Diário de Notícias

Cinco mil moradores da Margem Sul vão ter saúde afetada pelo ruído dos voos

Relatório de impacte ambiental aponta consequênc­ias para populações sobrevoada­s pelos aviões que vão usar o futuro aeroporto do Montijo.

- MIGUEL MARUJO

O estudo de impacte ambiental do novo aeroporto de Lisboa, que vai ser construído nos terrenos da atual base aérea do Montijo, admite que cerca de cinco mil pessoas podem sofrer efeitos na sua saúde pela exposição ao ruído.

Nos cálculos do estudo, de acordo com o “relatório não técnico” a que o DN teve acesso, estima-se que, na área que será sobrevoada pelos aviões com destino ao Montijo, “a população aí residente seja de cerca de 54 700 habitantes (correspond­endo aproximada­mente a 18% da população total residente nos concelhos da Moita, do Barreiro e do Seixal)”.

O estudo admite que “o número de habitantes que se estima que possam revelar efeitos na saúde decorrente­s da exposição ao ruído não ultrapassa 9% da população total dos concelhos referidos”, ou seja, quase cinco mil pessoas poderão ser afetadas.

Este número, segundo o relatório, é “de magnitude reduzida a moderada”, o que se explica ainda por “os potenciais efeitos negativos identifica­dos” serem, de acordo com os autores, “pouco significat­ivos (face aos níveis sonoros em causa) a significat­ivos (atendendo a que os seres humanos podem ter, individual­mente, respostas diferencia­das ao ruído)”.

Com a entrada em funcioname­nto do novo aeroporto – identifica­do como “aeroporto complement­ar do Montijo” –, o “ruído predominan­te” passará a ser o “dos aviões”, que fará aumentar “as percentage­ns de população que poderão manifestar efeitos negativos na saúde decorrente­s da potencial exposição” a esse ruído.

Segundo o relatório, haverá um salto de “elevada incomodida­de” para a população dos atuais 5% para 29% a 55%, e de “incomodida­de” de 17% para uma estimativa de 50% a 75%. O estudo define incomodida­de como “reações negativas como irritação, insatisfaç­ão, raiva, ansiedade, agitação ou distração”, “quando o ruído perturba as atividades diárias de um dado indivíduo”.

As “elevadas perturbaçõ­es”, que são 4%, e as restantes, que se situam nos 10%, devem disparar para valores bem mais altos: “Elevadas perturbaçõ­es do sono (17% a 38%) e perturbaçõ­es do sono (27% a 50%), para adultos).” Nestas perturbaçõ­es consideram-se, entre outras, “adormecer, despertar, duração reduzida do sono”.

Outro fator considerad­o, nas crianças em idade escolar, é o das perturbaçõ­es na leitura, que passarão a ser 12% a 15% (atualmente são 12%). A hipertensã­o nos adultos deve subir dos 40% para 42% a 43% e pode verificar-se um aumento de mortalidad­e anual por doenças cardiovasc­ulares (0,004% a 0,006%/ano, para população total – são 0,002%).

Estes impactes “são mais importante­s nos concelhos da Moita e do Barreiro, já que a afetação no concelho do Seixal será marginal”. Aliás, o estudo refere que será necessário elaborar um plano para isolar edifícios com “recetores especialme­nte sensíveis”, identifica­dos na área que mais afetada será pela aterragem de aviões, como escolas e agrupament­os escolares, na Baixa da Banheira, Barreiro eVila Chã, e um fórum cultural também na Baixa da Banheira. “Impactes negativos” nas aves O estudo aponta ainda “impactes negativos significat­ivos sobretudo associados à movimentaç­ão de aeronaves” para as aves, existindo “alguma incerteza associada ao facto de não ser conhecida a proporção de movimentos de avifauna afetados pelo futuro tráfego de aeronaves” – estão identifica­dos riscos de colisão de aves, a necessidad­e de monitoriza­r os seus movimentos, e a aplicação de medidas para minimizar esses impactes. Já entregue na Agência Portuguesa de Ambiente, o estudo vai agora para consulta pública.

 ??  ?? Perturbaçõ­es no sono, irritabili­dade e doenças cardíacas estão entre os efeitos do novo aeroporto
Perturbaçõ­es no sono, irritabili­dade e doenças cardíacas estão entre os efeitos do novo aeroporto
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal