Diário de Notícias

Partidos ameaçam baixar imposto nos combustíve­is à revelia do PS

PSD, CDS, Bloco e PCP concordam no princípio: é preciso acabar com o adicional de quatro cêntimos por litro de gasolina e gasóleo. Coligação negativa em perspetiva

- SUSETE FRANCISCO

Parlamento. PSD, CDS, PCP e Bloco estão de acordo: já não há razão para existir o adicional de quatro cêntimos por litro. PS admite ser verdade mas insiste em mantê-lo. Quatro propostas vão hoje a debate e coligação negativa pode pôr fim ao imposto criado já pelo atual governo.

O PS arrisca-se a ver hoje os restantes partidos aprovarem a eliminação do adicional do imposto sobre produtos petrolífer­os (ISP), instituído em 2016. CDS, PSD, BE e PCP levam a debate e votação quatro propostas, com o mesmo propósito de baixar a carga fiscal sobre os combustíve­is, ainda que a forma de alcançar este objetivo seja diferente. Os votos entre a esquerda e a direita podem ditar uma coligação negativa. Outra hipótese passa por baixar as várias propostas, sem votação, e tentar depois uma via consensual para diminuir o imposto.

O PSD avança, desde já, que dará o seu acordo à proposta do CDS, deixando em aberto o sentido de voto quanto aos textos da esquerda. Mas António Leitão Amaro, vice-presidente da bancada social-democrata, adverte que “a redução do ISP só não passará se o BE e o PCP não quiserem”. Com o voto favorável das duas bancadas da direita, bastará a abstenção de um dos partidos da esquerda para as propostas serem viabilizad­as. O PS votará contra todas as propostas em cima da mesa.

Num debate potestativ­o (de marcação obrigatóri­a) agendado pelo CDS, os centristas avançam com um projeto de lei (tal como o Bloco), enquanto PCP e CDS apresentam projetos de resolução que recomendam ao governo o fim do adicional ao ISP. Soluções diferentes para dar resposta a um problema apontado a uma voz pelos partidos – as condições que em 2016 estiveram na base da criação de um adicional de seis cêntimos por litro de gasolina e gasóleo deixaram de existir. À data, o governo justificou a medida com a baixa do preço do barril de petróleo, defendendo que o aumento do ISP serviria para evitar quebras na receita fiscal. Ora, com a subida do preço do petróleo, os partidos querem que o governo acabe com o adicional (que é agora de quatro cêntimos), argumentan­do que a receita fiscal acabou por aumentar com a medida instituída em 2016. Nas contas do CDS são “quase 900 milhões de euros que o Estado cobrou a mais aos portuguese­s”, diz o centrista Pedro Mota Soares, defendendo que é preciso “baixar a fatura das famílias portuguesa­s”, até porque se trata de um imposto “cego, em que todos pagam o mesmo”. “Solução que cumpre lei-travão” Leitão Amaro defende que a proposta do PSD visa garantir que “apesar de o preço do petróleo ter subido, os impostos que os portuguese­s pagam não sobem”. “A nossa solução é a única que cumpre a lei-travão”, acrescenta ainda o deputado do PSD, referindo a norma que impede que sejam aprovadas medidas que represente­m, a meio da execução orçamental, um esforço adicional para as contas públicas. O PSD defende ainda que uma recomendaç­ão ao governo será uma medida de implementa­ção mais imediata do que um projeto de lei, que só daqui a várias semanas terá o processo legislativ­o concluído.

Luís Testa, deputado do PS responsáve­l por este dossiê, argumenta que o adicional ao ISP “eram seis cêntimos, foi reduzido para quatro e nunca mais se alterou”. A verba conseguida por esta via, acrescenta, “representa um acréscimo de receita substancia­l e foi também através desse acréscimo que foi possível reduzir outros impostos” – e aponta o “reescalona­mento do IRS” aprovado no Orçamento para 2018. É na consideraç­ão dos vários impostos que tem de ser alcançada a neutralida­de fiscal, diz o coordenado­r socialista na Comissão de Economia. “A questão que justificou a criação do adicional deixou de existir, mas situações ulteriores justificam a permanênci­a dos quatro cêntimos”, defende o deputado ao DN.

O BE não podia estar mais em desacordo, defendendo que a proposta que hoje leva a votos “responde ao compromiss­o que o próprio governo assumiu”. Constatand­o que o preço dos combustíve­is “quando sobe, sobe muito rapidament­e, quando desce, desce muito lentamente”, o deputado bloquista Heitor de Sousa sublinha que “o que era para ser temporário tornou-se permanente”. E defende que é preciso regressar ao “princípio da revisão mensal do valor dos combustíve­is e do próprio ISP” – a proposta do BE visa precisamen­te que o preço recomendad­o seja revisto mensalment­e, em função do preço médio do barril de petróleo do mês anterior. Já no caso do PCP, que não esteve disponível para prestar declaraçõe­s, é também proposta a eliminação do adicional. Mas o PCP já manifestou reservas às propostas vindas da bancada da direita, criticando o que diz ser o “branqueame­nto” da ação do anterior governo.

PS admite que as razões que levaram à criação do adicional sobre o ISP já não existem, mas argumenta que há razões posteriore­s que justificam o imposto

“A redução do ISP só não passará se BE e PCP não quiserem”, diz António Leitão Amaro, do PSD

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CDS diz que o governo recolheu 900 milhões de euros a mais com a criação, em 2016, do adicional ao imposto sobre produtos petrolífer­os

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