O futuro do musical
Mais de meio século passado sobre o filme original, está em marcha uma nova versão cinematográfica
Em janeiro, soube-se que Steven Spielberg vai dirigir uma nova versão cinematográfica de West Side Story. Convenhamos que os mais céticos registaram a notícia como uma mera hipótese de produção: não seria a primeira vez que Spielberg arrancaria com um projeto, acabando por abandoná-lo por causa da pressão para rodar outros (eventualmente conservando no genérico a designação de “produtor executivo”, em casos como estes muitas vezes apenas uma obrigação contratual). O certo é que, cerca de três meses mais tarde, foram publicitadas as primeiras sessões de casting para os cinco papéis principais: Maria, Anita, Tony, Bernardo e Riff. O anúncio tinha o cuidado de sublinhar que os candidatos deviam ter entre 15 e 25 anos e saber cantar, sendo imperioso possuir “sólida formação” no campo da dança. Há outra maneira de dizer isto: Spielberg vai apostar em nomes desconhecidos, não fazendo depender a construção do seu filme da presença de uma qualquer estrela. A verdadeira estrela será a própria peça de Arthur Laurents, com a música de Leonard Bernstein e os versos de Stephen Sondheim – afinal de contas, além do filme de Robert Wise e Jerome Robbins, há muito que West Side Story se consolidou como uma referência lendária no imaginário teatral americano e, em particular, na mitologia da Broadway. Perguntarão também os mais reticentes: o que é que o autor de clássicos da aventura como Os Salteadores da Arca Perdida (1981) e Parque Jurássico (1993) tem que ver com o musical? Mais ainda: como é que este novo projeto “encaixa” num universo criativo pontuado por admiráveis dramas humanos como Império do Sol (1987) ou A Lista de Schindler (1993)? No limite, tais perguntas serão irrelevantes, quanto mais não seja porque Spielberg pertence a uma tradição de cineastas americanos “artesanais” que se distinguem pela capacidade de circular entre os mais diversos modelos narrativos e espetaculares da indústria de Hollywood. Em qualquer caso, não esqueçamos que em Indiana Jones e o Templo Perdido (1984) há um genuíno momento musical: é a cena de abertura, uma delirante coreografia protagonizada por Kate Capshaw que tem como pano de fundo musical Anything Goes, o tema clássico de Cole Porter. Que Spielberg encontraremos, então, a dirigir West Side Story? Uma coisa é certa: a adaptação, assinada por Tony Kushner, vai continuar a colocar a ação na década de 1950, dando especial ênfase às personagens com raízes latinas. O anúncio do casting tinha mesmo o cuidado de lembrar que Maria, Anita e Bernardo “são latinos”. Habitualmente associado a um cinema dito de “efeitos especiais”, irá Spielberg fabricar um West Side Story muito ligado aos artifícios próprios do estúdio? Em boa verdade, tal classificação ignora a pluralidade de registos dramáticos e opções técnicas que têm pontuado a sua filmografia. Repare-se apenas nos títulos que dirigiu depois de Lincoln: A Ponte dos Espiões (2015), O Amigo Gigante (2016), The Post (2017) e, enfim, Ready Player One: Jogador 1 (2018), aventura futurista centrada nos videojogos, por certo um dos empreendimentos tecnicamente mais complexos de toda a sua carreira.
Renovar o musical
A história recente do musical está cheia de altos e baixos. Em 2016, La La Land, de Damien Chazelle, foi por muitos encarado como um sinal de que Hollywood poderia ter encontrado a chave para relançar o género. Para já, refira-se que até ao final do ano surgirão três projetos muito ambiciosos que, no mínimo, nos vão pôr a especular sobre o “renascimento” do musical. São eles: Mamma Mia! HereWe Go Again, tentando repetir o sucesso do filme de 2008, O Regresso de Mary Poppins, com Emily Blunt a retomar a personagem que consagrou Julie Andrews em 1964, e Assim Nasce Uma Estrela, nova versão de uma história já várias vezes filmada, agora com Bradley Cooper, na dupla condição de ator/realizador, a contracenar com Lady Gaga. No acerto destas contas, o novo West Side Story terá, seguramente, um papel importante. Quando o poderemos ver? Talvez em finais de 2019, mas ainda ninguém sabe. JOÃO LOPES