Uma Segal: “Obama foi duro com ilegais mas não arbitrário como Trump”
Migrantes. Desde meados de abril, 2300 menores foram afastados dos pais. Ordem executiva só travava novas separações. No Facebook, associação já angariou 16 milhões de dólares
A ordem executiva assinada pelo presidente dos EUA para travar a separação de pais e filhos na fronteira era omissa em relação às mais de 2300 crianças que já não estão junto da família. Para retificar a situação e ainda sob pressão, Donald Trump disse ter dado ordens às agências federais para começarem a reunir os menores com os progenitores. Enquanto isso, a sociedade civil norte-americana mantém os apelos à mobilização contra a política de tolerância zero de Trump para com os migrantes.
A primeira-dama Melania Trump visitou de surpresa um dos centros de acolhimento de menores em McAllen, no Texas, pedindo que as crianças sejam reunidas com as famílias “o mais rapidamente possível”. Ao mesmo tempo, o marido dizia numa reunião de gabinete ter dado ordens para tal acontecer. Melania visitou um cen- tro onde estão 55 crianças, com idades entre os 12 e os 17 anos. Seis deles foram separados dos pais na fronteira. Angariação de fundos A associação RAICES (sigla em inglês do Centro para Educação e Serviços Jurídicos de Refugiados e Imigrantes, que significa em espanhol raízes) lançou um apelo no Facebook para que fizessem doações. Em apenas cinco dias conseguiu recolher mais de 16 milhões de dólares, doados por mais de 420 mil pessoas – um recorde neste tipo de iniciativas através desta rede social.
O objetivo inicial era recolher 1500 dólares, um valor que agora parece irrisório. “Esta recolha de fundos começou com a esperança de reunir talvez uma família, mas cresceu. Cresceu tanto que não podia ser ignorada. Cresceu para uma comunidade, para algo que vai ajudar todas as famílias separadas”, dizem na página da iniciativa. “Não duvide de que a administração está a mudar de rumo porque as pessoas falaram. Você falou. Mostrou que não está bem com isto, que nada disto é OK, e que não o vai tolerar”, acrescentam no Facebook.
Nem todos os que fazem donativos são anónimos: no dia do 72.º aniversário de Trump, a modelo Chrissy Teigen e o marido, o cantor John Legend, doaram 72 mil dólares para apoio jurídico a migrantes. Também o ator George Clooney e a mulher, a advogada e ativista Amal Clooney, doaram cem mil dólares para ajudar. A este tipo de iniciativas juntam-se outras, como a das companhias aéreas American Airlines ou United Airlines, que recusaram transportar crianças que tenham sido separadas dos pais. Depois da ordem executiva A ordem executiva de Trump visa travar a separação das famílias, mas nada dizia sobre as mais de 2300 crianças que terão sido separadas dos pais desde meados de abril. Destas, não se sabe quantas continuam afastadas dos progenitores, que, por terem cruzado ilegalmente a fronteira, são alvo de uma queixa-crime e detidos ao abrigo da política de tolerância zero de Trump. No passado, se não fossem reincidentes, eram apenas sujeitos a um processo civil de deportação.
Há adultos que foram entretanto deportados tendo os filhos continuado nos EUA – uma vez separados dos pais, são tratados como menores não acompanhados e podem perder-se no sistema.
Depois de dizer que só o Congresso podia impedir as separações com nova lei – que vai ser votada hoje –, Trump deixou indicações para que o Departamento de Segurança Interna “mantenha a custódia das famílias de estrangeiros” no “período de tempo permitido por lei”. São 20 dias, ao abrigo da chamada decisão de Flores que remonta a 1997, o que pode gerar novos problemas no final deste prazo.