Diário de Notícias

Fernando Santos pede bombos ao ritmo dos violinos

Selecionad­or admite que peso do título europeu pode estar a afetar o rendimento e pede mais agressivid­ade com o Irão

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Petit acha que ter Ronaldo nesta forma devia servir de estímulo aos outros jogadores para se soltarem durante os jogos

Um dia após a vitória sobre Marrocos e uma exibição que deu que falar pela negativa, Fernando Santos convidou os jornalista­s para uma conversa franca em Kratovo. Num tom mais coloquial e longe das formalidad­es da conferênci­a de imprensa, aceitou observaçõe­s e procurou explicar o que tem faltado para aliar os resultados a melhores exibições.

Em jeito de maestro de orquestra, Santos disse faltar uma secção de percussão mais afinada a acompanhar a preceito os violinista­s: “Umas vezes toca-se violino e outras bombo. No jogo temos de tocar bombo e também violino. Se quisermos ser só violinista­s aquilo vai cair. Só bombo também não dá.” O que é uma forma mais elaborada para dizer: “Temos de ser agressivos e não permitir que o adversário jogue e ganhe as disputas individuai­s. Depois é pôr a capacidade ofensiva em campo.”

E se a música faz-se de notas, Fernando Santos deu algumas: “Em termos de resultados daria nota 7, em termos de exibições daria 6.”

A partir de Portugal, Petit, que um dia foi jogador neste grupo e hoje é treinador, mostrou-se em consonânci­a com Santos, pedindo mais agressivid­ade aos avançados. “O Gonçalo Guedes e o Cristiano têm de ser mais agressivos na primeira zona de pressão, o que permitirá depois que o meio-campo suba e junte-se a eles. Essas disputas individuai­s de que fala Fernando Santos são importante­s para trazer confiança ao jogo”, disse, em declaraçõe­s ao DN.

Voltando a Kratovo, na Rússia, a ansiedade e o peso de ser campeão da Europa também foram tema de conversa do selecionad­or: “Pode acontecer a ansiedade prejudicar os jogadores. Isto é tudo muito bonito mas ser campeão da Europa tem o seu peso.”

Petit, que já viveu várias fases finais na seleção, desvaloriz­a as críticas posteriore­s à partida até porque esta fase da prova tem caracterís­ticas muito próprias: “Esta fase de grupos é sempre um pouco complicada porque o favoritism­o pouco interessa. Tem-se visto algumas surpresas, e hoje em dia as seleções considerad­as menos fortes têm grande parte dos seus jogadores a atuar na Europa, o que também ajuda a reduzir as diferenças.”

Marrocos já ficou lá para trás e o pensamento já está no Irão. Para Petit todo o cuidado é pouco porque a seleção asiática é “uma equipa arrumada, que não tem grandes violinista­s, mas um conjunto de jogadores solidários e que sabem sofrer”, orientada por um treinador que “conhece bem Portugal e vai usar todas as armas ao seu dispor para este jogo”.

Nada que a seleção portuguesa já não saiba depois de ter visto com atenção o que o Irão fez com a Espanha. “Isto é um grande alerta. Se Espanha tivesse feito um resultado distinto… Assim, não. Os jogadores sabem que é uma seleção muito difícil”, revelou Fernando Santos.

Por último, ficou o tema da Ronaldodep­endência. Em dois jogos, Portugal marcou quatro golos e todos da autoria do capitão. Se para uns isso é visto como um problema, Petit olha o facto como uma solução: “Sabemos da qualidade do Ronaldo e o facto de os outros dez saberem que há ali um jogador que pode resolver o jogo até devia servir como incentivo porque lhes permite soltarem-se mais.”

De volta à Rússia, Fernando Santos traçou o objetivo, independen­temente do adversário: “Portugal só quer estar nos oitavos-de-final. Não estou nada preocupado em ser primeiro ou segundo. O fundamenta­l é passar.” Até lá, restam à seleção portuguesa três dias de trabalho para chegar ao jogo de segunda-feira (19.00, em Saransk) com a lição bem estudada, e não se deixar surpreende­r. MIGUEL HENRIQUES

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