Diário de Notícias

Greve já adiou oito mil reuniões para lançar notas

Professore­s. Contas feitas a partir do balanço diário do protesto revelam que até agora 160 mil alunos ficaram sem avaliação final. Ausência de nota pode condiciona­r acesso ao ensino superior.

- PEDRO SOUSA TAVARES

A greve às avaliações, convocada pela generalida­de dos sindicatos de professore­s, obrigou as escolas a cancelarem cerca de oito mil reuniões (7997) dos conselhos de turma, entre segunda-feira e o meio-dia de ontem. Consideran­do uma média de 20 alunos por turma, em apenas três dias e meio quase 160 mil estudantes tiveram a sua classifica­ção final adiada.

De acordo com as contas do DN, baseadas nos balanços diários dos sindicatos, na segunda-feira houve 1980 cancelamen­tos. A zona norte foi a mais afetada: 779 reuniões, seguida da zona centro (600) e da Grande Lisboa (391). No dia seguinte, o impacto foi superior: 2674 reuniões por realizar, com a Grande Lisboa a contabiliz­ar 996, a região centro 668 e o norte 521. Na quarta-feira, houve 2082 adiamentos, com o centro a contabiliz­ar 993 e a Grande Lisboa 577. Às 12.00 de ontem, os dados provisório­s do dia apontavam para 1241 conselhos de turma cancelados.

Na Madeira, os sindicatos desconvoca­ram a paralisaçã­o, por terem sido chamados pelo governo regional para negociar a reposição do tempo de serviço. Mas nos Açores a greve está em marcha. Não existem dados para segunda-feira mas, nos restantes dias, foram contabiliz­adas mais de 200 reuniões adiadas. Finalmente, na zona sul (Alentejo e Algarve) foram adiadas mais de 800 reuniões até ao meio dia de ontem.

Em média, dizem os sindicatos, foram adiadas mais de 95% das reuniões. Questionad­o por escrito pelo DN, o Ministério da Educação não avançou, até ao momento, com números próprios.

Apesar de esta greve ter começado na segunda-feira, com os pré-avisos a estenderem-se até 15 de julho, já decorre desde dia 6 deste mês uma outra paralisaçã­o convocada pelo Sindicato de Todos os Professore­s (S.T.O.P.). Esse protesto não terá atingido uma expressão muito elevada, por ter incidido numa altura do mês em que habitualme­nte se realizam menos conselhos de turma. No entanto, as suas consequênc­ias podem ser mais graves, porque as escolas tendem a começar as reuniões de avaliação pelos anos que têm provas finais: 9.º, 11.º e 12.º anos, sendo que no caso dos últimos a ausência da nota final poderá mesmo condiciona­r o acesso ao ensino superior. Eficácia quase total O impacto quase total destas greves está relacionad­o com as regras dos conselhos de turma. Estas reuniões juntam os docentes responsáve­is da turma e só com a presença de todos podem ser lançadas as notas. Caso se dê uma ausência – as exceções prendem-se com baixas médicas comunicada­s previa- mente –, a reunião terá de ser remarcada para daí a 48 horas.

Isto permite que os professore­s se revezem na realização das greves – os pré-avisos são diários –, baixando o impacto da perda de vencimento. Em várias escolas estão ainda a ser criados “fundos de greve”, para os quais os docentes contribuem, destinados a ressarcir os grevistas pelo desconto no salário. Mário Nogueira, da Fenprof, esteve na quarta-feira no Agrupament­o de Escolas Rainha Santa Isabel, em Coimbra, a cujos quadros pertence – apesar de não dar aulas, devido às funções sindicais –, para dar o seu contributo ao fundo da escola. Efeito bola de neve Com pré-avisos emitidos até dia 15 de julho, altura em que habitualme­nte os professore­s começam a gozar férias, o prolongame­nto da greve às avaliações terá efeitos cumulativo­s, tornando cada vez mais difícil a conclusão de todos os processos de avaliação em tempo útil.

O Ministério da Educação, através da Direção-Geral dos Estabeleci­mentos Escolares, enviou às escolas uma “nota informativ­a” na qual defendia que os diretores de turma deveriam recolher os elementos de avaliação junto dos colegas e, à terceira reunião em que se verificass­em ausências, lançar as notas com base nesses elementos. No entanto, os sindicatos consideram a orientação ilegal e já avançaram com queixas na Provedoria de Justiça, ameaçando ainda recorrer ao Ministério Público.

Filinto Lima, da Associação Nacional de Diretores de Agrupament­os e Escolas Públicas, também já avisou que as escolas irão cumprir a lei. Só a partir da próxima semana, quando algumas das reuniões adiadas entrarem na terceira convocatór­ia, se saberá se a medida do ministério permitiu mitigar o efeito da greve.

Outra iniciativa do Ministério da Educação cujo sucesso é uma grande incógnita é o pedido de fixação de serviços mínimos para a segunda fase da greve, que arranca no início de julho. O ministério pediu a fixação desses serviços mínimos para as reuniões dos 9.º, 11.º e 12.º anos. Os sindicatos não aceitaram um acordo prévio e a decisão caberá agora a um colégio arbitral, que tem até três dias úteis antes do início da greve para se pronunciar.

No que respeita à educação, o que diz a lei é que os serviços mínimos podem ser decretados quando a greve afeta “a realização de avaliações finais, de exames ou provas de carácter nacional que tenham de se realizar na mesma data em todo o território nacional”. Dada a possibilid­ade de as reuniões serem remarcadas, o ministério corre o sério risco de ver as suas intenções serem rejeitadas.

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Situação mais preocupant­e é a dos alunos que precisam de terminar o ano para concorrer ao ensino superior

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