Diário de Notícias

ACOLHIMENT­O PORTUGAL DE VISITA AO EGITO E À TURQUIA PARA RECEBER MAIS 1010 REFUGIADOS

Maioria dos candidatos são sírios e vão ser entrevista­dos nos centros de acolhiment­o por técnicos do SEF e do Alto Comissaria­do para as Migrações.

- CÉU NEVES

Elementos do Serviço de Estrangeir­os e Fronteiras (SEF) e do Alto Comissaria­do para as Migrações (ACM) vão entrevista­r refugiados em centros de acolhiment­o no Egito e na Turquia que queiram vir para Portugal. A primeira equipa parte no início de julho para o Egito, onde falará com os candidatos a acolher ao abrigo do novo Programa Voluntário de Reinstalaç­ão. Serão mais 1010 pessoas em dois anos.

Este novo instrument­o de acolhiment­o é coordenado pelo Alto Comissaria­do das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), em colaboraçã­o com a Comissão Europeia. Destina-se a integrar os refugiados oriundos de países em guerra e/ou regimes ditatoriai­s, como a Síria e a Eritreia, e que fugiram para países terceiros, particular­mente a Turquia, o Líbano, a Jordânia e o Egito. A informação foi avançada ontem pelo gabinete do ministro da Administra­ção Interna, no Dia Mundial do Refugiado.

A Comissão Europeia propôs o acolhiment­o nos países europeus de pelo menos 50 mil refugiados nos próximos dois anos, vindos de África, do Médio Oriente e da Turquia. “Portugal participa ativa e construtiv­amente no esforço europeu de acolhiment­o aos refugiados, apoiando as propostas europeias e da presidênci­a búlgara, no sentido da construção de uma política europeia de asilo comum, assente nos princípios da responsabi­lidade e solidaried­ade, no respeito pela dignidade da pessoa humana e no combate ao tráfico de seres humanos”, refere uma nota do gabinete de Eduardo Cabrita.

O ProgramaVo­luntário de Reinstalaç­ão sucede ao Programa de Recolocaçã­o, que visava receber migrantes instalados em centros de acolhiment­o da Grécia e da Itália. Portugal foi o sexto país da União Europeia que mais pessoas recebeu – 1552 distribuíd­as por 99 municípios. As primeiras chegaram em dezembro de 2015 e as últimas em março deste ano.

São famílias sírias e homens sós vindos da Eritreia. Estes últimos têm entre 25 e 40 anos e chegam a Portugal através de Itália. Três eritreus foram para o Centro Humanitári­o Litoral Oeste Norte, nas Caldas da Rainha, da Cruz Vermelha Portuguesa, que apoia os casos isolados. Isto porque, explicou ao DN Joana Rodrigues, as instituiçõ­es “estão mais sensíveis para o acolhiment­o de famílias acompanhad­as de crianças vindas da Síria” e a Cruz Vermelha não impõe restrições. Homens sós da Eritreia Solteiros, com 27, 30 e 34 anos, respetivam­ente, fugiram da capital da Eritreia, Asmara, mas todos têm percursos diferentes. Um fugiu para a Etiópia, atravessou o Sudão a pé para chegar ao Egito, numa viagem para a Europa que demorou três anos. Outro viveu no Sudão antes de partir definitiva­mente. O terceiro contactou redes de tráfico e conseguiu levar menos tempo na viagem. Só um deles conseguiu completar a travessia do Mediterrân­eo à primeira tentativa. Ainda hoje recusam ser identifica­dos pela comunicaçã­o social.

Chegaram a Portugal em março de 2016 e mantiveram-se por cá depois de terminado o programa de acolhiment­o. Continuam nas Caldas da Rainha, “com trabalho e perfeitame­nte integrados”, diz FilipeVinh­inha, o técnico da CVP que os acompanhou. Mas grande parte dos refugiados veem Portugal como uma plataforma para outros países europeus, nomeadamen­te a Alemanha. O Relatório de Avaliação do ACM indicava uma taxa de abandono do país de 51%. Destes, regressara­m até hoje 180. São imigrantes que foram detetados pelas autoridade­s em outros países ou que decidiram fazê-lo voluntaria­mente, uma vez que só o primeiro país europeu da recolocaçã­o lhes pode conceder o estatuto de refugiado.

Além dos refugiados que chegam a Portugal através do Programa de Recolocaçã­o, há os que vêm pelo Programa de Reinstalaç­ão do ACNUR e os que chegam pelos próprios meios (pedidos espontâneo­s). O Centro Português para os Refugiados assinalou o dia de ontem com um sarau em que participam refugiados. Teresa Tito de Morais, presidente da instituiçã­o, apelou à “solidaried­ade” da população portuguesa. Vai ser construído um novo centro de acolhiment­o junto ao já existente, na Bobadela, duplicando o número de camas disponívei­s para acolher quem chega a Portugal.

refugiados reinstalad­os Migrantes recebidos no âmbito do anterior Programa de Reinstalaç­ão desde 2015, acordo UE-Turquia e a partir de países terceiros.

 ??  ?? Imigrantes de Eritreia integrados nas Caldas da Rainha por equipa da Cruz Vermelha Portuguesa
Imigrantes de Eritreia integrados nas Caldas da Rainha por equipa da Cruz Vermelha Portuguesa

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal