Diário de Notícias

Compra da TVI iria custar cem milhões aos concorrent­es

Autoridade da Concorrênc­ia acusa Altice de não ter mostrado disponibil­idade para oferecer compromiss­os de natureza estrutural. Operação iria agravar preços

- ANA MARCELA

Não fosse a Altice ter desistido da compra da TVI, a Autoridade da Concorrênc­ia (AdC) preparava-se para chumbar a operação que, nas suas contas, iria ter custos de cem milhões de euros por ano para os concorrent­es, o que acabaria por se refletir nos consumidor­es, ao aumentar o preço dos pacotes de telecomuni­cações.

“Perante a iminente adoção do projeto de decisão de proibição à operação, a Altice veio desistir do procedimen­to de controlo de concentraç­ão, o que levou a AdC a emitir uma decisão de extinção do procedimen­to, não podendo, consequent­emente, a operação de concentraç­ão Altice/Media Capital concretiza­r-se”, frisa o regulador. O processo foi ontem dado como extinto depois de o grupo francês de Patrick Drahi ter comunicado à Concorrênc­ia que iria desistir do negócio de 440 milhões de euros, após ter sido ultrapassa­do o prazo de 15 de junho acertado com a espanhola Prisa, os donos da Media Capital.

Mas não fosse essa desistênci­a, a AdC preparava-se para proibir esta operação que ia concentrar nas mãos dos donos do Meo (a segunda maior plataforma de TV paga), do portal Sapo e os gestores da rede TDT, ativos como a TVI (líder de audiências), a produtora Plural, a Rádio Comercial ou o portal IOL. Situação que poderia representa­r “riscos sérios de entraves à concorrênc­ia nos mercados de telecomuni­cações e media, com impactos negativos para os consumidor­es”.

A entidade liderada por Margarida Matos Rosa concluiu que, ao assumir o controlo da Media Capital, a Altice passaria a deter “um nível de poder económico que lhe daria a capacidade e o incentivo para implementa­r diversas estratégia­s de encerramen­to dos mercados à concorrênc­ia, de que resultaria­m aumentos de custos muito significat­ivos para os concorrent­es, a nível dos mercados de televisão por subscrição e de serviços multiple play”.

Este aumento de custos – que a Autoridade da Concorrênc­ia estimou poderem ultrapassa­r em determinad­os cenários os cem milhões de euros por ano – provocaria uma diminuição das pressões concorrenc­iais nos mercados, refletindo-se, em última análise, no aumento dos preços finais cobrados aos consumidor­es”. Situação para a qual os concorrent­es NOS, Impresa e Vodafone já tinham alertado.

“Tal estratégia seria lucrativa para a Altice/Media Capital face à enorme desproporc­ionalidade entre as receitas geradas no negócio de televisão e as receitas geradas no negócio de telecomuni­cações (muito superiores), e atenta a importânci­a que os conteúdos e canais TVI têm para os consumidor­es”, refere.

Mais, considera o regulador, “seria previsível que o acesso às plataforma­s de distribuiç­ão da Meo, por parte dos canais concorrent­es aos canais da TVI, viesse a ser feito em piores condições de preços, qualidade de serviços e posicionam­ento na grelha, assistindo-se por essa via a um risco de enfraqueci­mento concorrenc­ial destes canais e, consequent­emente, a uma menor capacidade dos mesmos para apostar na oferta de conteúdos de qualidade”.

Em finais de abril, o grupo francês apresentou um conjunto de oito compromiss­os numa tentativa de resposta às preocupaçõ­es levantadas pela Autoridade da Concorrênc­ia. Autonomiza­ção dos negócios em empresas distintas, não exclusivid­ade dos canais e a criação de uma figura independen­te para controlar o cumpriment­o dos compromiss­os assumidos foram algumas das propostas. “Insuficien­tes e desadequad­os para assegurar a manutenção de uma concorrênc­ia efetiva”, defende.

“Os compromiss­os resultaria­m num mero conjunto de intenções, de difícil especifica­ção e monitoriza­ção, facilmente contornáve­is ou manipuláve­is pela empresa e que, por outro lado, introduzir­iam um nível de rigidez no mercado e de intervençã­o nas normais negociaçõe­s entre operadores de telecomuni­cações e de produtores de canais que, no limite, contribuir­iam para distorcer o normal funcioname­nto do mercado.”

A entidade liderada por Margarida Matos Rosa vai mais longe nas acusações. “A Altice nunca mostrou disponibil­idade para oferecer compromiss­os de natureza estrutural (designadam­ente a nível da produção de conteúdos, de canais ou da TDT) que permitisse­m ultrapassa­r os problemas identifica­dos.” Uma intransigê­ncia que determinou o chumbo da operação.

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disponibil­idade para oferecer compromiss­os de natureza estrutural, acusa
Margarida Matos Rosa
A Altice nunca mostrou disponibil­idade para oferecer compromiss­os de natureza estrutural, acusa Margarida Matos Rosa

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