Líderes catalães escrevem a Felipe VI a pedir reunião Casa Real acusou receção da carta enviada por Quim Torra, Carles Puigdemont e Artur Mas e remeteu-a para a Moncloa. Governo de Sánchez indicou que Felipe VI não irá reunir-se com Torra
“O rei tem de falar”, afirmou Quim Torra, presidente da Generalitat, que vai exigir de Sánchez apoio à autodeterminação catalã
Os líderes catalães não dão tréguas, nem mostras de querer abrandar a sua luta pela independência. O presidente da Generalitat e os seus dois antecessores no cargo, Quim Torra, Carles Puigdemont e Artur Mas, respetivamente, escreveram a Felipe VI a solicitar uma reunião para pedir ao rei uma negociação sobre a Catalunha.
Aproveitando que o monarca vai estar nesta sexta-feira em Tarragona, na região da Catalunha, para assistir à inauguração dos Jogos do Mediterrâneo, o atual presidente do governo autónomo catalão decidiu sugerir o encontro. Quim Torra diz-se “convencido” de que “em algum momento da sua visita” o rei “que- rerá encontrar um momento” para conversar com ele.
“Tenho de poder explicar-lhe como se sente uma parte do povo da Catalunha”, diz Torra na missiva, cujo conteúdo foi divulgado no dia em que o monarca espanhol esteve de visita aos EUA. Felipe VI encontrou-se em Washington com o presidente Donald Trump.
O presidente da Generalitat acusa o rei de ter “aberto uma ferida” com o discurso que fez a 3 de outubro do ano passado, dois dias depois da realização do referendo ilegal na Catalunha. Na consulta, foi perguntado se os catalães queriam uma República da Catalunha independente de Espanha.
“Estamos a viver momentos muito graves da nossa vida democrática (...) desde há muito tempo, de- terminadas autoridades da Catalunha, de uma maneira reiterada, consciente e deliberada, têm vindo a desobedecer à Constituição e ao seu Estatuto de Autonomia, que é o que a lei reconhece, protege e ampara as suas instituições e o seu autogoverno”, declarou Felipe VI.
Em seguida, o então primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, teve de acionar, pela primeira vez na história da democracia de Espanha, o artigo 155.º da Constituição. O que se traduziu na retirada de poderes às instituições autonómicas catalãs e à convocação de eleições antecipadas. Nestas, os independentistas conseguiram, juntos, maioria absoluta. Após várias detenções e fugas para o estrangeiro – como a de Puigdemont –, foi constituído in extremis um novo governo catalão, liderado por Quim Torra.
“Não é verdade que deveria situar-se acima dos interesses particulares e tentar ser uma voz de conciliação e de defesa do diálogo?”, perguntam os três líderes catalães na carta dirigida a Felipe VI. Torra, Puigdemont e Mas reclamam que o rei “arbitre e modere entre os poderes do Estado”, ao mesmo tempo em que insistem que o projeto político viável para a Catalunha consiste em “implementar o mandato popular” de 1 de outubro. Ou seja, chegar à independência. Na sessão de controlo do Parlamento catalão, nesta quarta-feira de manhã, Torra insistiu na ideia de que “o rei tem de falar”. A Casa Real acusou a receção da carta e remeteu-a para a Moncloa. Segundo o governo de Sánchez, o rei Felipe VI não irá reunir-se com Torra.
No sentido de conseguir implementar aquele projeto político, o presidente da Generalitat terá um encontro com o líder do Podemos, Pablo Iglesias, em Barcelona, na segunda-feira. Será antes de ser recebido na Moncloa pelo novo primeiro-ministro socialista, Pedro Sánchez, provavelmente em julho. Depois de os independentistas catalães terem estado entre os partidos que apoiaram Sánchez na moção de censura contra Rajoy, Torra foi já avisando que agora é hora de cobrar esse apoio. O “ponto de partida”, assegurou, é Sánchez respeitar “o direito à autodeterminação”.
Por tudo isto, o PP começou já a acusar Sánchez de estar “a pagar o preço” do apoio do Podemos e dos independentistas à moção de censura. Na sessão de controlo do governo no Parlamento espanhol, nesta quarta-feira, o porta-voz do grupo parlamentar do PP, Rafael Hernando, exigiu ao primeiro-ministro que “não acabe como Zapatero” e faça demasiadas cedências aos independentistas. Hernando avisou o líder socialista de que o PP não será “leal ao governo”, mas sim apenas “a Espanha, à Constituição e ao rei”.