Diário de Notícias

Está aprovada a descida do ISP. Mas pode ser só em 2019

Coligação negativa entre bancadas da direita e da esquerda obriga governo a rever imposto sobre combustíve­is

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PARLAMENTO.

SUSETE FRANCISCO Uma aliança rara entre as bancadas da esquerda e da direita fez ontem aprovar, à revelia do PS, a eliminação da sobretaxa do imposto sobre produtos petrolífer­os (ISP). Das quatro propostas que estavam em cima da mesa foram aprovados um projeto de lei do CDS e duas recomendaç­ões ao executivo, do PSD e PCP. Foi o princípio de um caminho que ainda pode ser longo.

Caso venha a entrar em vigor (ainda falta a votação final no Parlamento e a promulgaçã­o do Presidente da República), o projeto do CDS resultará num decréscimo de quatro cêntimos no preço da gasolina e de seis cêntimos no gasóleo. Mas a medida pode ficar remetida para o início do próximo ano – a Constituiç­ão impõe que os deputados “não podem apresentar projetos de lei que envolvam, no ano económico em curso, aumento das despesas ou diminuição das receitas do Estado previstas no Orçamento”, um princípio conhecido como lei-travão. No caso do projeto de lei do CDS, a questão levantou dúvidas até aos serviços da Assembleia da República, que, num relatório sobre o projeto de lei, dizem que “ao prever a eliminação do aumento do imposto” esta medida “parece poder ter efeitos orçamentai­s”. Também o PSD disse ontem ter dúvidas sobre a constituci­onalidade da proposta dos centristas, enquanto o PCP defendeu que o projeto “não pode ficar como está”.

Ontem, já depois do debate parlamenta­r, a líder do CDS admitiu que, “no limite”, a implementa­ção da medida pode acontecer a 1 de janeiro de 2019, a data de entrada em vigor do próximo orçamento do Estado.

Já os projetos de resolução do PSD e PCP preveem a descida do ISP apenas na medida do aumento das receitas do IVA com os combustíve­is (não há, portanto, perda de receita). Mas trata-se de recomendaç­ões ao governo, sem força de lei, que o executivo muitas vezes não segue. O projeto de lei do BE sobre a mesma matéria não foi aprovado. Uma ameaça às contas públicas PS e governo carregaram ontem de dramatismo o cenário que veio a concretiza­r-se de uma descida do ISP. O secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, António Mendonça Mendes, chegou a afirmar que a medida põe em causa a sustentabi­lidade das contas públicas, defendendo também que o fim do adicional ao ISP, implementa­do em 2016 como uma medida transitóri­a, representa­rá uma perda “consideráv­el” de receita fiscal, mas não terá repercussõ­es no preço final de venda aos consumidor­es. Isto porque, argumentou, o preço é definido pelas distribuid­oras, que podem não incorporar o decréscimo no preço final da gasolina e do gasóleo. Uma leitura contestada pelos restantes partidos.

António Comprido, secretário-geral da Associação Portuguesa de Empresas Petrolífer­as, também não acompanha o argumento do executivo. “Não tenho dúvidas de que a descida em sede de ISP será repercutid­a nos preços de venda ao público. A cadeia de valor não vai absorver essa diferença. Qualquer descida de impostos terá impacto nos preços cobrados aos consumidor­es”, defende.

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