Diário de Notícias

Os adjuntos Oceano e Rodolfo, três nortenhos na equipa médica, um preparador físico, um homem no outro na comunicaçã­o

Scouting,

- Em São Petersburg­o

RUI MIGUEL TOVAR E se a D. Teresa de Urraca tivesse dado um nó cego ao filho Afonso Henriques na batalha de São Mamede? E se D. João IV tivesse negado os insistente­s pedidos da sua mulher Luísa de Gusmão para se afirmar como cabecilha revolucion­ário contra a dinastia filipina? E se o terramoto de 1755 tivesse sido inofensivo? E se o Simões tivesse marcado o 2-2 em cima do minuto 90 contra a Inglaterra, na meia-final do Mundial’66? E se o Nené tivesse marcado o 3-1 à França na meia-final do Euro’84? E se o Baía defendesse o penálti do Zidane em 2000? E se Jorge Andrade e Costinha tivessem mantido o combinado na marcação individual dos cantos para a final do Euro 2004? E se a candidatur­a ibérica tivesse sido a eleita pela FIFA para organizar o Mundial 2018?

Ah, esta é fácil. Estaríamos certamente em San Sebastian (a curtir tapas à desgarrada), e não aqui, em São Petersburg­o (a devorar bifes tártaros à grande e à russa). São Petersburg­o, a capital mundial dos idiomas indecifráv­eis entre russo da Rússia, persa do Irão e árabe de Marrocos mais Egito. E se tentasse falar como eles? Missão impossível, e olhem que tenho a garganta arranhada há uns dias. E se apanhasse o comboio para Moscovo? Ahhhh, assim é que é falar.

Três horas e tal de viagem vale bem a pena. Até porque é ir de um mundo para o outro. A começar pelas pessoas. Lembram-se das calças do Doumbia na esquadra da GNR do Montijo, na ressaca do ataque na Academia de Alcochete? As calças, sim: rotas aqui, rasgadíssi­mas ali. Pois bem, o estilo é esse. A moda de 2018 já não passa por um traço ao nível do joelho ou o ligeiramen­te esfarrapad­o. Nã, nem pensar, isso é considerad­o démodè. Aqui, em Moscovo, é à Doumbia. Ou ao contrário – afinal, o homem assina pelo Sporting via-CSKA Moscovo. Nas ruas majestosas do centro, ali entre a Praça Vermelha e o Teatro Bolshoi, tanto eles como elas andam com as calças todas espirituos­as.

E se fugíssemos desta movida e fôssemos visitar o Irão? Challenge accepted. Afinal, temos de nos dar com os vencedores e, verdade seja dita, o Irão é a maior surpresa da primeira jornada do Mundial. Sim senhor, é muito engraçado o 1-1 da estreante Islândia à favorita Argentina, o 1-0 do México à campeão mundial Alemanha ou até o 1-1 da Suíça ao Brasil. Só que, caramba, o Irão é líder isolado de um grupo com Portugal e Espanha, os dois últimos campeões europeus. À conta de um autogolo do suplente marroquino Bouhaddouz aos 90'+5 (a propósito, o avançado iraniano Gucci escreve um extenso texto de apoio ao infeliz adversário no Facebook, um ato digno de figurar no álbum de recordaçõe­s deste Mundial).

E se o Irão ganhasse hoje à Espanha? Beeeeeem. Queiroz seria o primeiro treinador português a ganhar dois jogos seguidos em Mundiais, além de se qualificar automatica­mente para os oitavos-de-final. Baaaaah, a Espanha é fortíssima. Ai é, e Queiroz é o quê? Em cinco jogos contra a Espanha, só uma derrota – e em fora-de-jogo (1-0 de Villa no Mundial-2010). De resto, três vitó- Queiroz acompanhad­o pelos portuguese­s (e não só) do seu staff. Em cima (da esq. para a dir.); Miguel Saraiva; Mick (adjunto, irlandês), Oceano, Carlos Queiroz, Markar (adjunto, iraniano), Rodolfo e Alexandre Macias. Em baixo: Micael, Mikko (preparador físico, finlandês), Diego (chefe preparador físico, argentino) e Sebastião. rias em anos seguidos: Valido e JVP, 2-0 na meia-final do Euro sub-18 em 1988; Gil e Gil, 2-1 na meia-final do Euro sub-16 em 1989; JVP e Figo, 2-1 na meia-final do Euro sub-16 em 1990. Antes, um empate a zero na final do Euro sub-16 em 1988. Conta Queiroz. “Vamos para os penáltis e aí dá-se um acontecime­nto curioso.” Então? “Ninguém quer bater os penáltis, todos recusam e fogem à marcação. Aí tive de mandar uns berros e foi à base da obrigação: ‘És tu e vais marcar mesmo.’” Quem ganha? “Aconteceu a casualidad­e da vitória da Espanha, só que o nosso segundo lugar mereceu este comentário por parte do selecionad­or espanhol, um senhor chamado Pereda, com passado glorioso como futebolíst­ica do Barcelona. ‘Sou só um selecionad­or; se fosse responsáve­l desportivo do Barcelona, contratava a equipa toda de Portugal.’”

Na hierarquia do Irão, habemus Oceano como adjunto de Queiroz desde 2014. Craque da cabeça aos pés. Quando se parte a rir, apara o peito com a mão direita, não vá desconjunt­ar-se todo. No seu vasto currículo pela nossa seleção, dois golos à Espanha. Ah pois éééééééé. Dois, um em 1991, a passe de Futre (1-1), outro em 1994, de penálti, a castigar falta de Otero sobre Figo (2-2), ambos em Espanha (Castellón mais Vigo). Adivinhe lá quem está a jogar no outro lado? Esse mesmo, o agora selecionad­or espanhol Fernando Hierro. Para o campeonato espanhol, o saldo de Oceano vs. Hierro é vantajoso (3-2 em vitórias e outros dois empates) entre os jogos dos Reais, o de Madrid e o de San Sebastian (Sociedad). Toma lá, vai buscar.

Calma, isto das vidas cruzadas tem muito que se lhe diga. Olhem lá o caso de Rodolfo, adjunto como Oceano. Na única época de FC Porto (1999-2000), é suplente da Liga dos Campeões no Bernabéu e assiste do banco ao 3-1 final de Hierro, de penálti. Três portuguese­s no Irão. E se houvesse mais ainda? Es-pe-tá-cu-lo. No scouting, Miguel Saraiva (29 anos). Eborense de “nacionalid­ade”, comete a proeza de trabalhar nos rivais de Évora (Lusi-

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