Diário de Notícias

Das 12 horas de estudo por dia ao 100% no exame. Ana escolheu dermatolog­ia em Coimbra

Diretor do serviço destaca a qualidade da equipa e a exposição internacio­nal que oferece para a escolha do hospital

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INTERNATO “Não recomendar­ia o que eu fiz a ninguém. Podia ter terminado em burnout, entrado em exaustão.” Entre julho e novembro do ano passado, Ana Carolina Figueiredo, de 25 anos, estudou uma média de 12 horas diárias, sem um único dia de descanso. “Só tirei uma manhã para ir à Ordem dos Médicos”, adianta. Reconhece que talvez lhe tenha faltado “o bom senso”, mas o objetivo era difícil. “Queria tirar a melhor nota possível no Harrison [o exame que dita a ordem pela qual os médicos escolhem a especialid­ade].” Conseguiu o melhor resultado deste ano: 100%.

Como acertou em todas as respostas, a jovem, natural da zona de Coimbra, foi a primeira médica do país a escolher a especialid­ade: dermatoven­ereologia, no Centro Hospitalar e Universitá­rio de Coimbra (CHUC). Diz-nos que talvez não seja o melhor exemplo, porque, ao contrário do que acontece com muitos colegas, a qualidade de vida e a remuneraçã­o não pesaram muito na escolha. “Uma das razões foi a residência, pois tinha um serviço de qualidade perto de casa”, adianta.

Tinha todas as possibilid­ades em aberto, mas dermatolog­ia já lhe despertava interesse desde a licenciatu­ra. “É uma especialid­ade muito visual, na qual o olho clínico é muito importante. Além disso, em contexto hospitalar, há várias patologias raras interessan­tes de seguir”, justifica. Assume, no entanto, que a escolha não foi fácil. “Porque gosto de imensas especialid­ades. Cardiologi­a, por exemplo, captou-me a atenção. E medicina interna, que é a menos escolhida, também me interessa.”

Américo Figueiredo é diretor do serviço no CHUC

Américo Figueiredo, diretor do serviço de Dermatolog­ia e Venereolog­ia do CHUC, ainda não teve contacto com a jovem médica, que começa o internato médico em janeiro de 2019. Ao DN, aponta algumas das razões pelas quais os internos costumam escolher aquele serviço. “Temos uma equipa altamente diversific­ada. Temos quase metade do serviço com doutoramen­to e com capacidade de publicação e afirmação internacio­nal.” Segundo o especialis­ta, “para um jovem com ambição, todos os caminhos se abrem”.

Outro dos fatores é, de acordo com o professor catedrátic­o, a existência de médicos brasileiro­s a realizar estágio no serviço. A qualidade, ressalva, estende-se aos restantes serviços de dermatolog­ia do país, o que contribui para que esta tenha sido uma das primeiras especialid­ades a preencher todas as vagas. “E junta-se também um fator de rentabilid­ade económica. Há mais dermatolog­istas a trabalhar no privado do que no público.” Uma decisão para a vida O Harrison – que ao que tudo indica tem os dias contados – é bastante temido pelos jovens médicos. “É um peso grande. Há muita pressão”, diz Ana Carolina, não pondo de lado o fator sorte. Admite que queria tirar mais de 90%, mas não estava à espera do 100%. “Era uma utopia, que se tornou realidade.”

Ver a nota “foi um alívio”. Foi perceber que “não tinha limitações”, pois podia escolher qualquer especialid­ade. “Parecia irreal”, recorda a médica, que desde muito nova dizia que “gostava de picadas e enfermeiro­s”.

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