Cinco mil moradores da Margem Sul vão ter saúde afetada pelo ruído dos voos
Relatório de impacte ambiental aponta consequências para populações sobrevoadas pelos aviões que vão usar o futuro aeroporto do Montijo.
O estudo de impacte ambiental do novo aeroporto de Lisboa, que vai ser construído nos terrenos da atual base aérea do Montijo, admite que cerca de cinco mil pessoas podem sofrer efeitos na sua saúde pela exposição ao ruído.
Nos cálculos do estudo, de acordo com o “relatório não técnico” a que o DN teve acesso, estima-se que, na área que será sobrevoada pelos aviões com destino ao Montijo, “a população aí residente seja de cerca de 54 700 habitantes (correspondendo aproximadamente a 18% da população total residente nos concelhos da Moita, do Barreiro e do Seixal)”.
O estudo admite que “o número de habitantes que se estima que possam revelar efeitos na saúde decorrentes da exposição ao ruído não ultrapassa 9% da população total dos concelhos referidos”, ou seja, quase cinco mil pessoas poderão ser afetadas.
Este número, segundo o relatório, é “de magnitude reduzida a moderada”, o que se explica ainda por “os potenciais efeitos negativos identificados” serem, de acordo com os autores, “pouco significativos (face aos níveis sonoros em causa) a significativos (atendendo a que os seres humanos podem ter, individualmente, respostas diferenciadas ao ruído)”.
Com a entrada em funcionamento do novo aeroporto – identificado como “aeroporto complementar do Montijo” –, o “ruído predominante” passará a ser o “dos aviões”, que fará aumentar “as percentagens de população que poderão manifestar efeitos negativos na saúde decorrentes da potencial exposição” a esse ruído.
Segundo o relatório, haverá um salto de “elevada incomodidade” para a população dos atuais 5% para 29% a 55%, e de “incomodidade” de 17% para uma estimativa de 50% a 75%. O estudo define incomodidade como “reações negativas como irritação, insatisfação, raiva, ansiedade, agitação ou distração”, “quando o ruído perturba as atividades diárias de um dado indivíduo”.
As “elevadas perturbações”, que são 4%, e as restantes, que se situam nos 10%, devem disparar para valores bem mais altos: “Elevadas perturbações do sono (17% a 38%) e perturbações do sono (27% a 50%), para adultos).” Nestas perturbações consideram-se, entre outras, “adormecer, despertar, duração reduzida do sono”.
Outro fator considerado, nas crianças em idade escolar, é o das perturbações na leitura, que passarão a ser 12% a 15% (atualmente são 12%). A hipertensão nos adultos deve subir dos 40% para 42% a 43% e pode verificar-se um aumento de mortalidade anual por doenças cardiovasculares (0,004% a 0,006%/ano, para população total – são 0,002%).
Estes impactes “são mais importantes nos concelhos da Moita e do Barreiro, já que a afetação no concelho do Seixal será marginal”. Aliás, o estudo refere que será necessário elaborar um plano para isolar edifícios com “recetores especialmente sensíveis”, identificados na área que mais afetada será pela aterragem de aviões, como escolas e agrupamentos escolares, na Baixa da Banheira, Barreiro eVila Chã, e um fórum cultural também na Baixa da Banheira. “Impactes negativos” nas aves O estudo aponta ainda “impactes negativos significativos sobretudo associados à movimentação de aeronaves” para as aves, existindo “alguma incerteza associada ao facto de não ser conhecida a proporção de movimentos de avifauna afetados pelo futuro tráfego de aeronaves” – estão identificados riscos de colisão de aves, a necessidade de monitorizar os seus movimentos, e a aplicação de medidas para minimizar esses impactes. Já entregue na Agência Portuguesa de Ambiente, o estudo vai agora para consulta pública.