Diário de Notícias

O CAMPEÃO VOLTOU

Capitão assina exibição épica no único palco que ainda resistia aos seus feitos sobrenatur­ais e impõe empate na estreia

- RUI FRIAS

A seleção nacional empatou a três golos com a Espanha no arranque do Mundial, mas viu Ronaldo exibir-se a um nível estratosfé­rico, com três golos que o imortaliza­m na história do torneio. Marcelo Rebelo de Sousa viu toda a ação na Arena Portugal.

Se uma grande exibição num Campeonato do Mundo é critério de admissão ao panteão dos deuses do futebol, então Cristiano Ronaldo derrubou essa última barreira. Os três golos com que carregou Portugal para um empate vertiginos­o frente a Espanha (3-3) na estreia neste Mundial acabam de vez com a discussão. Ronaldo teve o seu momento imortal na história da mais importante competição do futebol. Como Eusébio contra a Coreia em 1966, Pelé contra a França em 1958 ou Maradona contra a Inglaterra em 1986, a exibição de CR7 contra a Espanha no Mundial 2018 vai ficar para a eternidade.

O hat trick do capitão português permitiu-lhe aumentar a lista infindável de registos extraordin­ários na carreira, mas sobretudo fê-lo conquistar definitiva­mente o único palco (um Mundial) que ainda resistia aos seus feitos sobrenatur­ais (sim, porque um golo em cada uma das três edições anteriores em que participou era um registo banal para uma carreira como a de Ronaldo).

E permitiu também, claro, à seleção portuguesa sair da montanha-russa emocional que foi este duelo ibérico com o ânimo intacto para o resto da competição, reforçado até pela demonstraç­ão de que o melhor do mundo está em ponto de rebuçado para aquele que, aos 33 anos, será provavelme­nte o seu último Mundial ao mais alto nível.

Portugal terá beneficiad­o ainda de uma ajudinha prévia dos espanhóis, que “resolveram” soltar mais notícias sobre os imbróglios fiscais de Ronaldo no despertar do dia do jogo. Se o timing foi tático, foi de uma ingenuidad­e amadora. Cristiano, já se sabe, alimenta-se desse combustíve­l. E voltou a fazê-lo contra uma Espanha que tentava disfarçar as cicatrizes da polémica que marcou os dias prévios, com a inusitada troca de selecionad­ores.

Num jogo que, repita-se, foi uma montanha-russa de emoções e acontecime­ntos, com mudanças sucessivas de estados de alma, Portugal, campeão europeu em título, tentou aproveitar logo de entrada a possível fragilidad­e anímica do rival. E entrou como um pugilista feroz, direto aos queixos do adversário. Uma grande entrada em jogo da seleção: com bola, proativa no meio-campo espanhol e desde logo com Ronaldo a mostrar o entusiasmo com que iria inundar a partida, numa ação simbólica em que recuou quase ao meio-campo para ligar jogo com um dos seus truques de marca (aquele toque com uma perna por trás da outra). Em menos de nada (quatro minutos), Portugal estava em vantagem, graças a um penálti bem conquistad­o pelo avançado do Real Madrid.

Com o jogo no registo que queria, Portugal controlou durante uns bons 20 minutos, com Gonçalo Guedes a dar velocidade e profundida­de aos contragolp­es e Bruno Fernandes bem a lançá-los. Mas então, numa faísca, chegou a primeira viragem brusca da partida: Guedes perdeu uma oportunida­de clara numa área e Diego Costa castigou-o na outra, após um empurrão a Pepe que o videoárbit­ro “legalizou”.

A partir daí, o jogo foi uma vertigem imparável. Portugal teve o jogo onde queria por duas vezes – Ronaldo fez o 2-1 mesmo antes do intervalo, com a ajuda de De Gea –, perante um rival que tinha todas as condições para se derrocar animicamen­te, mas pareceu esquecer-se da condição primordial para derrotar Espanha: o rigor defensivo perante uma seleção que, mesmo fragilizad­a, continua a ter um futebol superior capaz de causar dano a qualquer rival. Como mostrou na segunda metade, com Iniesta, Isco, Alba (sobretudo esses) e C.ª a conseguire­m entrar com a bola no pé por entre as linhas desalinhad­as da defesa portuguesa.

A desorganiz­ação portuguesa custou dois golos: o 2-2 num livre de laboratóri­o em que Guedes deixou fugir Busquets nas costas e Diego Costa voltou a aproveitar; e o 3-2 quase a seguir, num remate de Nacho que culminou uma jogada que evidenciou a desorienta­ção defensiva de Portugal.

Aqui, e apesar das boas reações de Fernando Santos desde o banco (sobretudo Quaresma e João mário), à seleção portuguesa parecia restar apenas um milagre, algo épico que evitasse a derrota. Como um livre de... Cristiano Ronaldo, a três minutos do fim. 1. Ronaldo festeja o terceiro golo de Portugal, marcado na cobrança de um livre. 2. Bruno Fernandes, que ontem se estreou numa fase final, chuta uma bola perante a presença de Silva. 3. O abraço entre Hierro, que substituiu Lopetegui, e o selecionad­or nacional, Fernando Santos. 4. O lance faltoso entre Diego Costa e Pepe (há falta do hispano-brasileiro), que acabaria por resultar no primeiro golo da Espanha. 5. O frango de De Gea no segundo golo de Ronaldo

 ??  ??
 ??  ??
 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal