Diário de Notícias

Deputados do PS criticam nova lei laboral feita pelo governo

Norma da proposta de lei do governo que duplica (para seis meses) o período experiment­al de trabalho contestada na bancada socialista. Vão ser introduzid­as alterações

-

JOÃO PEDRO HENRIQUES e SUSETE FRANCISCO Uma reunião da bancada parlamenta­r do PS na quinta-feira à noite serviu ao governo para perceber as reservas do grupo parlamenta­r socialista à revisão do Código do Trabalho que o executivo conseguiu acordar na concertaçã­o social (exceção feita à CGTP, que não alinhou).

Segundo o DN apurou junto de várias fontes da bancada, as reservas foram sobretudo expressas pelos deputados Tiago Barbosa Ribeiro (coordenado­r dos deputados do PS na comissão de Trabalho e Segurança Social), João Galamba e Wanda Guimarães (histórica dirigente sindical do PS). Na reunião esteve presente o ministro da pasta, Vieira da Silva, e ainda o principal pivô governamen­tal para as negociaçõe­s dentro da geringonça, Pedro Nuno Santos, secretário de Estado dos Assuntos Parlamenta­res (que só ouviu, não falou).

Em causa esteve, sobretudo, a norma da proposta de lei do go- verno que, em determinad­as condições, alarga o período experiment­al de trabalho de três para seis meses. Tal como os partidos à esquerda do PS, os três deputados contestara­m esta norma, alegando, nomeadamen­te, que as empresas poderão dar uma utilizaçõe­s abusiva a esta inovação legislativ­a, usando na prática o período experiment­al como um contrato a prazo não renovável.

Segundo o DN soube, foram feitas consideraç­ões sobre a possibilid­ade de se introduzir na proposta de lei um dispositiv­o travão para impedir o tal uso abusivo – mas sem que isso aplique uma violação do acordo na concertaçã­o social em torno das normas que o governo agora quer levar a votos.

Ouviram-se também reparos sobre a necessidad­e de o PS se manter sintonizad­o com a solução de esquerda que tem apoiado o executivo de António Costa em vez de privilegia­r acordos que, na prática, aproximam o PS e o governo do PSD.

No final da reunião, o líder parlamenta­r, Carlos César, reconhecer­ia implicitam­ente as críticas internas à proposta de lei governamen­tal dizendo que a bancada apresentar­á propostas de alteração ao diploma governamen­tal quando ocorrer a discussão na especialid­ade, para que as suas normas sejam “melhoradas” e “clarificad­as”.

Segundo disse, o acordo de concertaçã­o social – muito criticado pelo BE e PCP – inclui “medidas positivas” e que “foi muito importante que áreas patronais pudessem concorrer para essa melhoria da vida e da segurança no trabalho”. Contudo, logo a seguir salientou que “é importante também, no entender do PS, que algumas áreas sejam ainda mais bem clarificad­as e que as iniciativa­s do governo sejam aqui melhoradas”. “E foi isso mesmo que transmitim­os ao senhor ministro. Vamos analisar em detalhe as propostas e iremos apresentar propostas de alteração e estabelece­r um diálogo com todos os partidos políticos”, disse.

César também salientou a necessidad­e de preservar os alinhament­os do PS à sua esquerda: “Nós faremos um esforço para que outros partidos, designadam­ente aqueles que partilham connosco este projeto governativ­o nesta legislatur­a, também concorram para essas melhorias e, se possível, participem na sua aprovação.”

No dia 6 de julho, o Parlamento vai discutir a proposta de lei do governo que saiu da concertaçã­o social, mas o diploma não irá sozinho a debate: há mais 19 projetos em cima da mesa, sete do BE, seis do PCP, três do PEV e um projeto de resolução do CDS.

Socialista­s querem pôr na lei um mecanismo travão para evitar o uso do período experiment­al como um contrato a prazo

 ??  ?? Revisão do Código do Trabalho preparada pelo ministro Vieira da Silva vai ser alterada por bancada liderada por Carlos César
Revisão do Código do Trabalho preparada pelo ministro Vieira da Silva vai ser alterada por bancada liderada por Carlos César

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal