Diário de Notícias

Lei de bases quer impor limite anual para taxas moderadora­s

Maria de Belém apresentou ontem a proposta para a nova Lei de Bases da Saúde, pedida pelo governo, em que se abre a porta a novas parcerias público-privadas no setor

-

PEDRO VILELA MARQUES A proposta para a nova Lei de Bases da Saúde quer estabelece­r limites aos montantes que os utentes têm de pagar por ano em taxas moderadora­s. O documento da comissão de revisão presidida pela ex-ministra Maria de Belém Roseira, e nomeada pelo governo, foi apresentad­o ontem de manhã em Lisboa e, apesar de continuar a “prever a cobrança de taxas moderadora­s pelas prestações públicas de saúde”, determina também medidas para “proteger os beneficiár­ios do pagamento excessivo”.

Nesta proposta, as parcerias público-privadas mantêm-se em letra de lei, ao contrário do que acontece, por exemplo, com o projeto de lei do Bloco de Esquerda, que vai a discussão no final da semana e que foi influencia­do por posições de António Arnaut e João Semedo.

“A lei deve estabelece­r limites ao montante total de taxas moderadora­s a pagar por prestação e por ano, com o objetivo de proteger os beneficiár­ios do pagamento exces- sivo por prestações públicas de saúde”, determina, no capítulo dedicado à prestação de saúde, a proposta que agora ficará em discussão pública durante 30 dias. No entanto, tal como até aqui, o texto continua a prever a cobrança de taxas moderadora­s, “determinan­do a isenção de pagamento em situações de interesse de saúde pública, de maior risco de saúde ou de insuficiên­cia económica”.

Na apresentaç­ão da proposta, no Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, Maria de Belém não explicou como serão determinad­os os limites às taxas. Adiantou apenas que elas serão “inteligent­es”, “capazes de acompanhar e constituir um instrument­o de política de saúde e que não contribuam para o empobrecim­ento da população”.

E se nas taxas moderadora­s a proposta do grupo liderado por Maria de Belém pode agradar à esquerda parlamenta­r – embora o projeto do BE defenda a isenção de pagamento de qualquer taxa em todos os cuidados prestados nos centros de saúde e nos serviços de urgência, incluindo o transporte de doentes –, já a secção dedicada às prestações públicas de saúde promete gerar mais discórdia. Mais PPP na saúde? O documento apresentad­o ontem abre a porta a novas parcerias público-privadas na saúde. “A lei pode ainda prever que a gestão de estabeleci­mentos e serviços do Serviço Nacional de Saúde ou de partes funcionalm­ente autónomas dos mesmos possa constituir objeto de concessão com entidades do setor de economia social e com entidades privadas, bem como de convenção com grupos de médicos ou outros profission­ais de saúde que para o efeito disponham de personalid­ade jurídica e que tais contratos possam incluir no seu objeto a construção, reconstruç­ão, ampliação, adaptação ou beneficiaç­ão, acompanhad­as ou não da dotação dos meios adequados de que o estabeleci­mento careça”. Apoio ao privado sai da lei No entanto, é de notar uma grande alteração em relação à lei de 1990, que estipulava claramente que “o Estado apoia o desenvolvi­mento do setor privado de prestação de cuidados de saúde em função das vantagens sociais decorrente­s das iniciativa­s em causa e em concorrênc­ia com o setor público”. Um apoio que deixa de estar na lei que agora vai ser discutida e que prevê apenas a articulaçã­o com os setores privado e social para garantir o acesso atempado aos cuidados de saúde, sempre que o SNS não consiga responder. Já tendo em conta o novo contexto de descentral­ização de competênci­as, prevê-se também a celebração de contratos-programa com autarquias para a realização de prestações públicas de saúde ou para a gestão de estabeleci­mentos e serviços do Serviço Nacional de Saúde.

A nova lei defende que o financiame­nto público na saúde deve “aproximar-se da média da União Europeia”, em resposta às críticas de desinvesti­mento no setor e degradação dos serviços. Parte desse investimen­to deve reverter para os incentivos aos profission­ais de saúde, explicou Maria de Belém, que podem passar por apoios à formação e não necessaria­mente por aumentos salariais.

Destaque ainda para uma maior cooperação com a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa no âmbito da investigaç­ão, medicament­os e profission­ais de saúde. O documento estará em discussão pública até às 23.59 do dia 19 de julho e todos os contributo­s podem ser enviados através do e-mail comissao.bases.saude@sg.min-saude.pt. A proposta final deve estar pronta em setembro.

“A lei pode ainda prever que a gestão de estabeleci­mentos do SNS possa constituir objeto de concessão com entidades do setor social e privadas”

 ??  ?? O documento apresentad­o ontem defende que o financiame­nto público na saúde deve “aproximar-se da média da União Europeia”
O documento apresentad­o ontem defende que o financiame­nto público na saúde deve “aproximar-se da média da União Europeia”

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal