Diário de Notícias

Questão irlandesa é agora a maior barreira do brexit

Reino Unido. Depois de o Parlamento ter acabado com dúvidas sobre a marcha do brexit, britânicos anunciam regras para residentes europeus. E recebem aviso de Bruxelas sobre a Irlanda

- CÉSAR AVÓ

A legislação para que o brexit seja uma realidade deu um passo decisivo no Parlamento britânico na quarta-feira à noite, mas há ainda questões espinhosas para resolver como a fronteira entre a República da Irlanda e a Irlanda do Norte.

O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, deu ontem um sinal de união sobre a questão da fronteira da Irlanda – a única fronteira terrestre que existirá entre UE e Reino Unido, quando a saída se tornar efetiva. “Queremos uma e outra vez tornar claro que a Irlanda não está sozinha, tem o apoio de 26 Estados membros e da Comissão e isso não vai mudar. Estou resolutame­nte contra qualquer tentativa para se isolar a Irlanda. A Irlanda tem de fazer parte do acordo”, disse Jean-Claude Juncker, em visita a Dublin. A seu lado, o chefe do executivo ir- landês, Leo Varadkar, disse que o tempo está a esgotar-se. “Deixem-me ser franco, não resta muito tempo se quisermos concluir um acordo e tê-lo operaciona­l no momento em que o Reino Unido deixar a União Europeia.”

Segundo o The Guardian, documentos em preparação para o Conselho Europeu do final do mês indicam que “não houve progressos significat­ivos” no tema. Ambas as partes querem evitar as fronteiras físicas entre as Irlandas, mas a forma como chegar a esse fim está longe de ser consensual, pelo que o documento avisa os Estados membros para “intensific­ar a preparação em todos os níveis e para todos os cenários”.

O governo britânico viu o último grande obstáculo interno ao brexit ser ultrapassa­do na quarta-feira à noite, quando a Câmara dos Comuns rejeitou, com 319 votos contra 313, legislação que previa o estabeleci­mento de “um voto relevante” dos deputados que poderia obrigar o governo a novas negociaçõe­s com a União Europeia e, na prática, poder bloquear a saída do Reino Unido das instituiçõ­es europeias.

“Como muitos de vocês saberão, nós demos o passo decisivo na noite passada na legislação que agora abrirá o caminho irrevogave­lmente para a saída do Reino Unido da União Europeia”, comentou o secretário do Comércio, Liam Fox, em Genebra. “Caso alguém tenha dúvidas, as hipóteses de o Reino Unido não sair da União Europeia são agora zero.”

O deputado que liderava o grupo dos chamados rebeldes conservado­res, o ex-procurador-geral Dominic Grieve, acabou por votar contra a emenda que o próprio levou a votos. Grieve foi criticado por vários deputados que estavam do seu lado, mas este acabou por argumentar que obteve em troca o compromiss­o escrito pelo ministro do brexit, David Davis, de que os parlamenta­res ainda teriam voz no acordo final.

Por outro lado, a primeira-ministra britânica, Theresa May, compromete­u-se a levar a votos mais duas leis sobre comércio e tarifas aduaneiras. Grieve faz parte de um grupo de deputados conservado­res e trabalhist­as que vai apresentar uma emenda para que o governo “tome todas as medidas necessária­s para instaurar um acordo internacio­nal de comércio que permita ao Reino Unido, assim que saia da união aduaneira com a UE, participar nos mesmos termos do dia anterior à saída”. Taxa de 74 euros O governo britânico anunciou entretanto um processo “curto, simples e amigo do utilizador” para os cidadãos europeus que queiram permanecer no Reino Unido após o brexit. Cada cidadão europeu que queira continuar a residir no território terá de pagar 65 libras (74 euros) ou metade se for criança. Espera-se que 3,2 a 3,8 milhões de europeus possam submeter o pedido, que será feito online ou através de uma app. Por defeito, os cidadãos que vivam há cinco anos no Reino Unido vão manter os mesmos direitos.

“Com este esquema estamos a cumprir o nosso compromiss­o de garantir os direitos dos cidadãos da UE que já estão neste país e que contribuem de muitas maneiras, a trabalhar, estudar ou por outros motivos”, disse o ministro do Interior, Sajid Javid.

O mayor de Londres, Sadiq Khan, criticou o facto de os requerente­s terem de pagar. “É dececionan­te que o governo não tenha usado esta oportunida­de para dar uma demonstraç­ão de boa vontade aos cidadãos da UE ao fazer deste um processo livre de encargos aos residentes no nosso país”, disse o trabalhist­a.

 ??  ?? O primeiro-ministro irlandês, Leo Varadkar, e o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, mostraram sintonia
O primeiro-ministro irlandês, Leo Varadkar, e o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, mostraram sintonia

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal