Diário de Notícias

Irão, um desafio com o “selo de qualidade” do professor

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MUNDIAL António Simões acompanha hoje à distância a campanha do Irão como o comum dos portuguese­s, mas viveu de perto os primeiros três anos desta era de Carlos Queiroz à frente da seleção iraniana. O antigo internacio­nal português fazia parte da equipa técnica que se apresentou em Teerão em 2011 com um objetivo bem definido: “Montar uma seleção capaz de competir no Mundial.”

Nessa altura, a equipa técnica portuguesa encontrou um país “onde a paixão pelo futebol é imensa e o jogador persa tem vocação, muito mais do que o jogador asiático”, mas onde há, por outro lado, “uma série de dificuldad­es” que emanam não só das “sanções internacio­nais impostas ao Irão” como também de “razões culturais”que complicam um “trabalho profission­al e organizado”.

Uma certa cultura de... “relaxament­o” que se reflete “nas organizaçõ­es” e explica as frequentes ameaças de demissão de Carlos Queiroz. “Fazem parte da estratégia de alerta, uma forma de criar condições para que os problemas sejam resolvidos”, diz o antigo magriço, salientand­o a determinaç­ão do ex-selecionad­or nacional. “Para ele, é um misto de desafio profission­al – ser bem-sucedido nas dificuldad­es – e de ligação afetiva com a cultura e o povo iranianos. Ele é adorado lá, é difícil sair à rua com ele.”

O facto é que Carlos Queiroz já vai na segunda presença consecutiv­a com o Irão no mais importante palco do futebol. Algo inédito que só é possível, considera Simões, pelo “selo de qualidade” do técnico português. “É um especialis­ta do treino. Este homem foi um pioneiro em Portugal. Esteve sempre à frente do seu tempo e ainda hoje está na linha da frente”, destaca, lamentando que esse estatuto não seja devidament­e reconhecid­o por cá.

“Em Portugal foi bicampeão mundial, revolucion­ou a nossa formação e, no entanto, hoje parece que não fez nada”, refere Simões, para quem Queiroz ,“sendo muito inteligent­e, não foi muito esperto a gerir os seus créditos”. “Ainda hoje li uma entrevista em que ele diz que falar verdade não é fácil porque não insulta mas magoa. E ele possivelme­nte magoou algumas pessoas por falar verdade”, explica.

Sobre o reencontro com Portugal, Simões acredita que a forma como saiu em 2010 não vai interferir emocionalm­ente na preparação de Carlos Queiroz para o duelo decisivo. “Há aspetos emocionais que jamais nos largam para o resto da vida. Isso é indiscutív­el. E é óbvio que ele não saiu da forma mais simpática de Portugal. Mas não me parece que isso seja um fator de motivação. Tem esse direito, mas acho que não vai ser. Até porque poderia atrapalhar mais do que ajudar, retirar lucidez. Não acredito.” R.F

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