Diário de Notícias

Hassan Nader “Ronaldo é do outro mundo e o único que faz ganhar uma equipa”

- CARLOS NOGUEIRA

Hassan Nader foi provavelme­nte um dos jogadores marroquino­s que maior impacto tiveram no campeonato português, tendo mesmo chegado a ser o melhor marcador em 1994-95 ao serviço do Farense, clube que represento­u durante dez épocas, com uma passagem de dois anos pelo Benfica onde conquistou uma Taça de Portugal. Aos 52 anos, o antigo avançado admite ser um admirador de Ronaldo, assumindo que este será o mundial da estrela portuguesa, que merece ser campeão do mundo. Como é que antevê este jogo de Marrocos com Portugal? O jogo será um pouco complicado para Marrocos, depois da derrota com o Irão. Está tudo muito difícil. Antes do início do Mundial tínhamos a esperança de que vencer o Irão seria a chave para depois podermos gerir nos jogos com o campeão da Europa e o ex-campeão Mundial. Só que tivemos um jogo que não correu bem, em que se aplicou aquela máxima de quem não marca, acaba por sofrer... Como é que o povo marroquino reagiu à derrota com a seleção do Irão? Foi uma grande desilusão. Ninguém aceitou a derrota, sobretudo pela forma como o selecionad­or montou a equipa. Mudou muito e colocou jogadores fora das posições habituais, o que impediu que alguns deles rendessem o que se esperava. Por exemplo, o Achraf, lateral direito do Real Madrid, jogou à esquerda e colocou como defesa direito o Amrabat, que é um jogador muito potente no ataque e ficou condiciona­do pela posição em que jogou. Além disso, o Ziyech e o Boussoufa não renderam o que se esperava. Quer dizer que o selecionad­or Renard Herve está a ser contestado? Está, por toda a gente. Consideram que ele é o grande culpado. Marrocos desperdiço­u uma grande oportunida­de, pois o Irão estava ao nosso alcance. Mas eles beneficiar­am da experiênci­a de Carlos Queiroz, um treinador que leu bem o jogo, fechou as linhas para Marrocos jogar e acabou por ter sorte de marcar num dos contra-ataques que a equipa teve. Marrocos não vai poder contar para este jogo com Amrabat. É uma baixa importante? Sim, não vai jogar, até foi ao hospital depois do jogo com o Irão. É uma grande baixa porque sabe sempre o que fazer com a bola nos pés e é o condutor do ataque da equipa. Com os iranianos, mesmo jogando como lateral, saíram dele as jogadas mais perigosas. Em Marrocos encaram este jogo como sendo contra Portugal ou contra Cristiano Ronaldo? É mais com o Ronaldo (gargalhada)! Quando foi o sorteio, todos sabiam que ia ser complicado. Quando se fala de Portugal, fala-se de Ronaldo. Aqui em Marrocos gostam muito dele e do Real Madrid. É um jogador do outro mundo! É o único que faz ganhar uma equipa. Pode estar ausente do jogo, mas de um momento para o outro aparece. Nunca lhe podes dar uma fração de segundo. Marcar um hat-trick à Espanha, não é para todos. Ronaldo é um ídolo também em Marrocos? Sim, claro. Nas ruas há muita gente com a camisola dele. Este poderá ser o Mundial de Ronaldo, porque este é o troféu que lhe falta no currículo. Ele merece ser campeão do mundo e ser o melhor marcador do campeonato. E como este deverá ser o seu último Mundial, vê-se que está muito concentrad­o. Isso viu-se nos olhos dele na forma como fez o terceiro golo à Espanha. Quando foi bater o livre parecia um robô que ia carregar numa tecla para bater a bola para onde queria. Acho que vai fazer um grande Mundial. E como é que se para o Ronaldo? Parar o Ronaldo? Essa é a pergunta do momento! Quem para este fenómeno? É complicado. É preciso que ele esteja adormecido, mas mesmo assim é preciso ter muito cuidado. Mas atenção que a seleção portuguesa também tem Gonçalo Guedes, Bernardo Silva, Quaresma... não é só o Ronaldo! Mas a seleção de Marrocos também tem jogadores experiente­s e com rodagem na Europa... É verdade e foi aquela que menos golos sofreu nas eliminatór­ias. Só que, frente a Portugal, Marrocos tem de ser um bloco e não dar espaços. Terá de usar uma estratégia mais defensiva e quando tiver uma oportunida­de tem de saber aproveitá-la. O problema é se sofrer um golo cedo, aí terá de assumir o jogo e tudo se torna mais complicado. Será uma seleção marroquina debilitada emocionalm­ente a que vai entrar em campo hoje em Moscovo? Antes do início do Mundial havia muito otimismo, pensavam todos que a vitória com o Irão era garantida e estavam todos mais preocupado­s com Portugal e Espanha, jogos em que se sonhava com pelo menos um empate... esse foi o problema. Mas ainda acredito, porque no futebol tudo é possível, como provam os jogos da Argentina, Alemanha e Brasil. Quando se fala do Portugal-Marrocos vem à memória aquela partida do México 86. Foi um jogo histórico para os marroquino­s? Sem dúvida. Foi a primeira vez que uma seleção africana passou a fase de grupos. E aquela vitória por 3-1 é lembrada ainda hoje. Aliás, as televisões têm mostrado os golos desse jogo, afinal aquele foi o momento mais alto da seleção marroquina e aqueles jogadores são ainda uns ídolos. Naquela altura era impensável ganhar a Portugal, mas tínhamos uma grande seleção. Os jogadores marroquino­s deviam ver aquele jogo para se motivarem? Acho que seria bom, mas de certeza que eles sabem e até é possível que falem entre eles. Olhe, que os faça acreditar que é possível ganhar. Foi especial para si jogar o Mundial de 1994, nos Estados Unidos? É o sonho de qualquer jogador jogar um Campeonato do Mundo. E eu até marquei um golo à Holanda. Foi um sentimento fantástico e um momento inesquecív­el. O ambiente que se vive é extraordin­ário, ainda para mais defrontar as melhores seleções do mundo.

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