Diário de Notícias

Quem era XXXTentaci­on, o rapper baleado nos EUA?

O músico de 20 anos foi abordado por dois homens armados à porta de uma loja. Com um historial de violência e prisões, aguardava julgamento por agressão à namorada grávida

- MARIA JOÃO CAETANO

Nos últimos dois anos, o músico XXXTentaci­on conseguiu colocar as suas músicas nos tops e nos ouvidos de milhares de jovens, mas também se tornou conhecido pelos vários incidentes violentos em que esteve envolvido. Neste momento, aguardava julgamento num caso de violência doméstica, de 2016, em que era acusado de agressão a uma mulher grávida, estrangula­mento e ameaça a testemunha­s.

De acordo com as declaraçõe­s da polícia da Florida, o músico norte-americano de 20 anos foi baleado à porta de uma loja de motos, pouco antes das 16.00 locais. Dois homens aproximara­m-se e foram ouvidos vários tiros. A polícia está a investigar o que poderá ser apenas um caso de roubo que acabou mal. Do lado errado da América Jahseh Onfroy nasceu em Plantation, no sul da Florida, EUA, em 1998. Vivia com a mãe e, às vezes, com a avó. “A minha mãe estava muitas vezes em situações em que não podia tomar conta de mim”, contou numa entrevista ao podcast No Jumper. Desde muito novo, viu-se envolvido em situações de violência. “Luto desde criança”, contou. Quando tinha 6 anos, tentou esfaquear um homem que estava a “importunar” a mãe. Na adolescênc­ia, começou a sua paixão pela música. Foi fã de nu metal e de hard rock. Tentou aprender, sozinho, a tocar guitarra e piano. Percebendo o seu interesse pela música, a mãe inscreveu-o no coro, mas como ele foi expulso da escola por ter andado à pancada com um colega, não chegou a participar.

XXXTentaci­on compôs a sua primeira canção quando estava no liceu. Isto foi algures entre 2012 e 2014. Depois disso, passou cerca de nove meses a um ano num centro de detenção juvenil devido a uma acusação de posse de arma – um período recheado de vários incidentes violentos, incluindo contra um companheir­o de cela de quem ele não gostava apenas porque era homossexua­l.

Em março de 2014, XXXTentaci­on começa a publicar as suas músicas na SoundCoud. É nesta altura que se começa a ouvir falar de XXXTentaci­on. Não só por causa da música mas também devido aos casos de justiça. Em agosto de 2016 foi preso devido a uma queixa relativa a novembro de invasão de propriedad­e, roubo e agressão. Aceita, então, ficar em prisão domiciliár­ia.

Mas quando sai da prisão agride a namorada por ela admitir que tinha dormido com outro homem. De acordo com o testemunho dela, pôs-lhe uma faca na garganta, estrangulo­u-a “um bocadinho” e ameaçou atingi-la com uma garrafa de vidro. Apesar destes e de outros incidentes, os dois continuara­m juntos . Em outubro, a namorada descobre que está grávida. Aparenteme­nte, XXXTentaci­on não reage bem a esta notícia. Nos dias seguintes, bate-lhe várias vezes e ameaça matá-la . Acaba por levá-la para outro apartament­o, tira-lhe o telefone e deixa-a lá fechada, sozinha. Quando ela consegue fugir vai à polícia e queixa-se também de outras agressões anteriores. XXXTentaci­on é preso a 8 de outubro de 2016 e acusado de agressão violenta de uma mulher grávida, ficando detido. Só seria libertado em março seguinte. Olhem para mim Enquanto o músico está na prisão, Look at Me entra para o número 95 do top 100 da Billboard. O tema tornou-se mais conhecido quando o músico Drake lançou o tema KMT e foi acusado de plagiar XXXTentaci­on. Na primeira entrevista que dá após sair, em abril de 2017, acusa Drake: “Ele não é um homem. Penso que ele é uma cabra, é a atitude de uma cabra.” Nessa altura Look at Me chega ao 24.º lugar da tabela.

O primeiro álbum surge em agosto e chama-se 17. Apesar de as críticas não serem consensuai­s, o disco é aconselhad­o por Kendrick Lamar, o que o torna logo um dos discos do momento, tendo chegado ao número dois do top da Billboard.

Entretanto, continuam a surgir notícias de incidentes violentos com fãs em concertos. O vídeo de Look at Me é lançado pouco antes do início do julgamento por violência doméstica. De então para cá, têm surgido rumores e notícias contraditó­rias, e uma é de um contrato com a Capitol Records para distribuir um novo disco, no valor de seis milhões de dólares, mas depois o rapper vem dizer nas redes sociais que afinal continua “livre” como sempre foi. Tão depressa anuncia que já não vai voltar a fazer música como diz que se Ski Mask The Slump God voltar a ser seu amigo, está disposto a continuar a colaboraçã­o que tinham.

Em março, lança finalmente o segundo álbum, com o título ?.O disco entra diretament­e para o primeiro lugar da tabela de álbuns da Billboard. Só na primeira semana são vendidos 131 mil exemplares. Um dos temas de sucesso é Sad.

Nos últimos meses foi novamente acusado de ameaçar as testemunha­s do caso de violência doméstica e também de pressionar a ex-namorada para que retirasse a queixa contra ele. Até agora, no entanto, não há qualquer indício de que a sua morte esteja de alguma forma relacionad­a com estes casos.

Na sua curta carreira, XXXTentaci­on vendeu mais de dois milhões de discos. A sua música, uma mistura de hip hop e emo rap, poderia ser tão violenta quanto depressiva e era, na verdade, o reflexo de uma vida marcada por agressões – as que sofreu e as que infligiu. Nas canções falava frequentem­ente da depressão e do suicídio, revelava a sua misoginia e uma revolta permanente contra a sociedade. Era consumidor frequente de Xanax, um antidepres­sivo. E tinha em Kurt Cobain um dos seus ídolos, dizia que era “a única pessoa” que verdadeira­mente o tinha inspirado.

“Descansa em paz. Enquanto estavas vivo, nunca te disse o quanto me inspiraste. Obrigado por existires”

KANYE WEST

MÚSICO

“Se eu morrer de forma trágica ou se alguma coisa acontecer, quero ter a certeza de que fiz cinco milhões de miúdos felizes”

XXXTENTACI­ON

MÚSICO

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Nos últimos dois anos, XXXTentaci­on lançou dois álbuns que chegaram ao topo da tabela da Billboard

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