Diário de Notícias

Costa pede prudência aos parceiros da geringonça

Debate quinzenal serviu para antecipar o próximo Orçamento do Estado. Governo não pode dar passo maior do que a perna

- JOÃO PEDRO HENRIQUES e MIGUEL MARUJO

Num debate quinzenal que foi uma salada-russa tão sensaboron­a como o jogo de Portugal a que os deputados tinham acabado de assistir, a esquerda parlamenta­r ouviu do primeiro-ministro, António Costa, avisos sobre o próximo Orçamento do Estado. Costa deixou ainda uma profissão de fé ambígua: assumindo a fidelidade às posições conjuntas assinadas com os parceiros parlamenta­res, o primeiro-ministro notou que, “como consta do programa do governo”, “em matérias estruturai­s e que ultrapasse­m o âmbito da legislatur­a”, os socialista­s defendem um “consenso” que “deve ser o mais alargado possível, desejavelm­ente com maioria de dois terços, de modo a assegurar estabilida­de”. “Não há novidade nenhuma, é o que está no programa do governo”, defendeu o primeiro-ministro.

Antes, a propósito da questão dos professore­s – e questionad­o por Jerónimo de Sousa – Costa aproveitou para deixar um recado, já tendo em conta o próximo Orçamento do Estado: no que toca a despesa pública, o governo prosseguir­á o “caminho de recuperaçã­o de rendimento­s e direitos”. Mas reiterou que é preciso prudência. Para o executivo socialista, numa formulação já ensaiada noutras ocasiões, o governo não deve dar “um passo maior do que a perna”, porque isso, a prazo, pode significar “dar um passo atrás” no processo de equilíbrio das contas públicas.

Mais uma vez, o primeiro-ministro responsabi­lizou os sindicatos pelo fim das negociaçõe­s sobre a contagem do tempo de carreira congelado aos docentes. E reiterou também que o governo nunca se compromete­u com a ideia de que esse tempo iria contar totalmente, apenas seriam “mitigados” os efeitos dos cortes efetuados.

Num outro momento do debate, o PEV testou se o governo ainda se mantém alinhado com a esquerda parlamenta­r, questionan­do o chefe do executivo socialista “com quem conta” o PS para aprovar as altera- ções ao código laboral acordadas na concertaçã­o social (sem o apoio da CGTP). Costa disse que a aprovação ocorrerá com quem estiver “contra a precarieda­de”, mas ao mesmo tempo explicou que o programa do governo prevê nesta matéria a necessidad­e de apoios parlamenta­res de dois terços – ou seja, a necessidad­e do apoio do PSD.

Sobre os fundos europeus, o governo foi genericame­nte acusado – sobretudo à direita – de ter negociado mal o envelope financeiro que Portugal receberá no próximo quadro comunitári­o de apoio (2021-2027). Costa assumiu a “insatisfaç­ão” do executivo mas salientou que as negociaçõe­s com a Comissão Europeia têm levado a melhorias face ao inicialmen­te previsto e não estão terminadas. Aplicou-se também a apelar à solidaried­ade do PSD neste dossiê, recordando que ele e Rui Rio têm um acordo assinado. “Temos um acordo mas não assinamos cheques em branco”, respondeu o líder da bancada do PSD, Fernando Negrão.

O debate expôs, mais uma vez, a relação muito crispada entre o primeiro-ministro e a líder do CDS. Aconteceu quando Assunção Cristas interpelou Costa sobre um leilão de habitação em Lisboa feito pela Segurança Social para casas a preços “acessíveis”. Costa devolveu acusações recordando que a lei das rendas “criou uma calamidade social em Portugal”. E, além do mais, isso aconteceu “consciente­mente” porque Assunção Cristas foi nessa altura “avisada por toda a gente do que iria acontecer”, inclusivam­ente ele próprio, enquanto presidente da Câmara de Lisboa.

O debate expôs, mais uma vez, a relação muito crispada entre o primeiro-ministro e a líder do CDS, Assunção Cristas

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Primeiro-ministro voltou a responsabi­lizar os sindicatos pelo fim das negociaçõe­s sobre contagem do tempo de carreira congelado a docentes

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