A elite das desigualdades
Quem nos governa só aceita como projeto educativo as escolas da Parque Escolar e afere a sua qualidade pelos candeeiros de Siza Vieira e pelas estruturas para guardar esquis. Quem tem “elites” destas só pode ser masoquista
Em Portugal fecham-se escolas com contrato de associação. Escolas com contrato de associação são escolas privadas que têm contrato com o Estado para servirem localidades com oferta estadual insuficiente. O contrato é feito assim: contabiliza-se um pre- ço por turma – que na maioria dos casos é inferior ao custo que os contribuintes suportam pelas turmas das escolas estaduais e nunca é superior – e paga-se a colégios privados para desempenharem esta função do Estado. Na maioria dos casos estes colégios privados estão em zonas desfavorecidas, no interior desertificado, e têm décadas de existência. Têm oferta educativa diversificada, boas condições e, na generalidade, melhor desempenho em comparação com as escolas estaduais. Têm também a particularidade de integrarem professores que não fazem parte da carreira docente do Ministério da Educação. São escolas de qualidade (o financiamento depende disso), têm um papel fundamental em muitas áreas onde a igualdade de oportunidade é uma anedota e têm professores que não dançam ao som dos tambores dos sindicatos. Pois isto está mal. Escolas assim, competentes, fiscalizadas, que cumprem a função do Estado e dão o melhor aos alunos gratuitamente, é inaceitável e são uma pedra na engrenagem das nossas elites pensantes. As nossas “elites” reinantes não toleram que existam soluções além das protagonizadas por modelos esgotados em que o ensino gratuito só pode ser prestado por escolas estaduais, funcionários públicos e onde tudo funciona de forma centralizada e condicionado pelos sindicatos. Não se tolera uma escola onde Mário Nogueira é irrelevante. E é por isto, só por isto, que os colégios com contrato de associação estão a fechar: porque se dedicam a ensinar, a formar e a prestar um serviço público de educação em vez de servirem para jogos de poder entre esquerda e direita, sindicatos e ministério, professores e carreiras. Uma escola centrada nos alunos é intolerável à nossa “elite”. Uma “elite” que só fala de igualdade até conseguir marcar mesa no novo restaurante do Avillez. Ora, há poucas coisas que façam tanto pela igualdade, pela justiça social quanto os colégios com contrato de associação. Mas quem nos governa só aceita como projeto educativo as escolas da Parque Escolar e afere a sua qualidade pelos candeeiros do Siza Vieira e pelas estruturas para guardar esquis. Quem tem “elites” destas só pode ser masoquista.