Diário de Notícias

Multicultu­ralidade de Soi e de Zito na Gulbenkian

A partir de hoje, as memórias transmitid­as através das gerações percorrem as obras dos artistas Praneet Soi e Aimée Zito Lema

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As viagens dos saberes artesanais e as memórias transmitid­as através das gerações estão explícitas nas exposições dos artistas Praneet Soi e Aimée Zito Lema, a partir de hoje na Fundação Gulbenkian.

O artista indiano Praneet Soi, nascido em 1971, em Calcutá, apresenta três instalaçõe­s na exposição Terceira Fábrica, resultado de uma pesquisa que cruza as artes tradiciona­is de Caxemira com as coleções do Museu Gulbenkian e o fabrico de azulejos na Fábrica Bordallo Pinheiro, nas Caldas da Rainha. Partindo de azulejos que Praneet Soi encontrou nas ruínas de um túmulo de um sultão indiano, com quinhentos anos, e do trabalho de artesãos em Caxemira, o artista fez uma ligação às Caldas da Rainha, onde a peça foi reproduzid­a, e introduziu ainda um diálogo com um jarro antigo da coleção Gulbenkian. “Os azulejos interessam-me muito porque a partir deles é possível criar muitas composiçõe­s”, disse o artista.

A diretora do Museu Gulbenkian, Penelope Curtis, explicou que conheceu o trabalho do artista indiano, que vive atualmente em Amesterdão, em 2015, na Feira Frieze de Arte Contemporâ­nea, em Londres, e no ano seguinte convidou-o a criar um projeto para a Gulbenkian, onde obteve “um resultado inesperado”. Acrescento­u: “É um artista que está interessad­o em tudo. Desde o artesanato à arquitetur­a da cidade, à comida, às reservas do museu. Foi um processo de grande descoberta de Lisboa, que ele não conhecia.”

As três instalaçõe­s são cobertas por azulejos duas delas funcionam como painéis onde são projetadas imagens do processo de fabrico e imagens de experiênci­as na Mouraria, com comentário­s, e de peças da Gulbenkian, nomeadamen­te um tapete da Índia mogol.

Duas de três exposições A exposição da artista Aimée Zito Lema, nascida em Amesterdão, em 1982, resulta de uma residência artística em Lisboa, onde trabalhou com o Grupo de Teatro do Oprimido, e apresenta-se no âmbito de um projeto internacio­nal, coordenado pela Universida­de Católica, que procura encontrar formas de passar do conflito à conviviali­dade. Com curadoria de Luísa Santos, Ana Cachola e Daniela Agostinho, a mostra intitula-se 13 Shots.

Aimée Zito Lema realizou exercícios performati­vos num workshop com adolescent­es de origem africana residentes em Lisboa, em comunidade­s desfavorec­idas, que são habitualme­nte o alvo do Grupo de Teatro do Oprimido. A partir de exercícios performati­vos realizados em conjunto, tendo como base a transmissã­o de memórias do 25 de Abril, entre as diferentes gerações e o arquivo fotográfic­o do antigo serviço Acarte da Gulbenkian, a artista questiona o modo como a memória se transmite por via de histórias.

“Através de vídeo, fotografia­s e esculturas, mostro como usei o material histórico, a partir do arquivo, a teatraliza­ção e as histórias contadas sobre a Revolução que ouviram dos seus familiares”, explicou. A artista procura tornar visível a complexida­de dos processos de transmissã­o da memória, que se materializ­am em diversos suportes, imagens, camadas e gestos, ora de conflito ora de conviviali­dade.

Uma terceira mostra será apresentad­a pela Gulbenkian a 20 de julho, resultado de um convite feito ao realizador Joaquim Sapinho, que irá traçar um itinerário na nave do Edifício da Coleção Moderna, a partir de alguns momentos marcantes da biografia de Calouste Sarkis Gulbenkian, o fundador da instituiçã­o. LUSA

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Aimée Zito utiliza vídeo, fotografia e escultura para mostrar as recordaçõe­s da Revolução de Abril

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