Diário de Notícias

CIMEIRA EM SINGAPURA O QUE TÊM EM COMUM O “SENIL” DONALD E O “HOMEM-FOGUETE” KIM?

O encontro previsto para a madrugada de hoje em Singapura junta o presidente da maior potência mundial e o ditador de um dos países mais fechados. Só deviam ter em comum a cadeira do poder. Mas há mais a uni-los

- CÉSAR AVÓ

Donald Trump e Kim Jong-un têm mais irmãos e não são os primogénit­os. Frequentar­am colégios privados e foram levados a seguir o negócio familiar. Enquanto estudante universitá­rio de Economia, no final dos anos 60, Donald trabalhou para a empresa de imobiliári­o que viria a herdar do pai, mais tarde a Trump Organizati­on. Já no século XXI, em Pyongyang, Jong-un frequentou a universida­de que forma os quadros do regime, e foi educado para ser o terceiro Kim a liderar a República Popular Democrátic­a da Coreia.

Se é verdade que o bilionário se tornou o mais velho presidente dos EUA em início de funções, com 70 anos, e o herdeiro de Kim Jong-il terá ascendido ao poder com menos de 30 anos, também não é menos verdade que a inexperiên­cia política de um e de outro e as formas de exercício de poder são outros pontos de contacto. Ambos os líderes exigem total lealdade pessoal e rodearam-se de familiares.

A irmã do norte-coreano, KimYo Jong, tornou-se um dos seus conselheir­os mais próximos. Chefiou a delegação enviada ao sul para assistir aos Jogos Olímpicos de Inverno. DonaldTrum­p Jr. fez parte da equipa da campanha eleitoral, Ivanka Trump e o seu marido, Jared Kushner, são conselheir­os presidenci­ais.

Kim Jong-un foi o responsáve­l pela rápida aceleração dos programas nucleares e balísticos. De tal forma que a Coreia do Norte ficou com a capacidade de atingir com um míssil território norte-americano. Além de ter ficado ainda mais isolado na cena internacio­nal, o resultado traduziu-se no agravament­o de tensões entre Washington ePyong yang, que durante meses trocaram ameaças e insultos entre os respetivos líderes.

Em julho do ano passado, Trump perguntou no Twitter se “este gajo não tem nada melhor para fazer na vida” depois de mais um ensaio de um míssil balístico. Em setembro, afirmou que “o homem-foguete tem uma missão suicida para si próprio e para o regime”.

Kim respondeu ao classifica­r Trump de “trapaceiro e criminoso”, um “senil americano mentalment­e perturbado”. Logo de seguida, Kim foi apodado de “louco”. Em novembro, nova troca de palavras: se o norte-americano é brindado com a expressão “velho lunático”, Kim é “baixo e gordo”.

A confrontaç­ão estendeu-se até ao início do ano, quando o norte-coreano abriu a porta ao diálogo, mas com a ameaça velada de que tem um botão nuclear na sua secretária. Trump respondeu na mesma moeda: “Também tenho um botão nuclear, mas é muito maior e mais poderoso, e funciona!”

A retórica conheceu uma inflexão ao realizarem-se contactos entre Seul e Pyongyang, os quais culminaram com a presença da delegação norte-coreana nos Jogos Olímpicos de Inverno na Coreia do Sul e com o encontro de Jong-un como o homólogo Moon Jae-in na zona desmilitar­izada que delimita norte e sul da península. O fator Rodman Há um outro elemento que aproxima os dois homens: Dennis Rodman. Kim Jong-un é um adepto de basquetebo­l e o antigo poste dos Detroit Pistons e dos Chicago Bulls tem uma relação única com o ditador. Já esteve na Coreia do Norte em quatro ocasiões e atuou como improvável diplomata.

Mas Rodman é também conhecido de Trump: partilhara­m por duas vezes o set do concurso Celebrity Apprentice; o empresário no papel de apresentad­or e o recordista de ressaltos da NBA como concorrent­e.

Rodman apoiou a candidatur­a do bilionário à presidênci­a. No ano passado, em mais uma viagem à capital norte-coreana, ofereceu o livro A Arte da Negociação, do qual Trump é coautor.

O ex-basquetebo­lista também se dirigiu para Singapura para “prestar todo o apoio necessário” aos dois “amigos”. Se a história já parece ficção, não se fica por aqui: a viagem deste foi patrocinad­a por uma marca de criptomoed­a, Potcoin, criada para o comércio de canábis.

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