Diário de Notícias

Espanha recebe os 629 migrantes que o novo governo de Itália rejeitou

Novos governos em Madrid e Roma agem de forma oposta. Navio Aquarius, que não teve autorizaçã­o para aportar em Itália, segue para Espanha, mas faltam provisões

- CÉSAR AVÓ

Navio-patrulha italiano com 790 migrantes aguarda instruções do governo. Salvini diz que há outra ONG “à espera de efetuar a enésima carga de migrantes”

O Aquarius foi o ponto de viragem consumado da política de acolhiment­o de migrantes por parte do novo governo italiano e ao mesmo tempo a medida mais mediática até agora do novo governo espanhol. A embarcação da organizaçã­o não governamen­tal SOS Méditerran­ée não teve autorizaçã­o para aportar quer em Malta quer em Itália. Em consequênc­ia, os ativistas da ONG e os 629 migrantes que ali seguem ficaram numa situação complicada, com os mantimento­s a escassear.

Segundo a AFP, o Aquarius não deverá chegar ao porto de Valência antes de sexta-feira, e os alimentos, exceto barras energética­s, acabaram ontem.

A resolução desse problema mais imediato foi encarado pelo governo de La Valletta. “Malta vai enviar novos suprimento­s para o navio. Será necessário sentarmo-nos e discutirmo­s como evitar tais situações no futuro. Esta é uma questão europeia”, escreveu o primeiro-ministro maltês, Joseph Muscat, no Twitter, numa alusão à disputa entre Malta e Roma.

O governo maltês, no entanto, recusou responsabi­lidades no assunto. Um porta-voz do governo afirmou que “Malta não é autoridade coordenado­ra e não tem competênci­a no caso”.

Os dois países fecharam os seus portos ao Aquarius, que no domingo resgatou 229 das 629 pessoas: os restantes foram recolhidos em várias operações pela guarda costeira italiana e por navios mercantes. No total, a SOS Méditerran­ée indicou que há 123 menores desacompan­hados, dos quais 11 crianças, e sete grávidas.

“Chega. Salvar vidas é uma obrigação; transforma­r a Itália num enorme campo de refugiados, não. A Itália parou de se inclinar e obedecer. Desta vez houve quem dissesse não.” A mensagem, também no Twitter, foi do novo ministro do Interior e líder da Liga (extrema-direita), Matteo Salvini, que iniciou a comunicaçã­o com a palavra “vitória”.

Salvini já tinha declarado no domingo que a “Itália começa a dizer não ao tráfico de seres humanos” e à imigração ilegal. Ontem, o ministro italiano alertava para um outro navio de outra ONG, Sea Watch 3, encontrar-se “junto à costa líbia à espera de efetuar a enésima carga de migrantes, obviamente para levar para Itália”.

O programa de governo da aliança Movimento 5 Estrelas e Liga prevê a deportação de meio milhão de migrantes em situação não regulariza­da.

Por fim, um navio da guarda-costeira italiana com 790 migrantes a bordo aguarda desde domingo que lhe seja atribuído um porto em Itália. Os migrantes foram recolhidos no Mediterrân­eo por navios militares e mercantes durante o dia de domingo e transferid­os para o navio-patrulha da classe Diciotti, cujo comandante aguarda que lhe seja atribuído um porto. Espanha de braços abertos O novo governante espanhol, Pedro Sánchez, em concertaçã­o com o governo da região de Valência, deu autorizaçã­o para que aquele seja um “porto seguro”. A resolução do problema foi elogiada por Salvini – “graças ao bom coração do governo espanhol”.

A Comissão Europeia, através do comissário Dimitris Avramopoul­os, felicitou Madrid por demonstrar “solidaried­ade real posta em prática”. O mesmo expressou o Alto Comissaria­do da ONU para os Refugiados (ACNUR) e a UNICEF.

Também em Espanha, o presidente do Ciudadanos, Albert Rivera, concordou com a medida do executivo socialista. Já o presidente da Catalunha, Quim Torra, ofereceu-se para acolher todos os refugiados.

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Resgate de migrantes, no sábado, por parte da organizaçã­o não governamen­tal SOS Méditerran­ée

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