para investir a 100% na carreira desportiva. Quando não está a treinar ou a competir, o que gosta mais de fazer? Descansar [risos]. E também estar com a família e passear. E praticar desporto, claro.