No Mundial dos afetos, o coração bate por mais do que uma seleção
Dentro do campo, os jogadores sabem que têm de derrotar a equipa adversária, mas no Terreiro do Paço, em Lisboa, conta o país de origem e o dos afetos
O Mundial jogado nos estádios da Rússia é bem mais simples do que o campeonato dos adeptos no Terreiro do Paço, em Lisboa. Dentro das quatro linhas, os jogadores sabem qual é a equipa adversária a derrotar. Na Arena Portugal, a coisa complica-se. É claro que um australiano da Tasmânia, como Jesse Tuckerman, sofre tanto pela sua seleção “como por um amigo a passar por um mau bocado”. E um dinamarquês como Daniel Nielsen “nunca trocaria a bandeira dele por outra qualquer”.
Só que nem sempre os afetos se exprimem preto no branco. O Mundial nos relvados russos não tem em conta que um adepto pode ser natural de um país, ter família noutro e ainda viver num terceiro. Quando assim é, tudo fica baralhado. Ao ponto de se torcer pelo Brasil, o país onde Fátima Marques tem as melhores recordações de infância, e por Portugal, onde viveu 15 anos, ou então pela Inglaterra, onde está agora a viver. “Escolho o Brasil ou Portugal para chegar à final.”
E, às vezes, um país não é só uma fronteira desenhada num lugar específico e bem demarcado, mas toda uma civilização que se entende na mesma língua e que torce para o mesmo lado. No caso de Adnan Amoled, cozinheiro palestiniano a viver em Lisboa, os árabes são a razão para ele acompanhar o Mundial na Arena Portugal. Tanto faz ser Tunísia, Marrocos, Egito ou Arábia Saudita. Todas contam para o campeonato do homem que se sente “grato” com estes países para apoiar o “Estado da Palestina”. Futebol é política, mas também tem muito que ver com assuntos do coração. Que outra razão haveria para o peruano Cristian Vega torcer pelo Peru e pela Alemanha? “A primeira é onde estão as minhas origens e a segunda é de onde é a minha namorada e onde vivo há 12 anos”, diz o rapaz que, com o Peru fora do campeonato, ficou agora com uma equipa suplente para apoiar. São vantagens de um coração grande o suficiente para caber mais do que uma seleção.