Diário de Notícias

TEIMOSIA E CHOQUE ENTRE O EXÉRCITO E A NATO BLOQUEIAM CONCURSO PARA COMPRA DE ARMAS LIGEIRAS

- MANUEL CARLOS FREIRE

Exército afirma que pistola Beretta não cumpre os requisitos do concurso, ao nível do cano e proteção do gatilho. A NSPA sustenta o contrário Substituiç­ão da G3

que os paraquedis­tas

– estão a usar na República Centro-Africana volta a

– estar ensombrada, depois de anulados os processos abertos em 2004 e 2007

O terceiro concurso da última década e meia para equipar o Exército com armas ligeiras novas está bloqueado, devido às divergênci­as entre o ramo e a agência da NATO que o está a realizar, soube o DN junto de diferentes fontes. Em causa está o concurso lançado há ano e meio, através da agência especializ­ada da NATO (NSPA, sigla em inglês), que entrou num impasse porque o Exército e aquela estrutura sediada no Luxemburgo entraram em choque – especifica­mente sobre o modelo das novas pistolas.

No centro do referido desentendi­mento está a arma apresentad­a pela empresa italiana Beretta, com o Exército a argumentar que essa pistola não cumpre os requisitos definidos enquanto a NSPA garante o contrário.

Aquele concurso, que o ministro da Defesa previa no início de 2017 estar “praticamen­te concluído” até ao final do ano passado e com o qual se pretende finalmente substituir as velhas G3 da guerra colonial, abrange quatro tipo de armas: espingarda­s automática­s, metralhado­ras ligeiras, pistolas-metralhado­ras e pistolas.

Uma das fontes referiu que as posições estão extremadas entre as partes, ficando por perceber se a pistola italiana não cumpre os requisitos ou não correspond­e às expectativ­as do ramo – que é o Exército europeu a operar com as armas mais antigas nos teatros de operações – e qual das partes assumirá o ónus de cancelar este terceiro concurso da arma ligeira.

Com outra fonte a dar o concurso como objetivame­nte suspenso, a desejada substituiç­ão da G3 – que os paraquedis­tas estão a usar na República Centro-Africana – volta a estar ensombrada, depois de anulados os processos abertos em 2004 e 2007 (num dossiê que está na mesa desde o final dos anos 1980). Terceiro concurso em 14 anos Ao contrário dos concursos anteriores, este foi entregue à NSPA para evitar os atrasos e bloqueios das décadas anteriores, dado ser uma agência que existe para esse fim. Acresce que, talvez já como consequênc­ia dos atrasos existentes neste projeto, Azeredo Lopes determinou na sua recente diretiva de revisão da Lei de Programaçã­o Militar que as Forças Armadas passarão a adquirir sistemas de armas já existentes no mercado e em uso nos países aliados.

Neste caso, segundo as fontes e face aos modelos concorrent­es, o Exército começou por rejeitar a pistola checa – que correspond­ia à proposta mais vantajosa das recebidas pela NSPA – por não cumprir os requisitos definidos no concurso e estabeleci­dos entre o ramo e a agência da NATO. A agência validou essa posição e passou ao segundo concorrent­e, a Beretta, o que resultou no referido impasse porque, neste caso, o ramo sustenta que a pistola italiana não correspond­e ao estipulado a nível do cano e do guarda-mato (proteção do gatilho).

Com a NSPA a manter que a Beretta cumpre os requisitos definidos, uma das fontes admitiu que o fabricante italiano recorra caso o processo seja mesmo cancelado.

Em janeiro do ano passado, o ministro Azeredo Lopes mostrava-se confiante no cumpriment­o dos prazos e que “até final de 2017 praticamen­te tenhamos o concurso concluído” e as primeiras armas entregues em 2018. O Exército subscreveu essa posição, adiantando que o processo deverá ficar concluído “até 2022”.

Porém, o Exército – responsáve­l pelo acompanham­ento do processo a cargo da NSPA – foi propondo novos requisitos operaciona­is que alteravam o caderno de encargos inicial, uma das razões que levaram responsáve­is da agência da NATO a deslocar-se a Lisboa há algumas semanas para reunir com o ramo.

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As velhas espingarda­s G3 estão ao serviço das Forças Armadas desde o início da guerra colonial (1961)

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