Diário de Notícias

Ainda falta Portugal ao Mundial de Cristiano Ronaldo Capitão voltou a alimentar as ambições portuguesa­s, num triunfo fundamenta­l contra Marrocos. Mas exibição deixou vários alertas

- RUI FRIAS

Cristiano Ronaldo... Assim, isoladamen­te. Porque o resto (ainda) é um mundo à parte. O capitão está determinad­o a fazer deste Mundial da Rússia o seu Mundial e voltou a demonstrá-lo frente a Marrocos. Depois do monumental hat trick no empate de estreia contra a Espanha, Ronaldo reforçou que não está disposto a desperdiça­r tempo nem oportunida­de: precisou dos mesmos quatro minutos que demorara a estrear o marcador no primeiro jogo para fazer agora o golo que valeu a Portugal um triunfo fundamenta­l contra Marrocos, neste segundo jogo no torneio.

Essa é, repita-se, a grande notícia: CR7 está de corpo e mente inteiros neste Mundial, elevando-se para já como a grande figura da competição. E disfarça uma outra, que já começa a ser difícil de esconder: falta aparecer Portugal no Mundial do seu capitão. Tirando um par de honrosas exceções (com especial menção para Rui Patrício, antes de Moutinho e William), a seleção campeã da Europa vai fazendo figura de corpo presente no sonho de Ronaldo.

Se as emoções de um marcador frenético contra a Espanha, aliadas ao reconhecid­o futebol superior do rival ibérico, tinham permitido secundariz­ar as debilidade­s expostas pela seleção nacional na estreia, o triunfo agónico frente a Marrocos sublinhou-as a bold.

Não haja mal-entendidos. Foi sofrida, sofrida, sofrida... a vitória que deixou Portugal com um pé nos oitavos-de-final do Mundial, dependente apenas desse duelo direto com o Irão de Carlos Queiroz na última jornada do grupo, dia 25. Marrocos, é justo ressalvar, merecia ter saído do jogo com melhor sorte do que a derrota tangencial que a elimina desde já neste Mundial.

Portugal ancorou-se no golo madrugador de Cristiano Ronaldo – ganhou em antecipaçã­o, num canto, ao antigo internacio­nal jovem português Manuel da Costa, a novidade de falhada de Marrocos para esta partida – e pouco mais jogou. Mantendo Gonçalo Guedes como parceiro de Ronaldo no ataque, ao contrário das previsões que apontavam ao regresso de André Silva, Fernando Santos fez uma única alteração no onze face à equipa que entrara frente à Espanha: João Mário no lugar de Bruno Fernandes. Se a ideia era aproveitar rotinas do meio-campo (com William e Moutinho) que fez a maior parte da qualificaç­ão, ou tirar proveito da capacidade condução de bola do médio do West Ham para reter posse e perfurar espaços, a realidade denunciou um flop. Não apenas de João Mário, entenda-se, mas de todo o plano de jogo de Portugal. Sem capacidade para construir ou manter bola, a seleção nacional foi engolida em campo pela reação marroquina, que encheu o relvado com um futebol rápido, agressivo e na procura constante da superiorid­ade nas faixas laterais.

Raphaël Guerreiro foi a vítima preferida dos marroquino­s, que insistiram no aproveitam­ento daquele corredor para lançar sucessivas ofensivas de um-para-um entre o recuperado Amrabat (que saíra do jogo com o Irão com uma contusão cerebral) e o lateral português, baralhado com a facilidade com que Marrocos criava situações de superiorid­ade naquela zona – com os criativos Zyech e Belhanda sempre na procura desses espaços descurados pelo posicionam­ento defensivo de Portugal. Perante o domínio do adversário, intenso, Portugal não conseguiu fazer mais do que resistir. Bola, “nem vê-la”. Ou melhor, só vêla mesmo a passar dos pés de um marroquino para outro. Porque criar jogo, zero. Nem com Bernardo Silva (continua muito abaixo das expectativ­as) e João Mário nem, mais tarde, com Gelson e Bruno Fernandes, apesar de ligeira melhoria.

Valeu, isso sim, como já valera para a conquista do título europeu de há dois anos, um coração enorme e assinaláve­l capacidade de sofrimento perante a ofensiva desesperad­a dos marroquino­s. Muitas vezes com mais sorte do que critério. Num par de lances, também por mérito enorme de Rui Patrício, autor de uma extraordin­ária defesa a cabeceamen­to de Belhanda que pode e merece muito bem ser equiparada ao golo de Ronaldo.

Por todo o contexto, estes três pontos são uma preciosida­de. Que Portugal tem de fazer (mais) por merecer daqui para a frente. A começar já pelo decisivo duelo com o Irão. É que talvez nem o melhor Ronaldo chegue para tudo. 1. A grande defesa de Rui Patrício, aos 56 minutos, a remate de Belhanda. 2. O golo de cabeça de Cristiano Ronaldo, logo aos quatro minutos, que acabou por valer a vitória a Portugal diante de Marrocos. 3. CR7 festeja o seu quarto golo marcado só neste Mundial, depois do hat trick à Espanha. 4. Gelson Martins (entrou na segunda parte) em ação perante o ex-benfiquist­a Carcela 5. João Mário foi a novidade no onze de Portugal, entrando para o lugar de Bruno Fernandes

 ??  ??
 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal