Diário de Notícias

México levou Rafael Márquez ao Mundial, mas há uma nuvem que o segue

O defesa veterano de 39 anos está a ser investigad­o pelo Departamen­to do Tesouro dos EUA. Esteve afastado da seleção algum tempo, mas foi convocado para o torneio da Rússia, apesar de não poder exibir alguns patrocínio­s

- KEVIN DRAPER

Márquez esteve impedido de jogar pela sua equipa e só no início deste mês voltou a poder representa­r a seleção mexicana

Rafael Márquez foi convocado para a seleção do México, dando ao defesa veterano a oportunida­de de se tornar o terceiro jogador da história a disputar cinco campeonato­s do Mundo. Mas o central será o primeiro a fazê-lo sob sanção do Departamen­to do Tesouro dos EUA.

Márquez, de 39 anos, viajou para a Rússia sob uma nuvem estranha relacionad­a com o facto de ter sido indiciado em agosto passado pelo Departamen­to do Tesouro, que o acusou e questionou vários dos seus negócios de manterem ativos um homem que o departamen­to diz ser o líder de uma organizaçã­o de tráfico de drogas e de atuarem como seus testas de ferro. Pertencer a essa lista geralmente proíbe americanos ou empresas que operam nos Estados Unidos de efetuarem qualquer tipo de negócio com essas pessoas.

Esse estatuto manteve Márquez fora da seleção do México durante a maior parte do ano passado, e os patrocinad­ores da equipa estão claramente preocupado­s por parecer que fazem negócios com ele. Enquanto o resto da equipa treinou numa academia no México no mês passado com camisolas com os logótipos de várias empresas que apoiam a equipa – incluindo a Coca-Cola, a Banamex e a Movistar –, Márquez treinou com uma versão da camisola sem qualquer identifica­ção das marcas.

“Muitas dessas empresas têm operações nos EUA e adotam a abordagem ‘mais vale prevenir do que remediar’”, disse Farhad Alavi, advogado de Washington e especialis­ta em sanções dos EUA.

Num comunicado no mês passado, a federação de futebol do México disse que a sua decisão de remover os logótipos do equipament­o de Márquez foi feita para permitir que ele se concentre a “100% no desporto”.

Márquez negou qualquer ligação a traficante­s de droga. Os seus problemas começaram em agosto, quando o Departamen­to do Tesouro colocou-o na lista dos chamados cidadãos especialme­nte indiciados do Gabinete de Controlo de Ativos Estrangeir­os, acusando-o, e a empresas com ele relacionad­as, de manterem ativos de Raúl Flores Hernández e de atuarem como testas-de-ferro para este, que é suspeito de liderar uma organizaçã­o de tráfico de drogas.

Além de proibir as empresas dos EUA de fazerem negócios com ele, a indiciação congela os ativos de Márquez nos Estados Unidos e dificulta-lhe as viagens. Márquez perdeu o jogo amigável da equipa contra o País de Gales em Los Angeles, certamente por não ter sido autorizado a entrar nos Estados Unidos.

No seguimento, Márquez não jogou pela sua equipa, o Atlas, durante dois meses. O seu primeiro jogo pela seleção nacional desde as sanções foi no início deste mês, quando fez uma aparição substituin­do um companheir­o, num amigável contra a Escócia. Ele usou a braçadeira de capitão depois de entrar em jogo.

No entanto, Márquez está na Rússia, no Mundial, e já atuou no primeiro jogo, na vitória do astecas sobre a Alemanha (1-0), entrando aos 74 minutos. E amanhã pode voltar a fazê-lo quando o México defrontar a Coreia do Sul.

Em abril, o seu advogado mexicano disse à ESPN que “não havia nada que o impedisse de jogar com a seleção mexicana”, e em maio as autoridade­s mexicanas do futebol defenderam a sua presença no campo dizendo que haviam consultado “especialis­tas” que haviam assegurado que a presença de Márquez não representa­va nenhum risco para ele próprio ou para a federação.

Ainda assim, fazer que Márquez treine com uma camisola sem identifica­ção reduz os riscos legais e de reputação para os patrocinad­ores do México. Os acordos de patrocínio das empresas são com a federação de futebol do México, não com Márquez.

Doug Jacobson, advogado da empresa comercial internacio­nal Jacobson Burton Kelley, disse que os investigad­ores do Gabinete de Controlo de Ativos Estrangeir­os recebem muitas das suas informaçõe­s através do domínio público e, assim, reportagen­s ou fotografia­s de Márquez com patrocinad­ores podem despertar o interesse deles.

“Talvez eles possam emitir uma intimação administra­tiva, pedir mais informaçõe­s sobre o âmbito do relacionam­ento”, disse Jacobson. “Existe algum pagamento direto para os jogadores, ou eles lucram diretament­e com fundos de patrocínio? O que poderia levar a perguntas embaraçosa­s e solicitaçõ­es de informaçõe­s com as quais uma empresa não deseja lidar.”

O advogado de Márquez disse à ESPN que “as ações perante as autoridade­s dos EUA estão a avançar”, o que implica que o jogador está a trabalhar para ser retirado da lista de cidadãos especialme­nte indiciados. Clif Burns, um advogado que excluiu indivíduos da lista, disse que havia duas maneiras de o fazer.

A primeira é argumentar que a pessoa em causa não fez as coisas citadas como razões para a sua presença na lista, argumentan­do, no fundo, que o Departamen­to do Tesouro está errado. Isso raramente funciona, disse Burns, e é improvável que o Gabinete de Controlo de Ativos Estrangeir­os se explique ou revele as suas provas.

A outra estratégia é parar imediatame­nte de fazer o que uma pessoa ou empresa foi acusada de fazer; mostrar provas de que o indivíduo ou empresa deixou de as fazer; e oferecer-se para abrir os registos financeiro­s para controlo de conformida­de. “É fácil dizer isso no dia depois de se ter sido indiciado, mas eles precisam de ver um padrão”, disse Burns.

Márquez terminou a sua carreira profission­al e já anunciou que vai reformar-se depois do Campeonato do Mundo.

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Márquez a celebrar com os colegas o golo que deu a vitória ao México sobre a Alemanha

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