Diário de Notícias

O jogo mais bipolar de sempre arrasou com os nervos da multidão

LISBOA O Terreiro do Paço foi enchendo ao longo da tarde de ontem e à hora do Portugal-Espanha, já rebentava pelas costuras

- RAFAEL TOUCEDO

Os estrangeir­os encheram o espaço, convertend­o a Arena Portugal num relvado de cidadãos do mundo À hora do Portugal-Espanha, o espaço já estava a rebentar, com adeptos pendurados na Estátua de D. José I, à procura do melhor ângulo de visão

O dia começou murcho e acabou em delírio, na Arena Portugal. O ecrã gigante, montado no Terreiro do Paço – numa iniciativa da FPF e da Olivedespo­rtos, que tem como parceiros os principais meios do Global Media Group (DN, JN, O Jogo e TSF) –, levou à beira-rio milhares de adeptos para ver os jogos do segundo dia do Mundial. E o melhor ficou para o fim. À hora do Portugal-Espanha o espaço já estava a rebentar, com adeptos pendurados na estátua de D. José I, desesperad­amente à procura do melhor ângulo de visão.

O primeiro encontro opôs o Egito ao Uruguai. No arranque eram poucos os entusiasta­s, até porque são doispaíses­comcomunid­adespouco expressiva­s no país. O sol a bater de chapa, à hora de almoço, não impediu que o número de espectador­es fosse aumentando. Inserido numa zona turística, no centro da cidade, foi com naturalida­de que os estrangeir­os preenchera­m o espaço até perto da hora da estreia de Portugal frente à Espanha, convertend­o a Arena Portugal num relvado de cidadãos do mundo. E até Marcelo Rebelo de Sousa e Fernando Medina escolheram o palco junto ao Tejo para ver Portugal entrar em cena.

Os primeiros a festejar foram os uruguaios. Giménez marcou perto do fim do jogo e os egípcios lamentaram a ausência de Salah. “Queria muito que o Salah jogasse, até é o dia de aniversári­o dele”, lamentaram Michael Maged e Sara Yamama, dois estudantes de Erasmus na Universida­de Nova, amigos dos tempos de escola no Cairo a verem o encontro sozinhos, já que é “muito difícil encontrar egípcios em Portugal”.

Os apoiantes de Portugal começaram a chegar a meio do dia, ansiosos por reservar a melhor localizaçã­o na praça para ver o duelo ibérico, com início marcado para as 19.00. Com Ronaldo como porta-estandarte, as camisolas do sete de Portugal propagaram-se rapidament­e entre a multidão e a seleção das Quinas contou com inúmeros apoiantes de outras paragens, gratos pela hospitalid­ade lusa. Cian Nelson, irlandês a festejar a sua despedida de solteiro, formou com os amigos um onze original: os seus nove convidados equiparam à Portugal, com um Ronaldo de cartão e com o próprio Cian Nelson a completar a equipa... mas vestido com a camisola da Espanha! “A Irlanda não está no Mundial, então nós apoiamos Portugal. E o noivo só está vestido à Espanha porque já não é um de nós, vai casar-se!”, brincou um dos colegas.

No meio da multidão, um casal de namorados, cada um com a camisola de uma das seleções, dá nas vistas. No entanto, “foi por piada”, contou-nos Javier Piriz, espanhol natural de Olivença. Não quer dizer que não vista a camisola. “Trabalho na Embaixada de Espanha, tenho o BI espanhol, mas no fim do ano já terei também português, agora em Olivença temos direito a ter as duas nacionalid­ades”, explicou. A namorada, Rocío Castaño, também vive em Portugal e trabalha na área do turismo. Antes do jogo, nenhum tinha dúvidas: “Isco e Iniesta decidem! Ganha a Espanha 2-1 ou 3-2.”

Inquieto e nervoso estava António Guerra, de 68 anos e natural de Trás-os-Montes.Ver o jogo “num grande ambiente e com barulho” é a prioridade, mas outros valores se levantam. É que as vistas na praça não o deixam indiferent­e. “Sou viúvo, a ver se arranjo aqui uma mulher com dinheiro e carro”, brinca. O nervosismo com que vê o jogo, porém, advém de outro fator. É que António Guerra apostou cem euros em Portugal, suficiente “para ganhar o dobro e ainda ir jantar”.

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