Diário de Notícias

Fora do Parlamento, os deputados sofrem como qualquer adepto

Os líderes parlamenta­res mantiveram a calma, mas só por fora. O jogo foi perigoso e eles sofreram com a multidão

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LISBOA Chegaram à tenda dos convidados na Arena Portugal todos compostos, de fatinho completo e cachecol ao pescoço. Ao fim de quatro minutos de jogo entre Portugal e Marrocos, a gravata foi a primeira a se soltar com o único golo de Ronaldo que pôs os líderes parlamenta­res do PS, PSD, CDS e BE a delirar com a multidão no Terreiro do Paço, em Lisboa. Quem os vê na assistênci­a, a beber cerveja para afugentar o calor e descontraí­dos, nem faz ideia do sofrimento que passam sempre que a seleção portuguesa joga neste Mundial. Vistos de fora, parece até que é um dia normal, daqueles com debates mornos no Parlamento e tempos mortos nos corredores da Assembleia da República. Mas é dentro do peito que está tudo a acontecer. “Eu sou um homem tranquilo, mas é só aparência, aqui dentro é tudo nervos”, confidenci­a o presidente do Partido Socialista, Carlos César.

Os políticos são bons a disfarçar as emoções, mas tudo se desmorona sempre que a bola se aproxima da baliza de Rui Patrício. Nesses momentos, todos eles ficam congelados até o perigo se afastar com um suspiro de alívio. “Não sou muito experiente em futebol, mas já estou habituado a lidar com as emoções e vou conseguind­o manter a calma”, explica o líder parlamenta­r dos sociais-democratas, Fernando Negrão.

Se Negrão não perceber muito de bola, já Carlos César é um assumido treinador de sofá. Conhecemos o seu lado de sportingui­sta ferrenho, mas o deputado do PS também se destaca como analista de futebol. Torceu quase até o fim pela seleção portuguesa, mas o entusiasmo não o impede de reconhecer as fragilidad­es da seleção: “Há alguns aspetos que têm de ser trabalhado­s, principalm­ente no meio-campo que ainda está muito vulnerável”, avisa o presidente do Partido Socialista, acreditand­o existirem ainda muitas soluções para experiment­ar e reconhecen­do também que a equipa portuguesa “ainda não acertou em pleno”.

Até porque Marrocos “esteve muito bem” e foi uma equipa perigosa para a seleção portuguesa: “O resultado pode não ser o mais justo, mas o que interessa é que ganhámos”, diz o líder parlamenta­r centrista, Nuno Magalhães. E, se quisermos ser mesmo honestos, não foi “um resultado brilhante”, reconhece Pedro Filipe Soares, do Bloco de Esquerda, avisando que a “defesa não está ainda no seu melhor”.

Mas apesar de todas as fragilidad­es, este jogo até foi “bastante equilibrad­o”, diz o antigo secretário de Estado do Desporto Laurentino Dias: “Tivemos mais uma vez o Cristiano Ronaldo para desequilib­rá-lo e, enquanto contarmos com ele, podemos continuar a sonhar.” Sonhar, sim, e sofrer também. Não há adepto no relvado ou na tenda VIP da Arena Portugal que consiga manter a postura quando a seleção está em campo. Os berros e os sobressalt­os fazem parte do jogo. E sempre é melhor sofrer com a multidão do que gritar sozinho em casa: “É mais suportável quando repartimos as alegrias e as tristezas com um mar de gente.”

O que já é mais difícil é abandonar o jogo a menos de cinco minutos do fim. Mas o debate quinzenal obrigou os deputados a saírem apressados rumo ao Parlamento. Ainda assim, tiveram mais sorte do que o primeiro-ministro. António Costa quis dar um pulo ao Terreiro do Paço para assistir ao Portugal-Marrocos, mas os preparativ­os para o debate no Parlamento deixaram-no preso no seu gabinete. A melhor hipótese que provavelme­nte teve de espreitar a partida terá sido da janela com vista para a Praça do Comércio. K.C.

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