Os adeptos portugueses chegaram logo pela manhã, deixando para os marroquinos os lugares mais afastados do ecrã gigante
Mais um jogo, mais uma volta, mas, desta vez, há uma vitória para festejar. Valeu bem a pena chegar cedo para arranjar um bom lugar no relvado da Arena Portugal. De metro, de barco, de comboio ou de autocarro, os adeptos portugueses acamparam no Terreiro do Paço, em Lisboa, com a antecedência suficiente para assistir ao jogo entre Portugal e Marrocos na primeira fila, deixando desiludidos os torcedores marroquinos que outro remédio não tiveram senão ficar com os lugares mais afastados do ecrã gigante. É a vida e o futebol é assim mesmo. Há os que são apanhados desprevenidos e há os mais experientes que não se deixam ultrapassar pelos adversários.
Ana Maria Caliço saiu de casa, na Baixa da Banheira, pela manhã, atravessou o rio, com banquinho, farnel, a bandeira às costas e chegou à Praça do Comércio, com muita fé para apoiar a seleção portuguesa. Se ela pudesse, na verdade, assistiria ao jogo de chinelos e sentadinha no sofá, como no primeiro jogo, mas José, o marido, estava demasiado inquieto para ficar sossegado num só lugar. Desde o fim de semana que andava a moer o juízo dela. Os jogos da seleção são para ver com a multidão. De que vale ficarem enfiados em casa frente ao televisor? Se é para sofrer por causa da seleção, que seja com todos os portugueses. “O homem não me ia deixar em paz, enquanto eu não dissesse que sim”, conta ela. Ainda bem que veio arrastada pelo seu José. É a primeira vez que vê os jogos fora de casa e, “minha querida, isto é uma emoção de deixar a pele arrepiada”. A partir de agora, não vai “querer outra coisa”, conta a pensionista de 66 anos.
E se, noutros cantos deste país, há maridinhos a querer ficar em casa, então que fiquem. Não há problema, Aida Rodrigues é mulher para apanhar o comboio em Sintra, sair no Rossio, em Lisboa, e fazer o caminho até à vitória da seleção portuguesa. Ela chegou à Arena Portugal com quase três horas de antecedência. Não quis cometer o mesmo erro do último jogo entre Portugal e Espanha: “Cheguei tarde e quase não consegui ver nada”, conta a pensionista de 71 anos. Desta vez, não a apanharam em falso: “Isto hoje [ontem] mesmo à frente de tudo e de todos foi bem diferente.”Ver o golo de Ronaldo e as defesas de Patrício na primeira fila é outro campeonato e é por isso que vai voltar sozinha ou acompanhada e sempre que a equipa portuguesa jogar.
Para Ricardo Gomes, porém, o jogo Portugal-Marrocos, no Terreiro do Paço, é uma experiência única. Não se repete porque ele tem de voltar hoje à Alemanha. É que ele é meio alemão, meio português. Correção: é mais português do que alemão. A cidade de Soest foi um acidente de percurso, nasceu lá porque os pais foram para a Alemanha há mais de 40 anos e por ali ficaram. Mas, mesmo numa terra que é dele só pela metade, há várias maneiras de torcer pela sua seleção. “Temos centros portugueses espalhados por todo o lado e a gente vê os jogos sempre juntos.” É uma euforia, mas não é o mesmo que estar numa praça no centro de Lisboa, a torcer entre milhares de adeptos. Só por isso, valeu a pena vir sozinho da Alemanha ter com o primo. Portugal há de ir longe neste campeonato, é a fé dele. E não é só por causa do talento de Ronaldo, Quaresma ou Patrício. Ele tem alguns trunfos para ajudar a seleção portuguesa. Para começar, uma camisola de Eder, que apesar de não estar convocado, vai servir de amuleto. E ainda uma tatuagem com as cinco quinas estampada no braço justamente no dia em que Portugal venceu o Euro 2016.
Para azar dos marroquinos, os amuletos de Ricardo cumpriram a sua função, mas eles não ficaram desiludidos. Apesar da derrota, Zouheir e Nafkhaoui estão “felizes” com a vitória portuguesa porque são “dois países irmãos” que jogaram no mesmo campo. Tal como para a seleção portuguesa, bastou um golo para os espanhóis fazerem a festa na Rússia e, também, no Terreiro do Paço Os líderes parlamentares não ficaram até ao fim. Correram para o debate quinzenal, mas a vitória já estava no papo