MÚSICA CLÁSSICA NO VERÃO, DA PÓVOA ATÉ MARVÃO
Portugal também apresenta uma boa oferta de festivais de música clássica no verão, a exemplo de muitos países europeus, e quase todos acontecem em julho. Um roteiro pelos principais eventos nacionais – e estrangeiros – a não perder
CComeçamos pelo festival de música clássica mais “apressado”, também o que divide o estatuto de “mais antigo” junto com o do Estoril (ambos na 44ª edição): o Festival de Espinho. Este iniciou-se a 22 do corrente com o agrupamento La Voce Strumentale, criado em 2011 pelo talentoso e multifacetado Dmitry Sinkovsky. A programação decorre até dia 21 de julho e contempla mais uma dezena de concertos, de que podemos destacar: agrupamento Il Pomo d’Oro, com o violoncelista Edgar Moreau (dia 6), um quinteto de jazz mais o clarinetista/saxofonista Michel Portal (dia 13), ou dois concertos de Hermeto Pascoal (dias 15 e 16). O concerto final terá por solista Mário Laginha.
O segundo a arrancar é o Cistermúsica, que tem por centro Alcobaça e o seu mosteiro. A 26.ª edição abre a 29 do corrente e vai até 29 do seguinte. A primeira noite é com o clássico The Kid, de Chaplin, com música ao vivo. Um primeiro ponto alto acontece a 1, com o Ensemble Gilles Binchois, para, cinco dias depois, ser a vez do Quarteto Casals. Dia 22, concerto da Athens State Orchestra, tendo por solista Horácio Ferreira (clarinete).
A 1 de julho começa o Festival Estoril Lisboa, com 20 concertos até dia 28, mais conferências, Concurso de Interpretação do Estoril, Festival Jovem e os 54.ºs Cursos Internacionais de Música. Deixamos alguns destaques: o clássico do mudo Jeanne d’Arc, de Dreyer, com órgão ao vivo (dia 4, Sé); a estreia do Requiem pela Aurora de Amanhã, de João Madureira, sobre texto de José Tolentino Mendonça (dia 19, Jerónimos); concerto da Orquestra Estatal de Atenas (dia 24, Jerónimos); estreia do Te Deum em Louvor da Paz, de Eurico Carrapatoso (dia 25, São Roque); recital de Alexander Ghindin (dia 27, Palácio da Ajuda) e um tributo a Leonard Bernstein no encerramento pelo Face à Face Quartet (Museu do Oriente).
A 6 de julho começam dois festivais: em Lisboa, o Ao Largo, frente ao Teatro São Carlos; a norte, o Festival da Póvoa de Varzim. E ambos têm em 2018 razões para festejar: o Ao Largo chega à 10.ª edição e o da Póvoa à 40ª.
No Chiado, o programa vai até dia 28 e inclui 15 eventos no total (sempre às 21.30, exceto o bailado). A abertura faz-se em grande, com os Carmina Burana, de Orff (dias 6 e 7). Apelo garantido têm também as designadas Noites Russas, a 20 e 21, com Sinfónica Portuguesa e Coro do Teatro dirigidos por Emil Tabakov; bem como o concerto da Orquestra do Conservatório do Montijo, que desfiará um alinhamento de valsas, canções napolitanas e célebres árias de ópera. Pelo meio, o Coro Juvenil de Lisboa canta Do Rio à Broadway. Este ano há também jazz, com a big band L.U.M.E., do pianista e compositor Marco Barroso (dia 19).
O fecho, como já é de tradição, faz-se com a Companhia Nacional de Bailado (dias 26 a 28, sempre às 22.00), num espetáculo que aborda o clássico, o moderno e o contemporâneo.
Na Póvoa, os 40 anos motivaram uma edição especial, com 15 concertos mais a habitual conferência por RuiVieira Nery, a que se juntam eventos paralelos (masterclasses, exposições, recitais de estudantes, concerto coral), de 6 a 28. Abertura com Jordi Savall + Hespérion XXI, mais os mexicanos Tembembe Ensamble (dia 7); o Ensemble Vox Luminis de Lionel Meunier (dia 8); um grupo de câmara liderado pela excecional violinista alemã Isabelle Faust (dia 14); dois excelentes grupos italianos: o Ensemble Zefiro, de Alfredo Bernardini (dia 15) e o Concerto Italiano, de Rinaldo Alessandrini (dia 21); ainda um recital do pianista russo Arcadi Volodos (dia 25) e concerto de encerramento com participação do ótimo Coro Arsys Bourgogne, mais a Pulcinellla Orchestra. Referência ainda a um concerto da Sinfónica do Porto, tendo por solista Raúl da Costa (dia 20).
Uma semana depois, começa em Coimbra o Festival das Artes, que tem por sede a Quinta das Lágrimas. Também ele na 10ª edição, o FdA prolonga-se até dia 22 e tem este ano por mote Amores & Desamores. Sendo um festival multidisciplinar, haverá diariamente um espetáculo musical, sendo que o concerto de abertura caberá à Orquestra Filarmónica Portuguesa e o de encerramento à Orquestra Metropolitana
“O mais jovem entre os grandes festivais é o de Marvão, que surgiu em 2014 e este ano terá a sua quinta edição
de Lisboa. Pelo meio, há o consort Sete Lágrimas (dia 14), uma noite de fados (dia 20), um cinema drive-in com – centenário de Bernstein oblige –o West Side Story (dia 16) e o bailado Murmúrios de Pedro e Inês (dia 21).
Em último, o mais jovem entre os grandes festivais: o de Marvão. Em 2018 na sua 5.ª edição, o festival “inventado” em 2014 pelo maestro alemão Christoph Poppen decorre este ano de 20 a 29 de julho, quer em vários espaços da vila acastelada quer na região circundante, com extensões a Portalegre, Castelo de Vide e Valência de Alcântara. Ao longo de dez dias, são mais de 30 os concertos em programa, tornando este no maior festival do género no nosso país. A programação inicial contempla dois concertos da Orquestra Estatal de Atenas (toca depois em Alcobaça e em Lisboa, ver acima) no cenário do Pátio do Castelo, dias 20 e 21, com dois programas e solistas diferentes – no primeiro, a notável violinista Veronika Eberle. Mas logo na primeira noite, e num registo totalmente diferente, há um recital a solo do jovem virtuoso do acordeão João Barradas noutro espaço bem peculiar: a Cisterna do Castelo. O mesmo espaço recebe na noite seguinte um serão de fados com Rodrigo Costa Félix, acompanhado por Mário Pacheco.
Outros pontos altos da programação incluem o Requiem, de Mozart, pelo Coro Gulbenkian e Orquestra de Câmara de Colónia (dias 25 e 26), um piquenique com o Grupo de Cante Bafos de Baco e as Adufeiras de Idanha-a-Nova (dia 27), uma rara reunião dos quatro elementos do ex-Hilliard Ensemble (dia 28), a estreia em Portugal da jovem estrela do piano alemão Joseph Moog (dia 21) ou outra reunião: a de António-Victorino d’Almeida com a chansonnière austríaca Erika Pluhar, reeditando uma história de encontros musicais com quase meio século (dia 24).
Quem acompanha estas coisas, terá decerto notado neste artigo a ausência de um “histórico”: o Festival de Sintra. A razão é bem simples: em 2018, ele realiza-se entre o final de setembro e outubro.