Diário de Notícias

HÁ RISCO DE O ESTADO TER DE PÔR MAIS DINHEIRO NA TAP

Previsões do plano de negócios não permitem projetar o futuro do negócio, diz Tribunal de Contas. E alerta para risco de o Estado ser chamado a pôr dinheiro na companhia

- SÓNIA SANTOS PEREIRA

O Estado pode ter de voltar a abrir os cordões à bolsa para capitaliza­r e financiar a TAP. O processo de recomposiç­ão do capital social da transporta­dora portuguesa, que culminou com a Parpública a assumir o controlo estratégic­o da companhia, com 50% das ações, agrava “as responsabi­lidades financeira­s do Estado”, diz a auditoria do Tribunal de Contas à reprivatiz­ação e recompra da companhia aérea, feita a pedido da Assembleia da República.

O documento sublinha que o Estado “recuperou o controlo estratégic­o, mas perdeu direitos económicos” quando assegurou os 50% da TAP e assumiu “maiores responsabi­lidades na capitaliza­ção e no financiame­nto da empresa”. Em suma, a reprivatiz­ação e recompra da companhia aérea “não conduziu ao resultado mais efi- ciente”, nomeadamen­te por não ter existido “o consenso necessário entre os decisores públicos”. Ainda assim, considera que o processo foi “regular”, tendo em conta a instabilid­ade legislativ­a e as sucessivas alterações contratuai­s, e “eficaz” quer na reprivatiz­ação (viabilizou a empresa) quer na recompra (recuperaçã­o do controlo de um ativo estratégic­o). A análise do Tribunal de Contas incidiu na reprivatiz­ação, aprovada e realizada pelo governo de Pedro Passos Coelho, e na recompra, concretiza­da pelo executivo de António Costa. Negócio com riscos A sustentabi­lidade futura do negócio, principalm­ente após 2022, é posta em causa pelo organismo presidido por Vítor Caldeira, cuja auditoria não conseguiu identifica­r um período de cruzeiro do negócio. “O plano de negócio não revela as expectativ­as das partes após 2022, nomeadamen­te sobre a evolução dos ganhos operaciona­is”, o que cria “riscos quanto à necessidad­e de reforçar o capital próprio” da TAP. Mas o documento realça que o plano estratégic­o delineado para o período 2017-22 apresenta indicadore­s positivos no que se refere aos capitais próprios (inversão de 525,2 milhões de euros negativos para 88,5 milhões positivos) e lucros (de 37,1 milhões negativos para 167,7 positivos).

Segundo este exame, há mais os riscos subjacente­s à recompra da TAP do que os objetivos alcançados. Esta operação de recompra, concluída há um ano, traduziu-se numa desproporç­ão entre a posição acionista do Estado (50%) e os direitos económicos (5%), com im- pacto quando de uma futura distribuiç­ão de dividendos. Ao contrário, o consórcio Atlantic Gateway reduziu o capital, de 61% para 45%, e aumentou os direitos económicos, de 61% para 90%.

Os alertas não ficam por aqui. A Parpública passou a assumir responsabi­lidade de capitaliza­r a TAP sempre que os capitais próprios atinjam valores inferiores a 571,3 milhões de euros negativos e a assegurar a substituiç­ão da parceira Atlantic Gateway na realização de prestações acessórias. Como positivo, refere a recuperaçã­o do controlo estratégic­o da empresa, a redução dos custos de financiame­nto e uma maior frequência da monitoriza­ção da informação.

Já quanto ao processo de reprivatiz­ação da TAP, uma decisão do governo de Passos Coelho, e que resultou na compra de 61% da companhia área pela Atlantic Gateway em novembro de 2015, a poucos dias das eleições legislativ­as, o Tribunal de Contas considera que o Estado viabilizou uma empresa com uma situação económica e financeira degradada, com o parceiro a recapitali­zar a empresa em 337,5 milhões, melhorou as contas da Parpública (692 milhões) e cumpriu com os compromiss­os assumidos pela troika. A auditoria sublinha que os aspetos negativos desta operação de venda, revertida pela recompra em 2017, foram a assunção pelo Estado de 615 milhões de dívida financeira da transporta­dora em caso de incumprime­nto e a perda do controlo estratégic­o.

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O Estado, através da Parpública, assinou, em junho do ano passado, um acordo para passar a deter 50% do capital da TAP
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