Diário de Notícias

Solução Trump: pais e filhos não serão separados, são detidos juntos

Presidente dos EUA não põe fim à política de tolerância zero, mas deu ordem para garantir que famílias não serão separadas e que terão prioridade no processo migratório

- SUSANA SALVADOR

O presidente norte-americano, Donald Trump, cede na separação de pais e filhos migrantes na fronteira, mas não abdica da política de tolerância zero. A solução encontrada, através de uma ordem executiva, passa por deter os pais junto com os filhos e dar a estas famílias prioridade nos processos de imigração. Desde o início, em meados de abril, da política de tolerância zero que prevê acusações criminais para todos os que sejam apanhados a cruzar ilegalment­e a fronteira, mais de 2300 famílias foram separadas.

“Vou assinar algo que é preventivo, mas que em última análise será equiparado pelos legislador­es, tenho a certeza”, afirmou Trump, que até agora tinha sempre garantido que não podia fazer nada e que só o Congresso tinha poder para alterar a lei. E culpava os democratas por isso. “Queremos segurança para o nosso país e ao mesmo tempo compaixão”, afirmou, dizendo que vai garantir isso mesmo. Após reunir com congressis­tas, Trump deixou o desabafo: “O dilema é que se és fraco... o país vai ser invadido por milhões de pessoas, e se és forte, então não tens coração.”

Segundo a AP, a primeira-dama terá ajudado à mudança de opinião do presidente. Melania Trump, que já tinha dito publicamen­te “odiar ver as famílias separadas”, terá reiterado essa opinião ao marido, indicou um responsáve­l da Casa Branca à agência de notícias. “Há algum tempo” que ela defende junto de Trump a necessidad­e de “fazer tudo o que é possível para ajudar as famílias a ficarem juntas, quer seja trabalhand­o com o Congresso ou a fazer pessoalmen­te alguma coisa”. Mudanças no Congresso A Câmara dos Representa­ntes deverá votar nesta quinta-feira duas leis que permitem uma reforma no sistema de migração e acabar com a separação das famílias na fronteira – que ocorre porque os menores não podem ir para as prisões federais que estão a acolher os pais, enquanto aguardam pelo julgamento por entrada ilegal nos EUA.

“Com a nossa lei, quando as pessoas forem acusadas por terem cruzado ilegalment­e a fronteira, as famílias vão continuar juntas durante todo o procedimen­to legal, sob a autoridade da Segurança Interna”, afirmou Paul Ryan, líder republican­o na Câmara dos Representa­ntes, na qual o partido de Trump tem maioria. Mas não é certo que tenha o apoio necessário para aprovar as leis previstas, com Trump a dizer que apoiaria qualquer uma delas, sem dizer qual preferia. Primeiro nos pedidos de asilo A Organizaçã­o para a Cooperação e Desenvolvi­mento Económico (OCDE) revelou entretanto que os EUA foram, em 2017, o primeiro país em número de pedidos de asilo – 330 mil no total, um aumento de 26% em relação ao ano anterior. Cerca de 40% dos que pedem asilo são de El Salvador, Venezuela e Guatemala, num perfil bastante diferente do que acontece na Europa (sírios, afegãos e iraquianos).

Na apresentaç­ão dos dados, o secretário-geral da OCDE, José Ángel Gurría, criticou a política de Trump: “A legislação nos países da OCDE sobre menores segue os princípios do interesse superior da criança. Neste caso, como notou a UNICEF, a separação não é certamente no melhor interesse da criança.”

Não foi a única crítica. A primeira-ministra britânica, Theresa May, disse no debate semanal que as imagens de crianças em jaulas nos centros de detenção são “profundame­nte perturbado­ras. É errado e é algo com que não concordo”. Contudo, isso não é suficiente para cancelar a visita de Trump ao Reino Unido, marcada para 13 de julho.

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Famílias fazem fila na fronteira em Tijuana, no México, para entrar nos EUA. Vão pedir asilo e esperam não ser separadas

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